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OPERAÇÃO ANACONDA
Aloízio Rodrigues, suspeito de quebra de sigilo em um inquérito, está trabalhando na Delegacia Fazendária
Delegado da PF acusado continua na ativa
RUBENS VALENTE
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O delegado da Polícia Federal
Aloízio Rodrigues, acusado pelo
Ministério Público Federal de
quebra de sigilo em um inquérito
que investiga o desvio de US$ 58
milhões (cerca de R$ 170 milhões), continua trabalhando na
Delegacia Fazendária do órgão.
A suposta quebra de sigilo foi
flagrada por gravações da Operação Anaconda. Além disso, uma
moto de Rodrigues foi achada na
casa do agente federal César Herman Rodriguez, acusado de integrar a suposta quadrilha.
O delegado informou ontem,
por meio da assessoria da PF, que
não daria entrevistas.
O superintendente da PF em
São Paulo, Francisco Baltazar da
Silva, disse à Folha que não foi informado sobre a ação: "Não estou
protegendo ninguém, mas não
posso afastar delegado por notícia
de jornal". Segundo ele, a suposta
quebra de sigilo é uma irregularidade administrativa e pode ser
uma "transgressão penal". Diz
que enviará o caso à corregedoria
assim que receber documentos.
O Ministério Público Federal
abriu uma ação civil anteontem
contra 17 pessoas e duas empresas, entre os quais quatro juízes
federais e três delegados da PF.
Eles são acusados de enriquecimento ilícito em uma causa cujo
valor atribuído pelos procuradores é de R$ 30 milhões.
O delegado Rodrigues é acusado de quebrar o sigilo do inquérito em que investigava o desvio de
US$ 58 milhões do Funcef, o fundo de previdência da Caixa Econômica Federal, com patrimônio
de R$ 14 bilhões e 77 mil filiados.
Quem solicita as informações
ao delegado, em setembro de
2002, é o agente Herman. Na gravação, ele oferece uma "notinha"
e um "presente" ao escrivão lotado na delegacia de Rodrigues.
O agente sugere na gravação
que o vazamento seria do interesse da campanha do então candidato à Presidência Ciro Gomes.
"É coisa para fazer barulho",
diz, sobre o material que está pedindo. A frase foi interpretada como se o agente tivesse interesse
em usar o material do inquérito
na campanha eleitoral. Ciro, atual
ministro da Integração Nacional,
já declarou desconhecer o agente.
A Funcef, à época das supostas
irregularidades, tinha como diretor o petista Sérgio Nunes. O inquérito foi aberto a partir de denúncias em Brasília. Uma conversa grampeada fazia referência ao
ex-secretário-geral da Presidência
Eduardo Jorge Pereira. Ele disse
ontem que nunca foi ouvido sobre a Funcef, duvidou da existência do grampo e anunciou que está processando Ciro por danos
morais, por outras declarações.
O delegado Rodrigues não é o
único da PF de São Paulo que continua trabalhando depois de ter
seu nome associado ao grupo
acusado de venda de sentenças.
A PF liga, em relatório de sua
Diretoria de Inteligência Policial,
o codinome "Qüem Qüem" ao
delegado Eldo Saraiva Garcia
-que não deu entrevista à Folha.
"Qüem Quem" aparece num livro-caixa apreendido no escritório do advogado Affonso Passarelli Filho como beneficiário de um
pagamento de US$ 5.000. Garcia
dá pareceres no setor de correições e inquéritos da PF -ou seja,
julga e orienta outros delegados.
O superintendente da PF paulista não foi informado do início da
Operação Anaconda. A direção
da PF alegou que as informações
podiam vazar.
Dois delegados que ocupavam
cargos de chefia em São Paulo, José Bellini e Dirceu Bertin, são acusados de praticar irregularidades.
Bellini, ex-chefe do setor de passaportes, é acusado de integrar a
quadrilha e está preso; Bertin, ex-corregedor, teria protegido integrantes do grupo e é alvo da ação
por enriquecimento ilícito.
Silva diz ter afastado os dois dos
cargos, não da polícia. "Não sou
contra a Operação Anaconda,
mas sim contra a forma de execução. Ela é necessária e me ajuda."
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