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São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 2003

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OPERAÇÃO ANACONDA

Aloízio Rodrigues, suspeito de quebra de sigilo em um inquérito, está trabalhando na Delegacia Fazendária

Delegado da PF acusado continua na ativa

RUBENS VALENTE
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O delegado da Polícia Federal Aloízio Rodrigues, acusado pelo Ministério Público Federal de quebra de sigilo em um inquérito que investiga o desvio de US$ 58 milhões (cerca de R$ 170 milhões), continua trabalhando na Delegacia Fazendária do órgão.
A suposta quebra de sigilo foi flagrada por gravações da Operação Anaconda. Além disso, uma moto de Rodrigues foi achada na casa do agente federal César Herman Rodriguez, acusado de integrar a suposta quadrilha.
O delegado informou ontem, por meio da assessoria da PF, que não daria entrevistas.
O superintendente da PF em São Paulo, Francisco Baltazar da Silva, disse à Folha que não foi informado sobre a ação: "Não estou protegendo ninguém, mas não posso afastar delegado por notícia de jornal". Segundo ele, a suposta quebra de sigilo é uma irregularidade administrativa e pode ser uma "transgressão penal". Diz que enviará o caso à corregedoria assim que receber documentos.
O Ministério Público Federal abriu uma ação civil anteontem contra 17 pessoas e duas empresas, entre os quais quatro juízes federais e três delegados da PF. Eles são acusados de enriquecimento ilícito em uma causa cujo valor atribuído pelos procuradores é de R$ 30 milhões.
O delegado Rodrigues é acusado de quebrar o sigilo do inquérito em que investigava o desvio de US$ 58 milhões do Funcef, o fundo de previdência da Caixa Econômica Federal, com patrimônio de R$ 14 bilhões e 77 mil filiados.
Quem solicita as informações ao delegado, em setembro de 2002, é o agente Herman. Na gravação, ele oferece uma "notinha" e um "presente" ao escrivão lotado na delegacia de Rodrigues.
O agente sugere na gravação que o vazamento seria do interesse da campanha do então candidato à Presidência Ciro Gomes.
"É coisa para fazer barulho", diz, sobre o material que está pedindo. A frase foi interpretada como se o agente tivesse interesse em usar o material do inquérito na campanha eleitoral. Ciro, atual ministro da Integração Nacional, já declarou desconhecer o agente.
A Funcef, à época das supostas irregularidades, tinha como diretor o petista Sérgio Nunes. O inquérito foi aberto a partir de denúncias em Brasília. Uma conversa grampeada fazia referência ao ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge Pereira. Ele disse ontem que nunca foi ouvido sobre a Funcef, duvidou da existência do grampo e anunciou que está processando Ciro por danos morais, por outras declarações.
O delegado Rodrigues não é o único da PF de São Paulo que continua trabalhando depois de ter seu nome associado ao grupo acusado de venda de sentenças.
A PF liga, em relatório de sua Diretoria de Inteligência Policial, o codinome "Qüem Qüem" ao delegado Eldo Saraiva Garcia -que não deu entrevista à Folha.
"Qüem Quem" aparece num livro-caixa apreendido no escritório do advogado Affonso Passarelli Filho como beneficiário de um pagamento de US$ 5.000. Garcia dá pareceres no setor de correições e inquéritos da PF -ou seja, julga e orienta outros delegados.
O superintendente da PF paulista não foi informado do início da Operação Anaconda. A direção da PF alegou que as informações podiam vazar.
Dois delegados que ocupavam cargos de chefia em São Paulo, José Bellini e Dirceu Bertin, são acusados de praticar irregularidades. Bellini, ex-chefe do setor de passaportes, é acusado de integrar a quadrilha e está preso; Bertin, ex-corregedor, teria protegido integrantes do grupo e é alvo da ação por enriquecimento ilícito.
Silva diz ter afastado os dois dos cargos, não da polícia. "Não sou contra a Operação Anaconda, mas sim contra a forma de execução. Ela é necessária e me ajuda."


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