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São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 2003

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LÁGRIMAS E FÉ

Parlamentares do PT assinam manifesto e dizem ter esperança de que Lula intervenha no processo

Música e choro marcam ato pró-radicais

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Manifesto, apelos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ameaças ao partido, música, MST, poesia e distribuição de autógrafos deram o tom do ato realizado ontem por deputados e senadores, na Câmara, contra a esperada expulsão dos chamados radicais do PT: a senadora Heloísa Helena (AL) e os deputados Babá (PA), Luciana Genro (RS) e João Fontes (SE), cujo destino será decidido em reunião do Diretório Nacional marcada para domingo.
Não faltou o choro da senadora, acompanhado pelas lágrimas da sem-terra Diolinda Alves de Souza, mulher de José Rainha Jr., líder do MST no Pontal do Paranapanema: "Se for expulsa, Helô, vá para o movimento. O MST está de portas abertas".
Manifesto assinado por 34 deputados e cinco senadores, mais do que um terço das bancadas petistas nas duas Casas, afirma: "O segundo ano de nosso governo precisa começar bem, sem divergências cristalizadas em dissidências e sem medidas extremas como expulsões, sobretudo quando derivadas de questões que dividiram a sociedade e o próprio partido".
A Comissão de Ética do PT abriu processo contra os parlamentares devido à sistemática oposição ao governo, mas a gota d'água foram os votos contrários à reforma da Previdência.
Os parlamentares ainda têm a esperança da intervenção do presidente Lula para evitar a expulsão. "Se o presidente Lula pede a paz até entre judeus e palestinos, propõe a paz até para quem mata e dá tiros entre entes queridos, será que não é capaz de perdoar Heloísa, só porque às vezes, com seu jeito entusiasmado, diz palavras ásperas, que incomodam o fígado de nossos ministros?", questionou o senador Eduardo Suplicy (PT-SP).
O deputado Walter Pinheiro (PT-BA) falou em aprofundamento da crise. "Vai ficar muito pior se punir [radicais] e lá na frente descobrir que figuras que acabaram de entrar no partido estão comprometidas em sua postura ética", disse em referência ao governador de Roraima, o neopetista Flamarion Portela. Ele era vice do governador Neudo Campos (PP), acusado de desvio de dinheiro no Estado.
No encerramento, deputados e senadores entoaram, acompanhados por um violão, "Para Não Dizer Que Não Falei de Flores", de Geraldo Vandré, hino das manifestações contra o regime militar. Antes, haviam cantado "Comunhão", das comunidades eclesiais de base, e "Maria, Maria", de Milton Nascimento.
Dezenas de pessoas que acompanhavam o ato, realizado no Salão Verde, hall de entrada do plenário, cercaram Helena, que distribuiu autógrafos. Um grupo de estudantes agarrou o senador Suplicy para tirar fotos.
As manifestação de apoio a Helena também aconteceram na Câmara Municipal de São Paulo, onde a senadora tem o apoio da maioria da bancada de vereadores do PT. Um abaixo-assinado coordenado pelo vereador Odilon Guedes (PT) obteve a assinatura de nove dos 18 integrantes da bancada petista. Além deles, Carlos Neder (PT) já havia encaminhado um documento à Executiva Nacional do partido contra a saída da senadora.


Colaborou PEDRO DIAS LEITE, da Reportagem Local

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