São Paulo, domingo, 12 de dezembro de 2004

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REVOLTA NA BASE

Oposicionistas querem que convenção dê prazo para ministros pedirem demissão; Justiça nega liminar a governistas

PMDB decide hoje se vai deixar o governo

FERNANDO RODRIGUES
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PMDB faz hoje uma convenção nacional extraordinária para decidir se deve ou não entregar os cargos que ocupa no governo Lula. O desfecho previsto pelos organizadores é que seja aprovado o afastamento e fixado um prazo, de 15 a 30 dias, para que os ministros peçam demissão.
A ala governista sofreu ontem sua segunda derrota nesta semana. O juiz Luiz Carlos de Miranda, da primeira instância, em Brasília, negou o pedido de cancelamento da convenção.
"Não houve derrota de ninguém, a grande vitória é do PMDB, que quer fazer um projeto para o país. Eu conclamo que todos compareçam [hoje] para fazermos um grande debate", diz o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP).
O senador Pedro Simon (RS) formalizou o pedido de afastamento dos peemedebistas que não entregarem os cargos. O requerimento será votado hoje. "Não estamos falando em expulsão e sim em afastamento", disse.
Segundo Temer, a convenção pode fixar um prazo para que suas determinações sejam cumpridas. "Isso ainda não está definido, mas será algo razoável, como 15 ou 30 dias", afirma.
Os governistas já avisaram que não devem entregar seus cargos. "Qualquer deliberação que a convenção tome vai acabar dividindo ainda mais o partido. Por isso lutamos pelo adiamento", diz o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), um dos comandantes da ala governista.
Na prática, a convenção formalizará um racha na sigla, já tradicionalmente fragmentada. O grupo liderado por Temer tem o reforço de vários governadores.
Do lado governista, a principal força são as bancadas na Câmara e no Senado. Dos 22 senadores peemedebistas, 20 são pela permanência da sigla no governo. Entre os 76 deputados federais, 46 querem ficar com o Planalto.
O PMDB tem hoje dois ministros, Eunício Oliveira (Comunicações) e Amir Lando (Previdência). Pleiteia mais uma vaga ou, pelo menos, trocar uma das pastas por outra com mais verbas.
Votam na convenção de hoje 519 pessoas. O quórum mínimo é de 260 (50% mais um). Como alguns convencionais têm direito a mais de um voto, o total a ser apurado pode chegar a 708.
A cédula da convenção terá três itens principais: 1) lançar candidato próprio a presidente da República em 2006. Se aprovada, decisão só poderá ser revogada por outra convenção, com quórum de dois terços; 2) entregar os cargos que o PMDB ocupa no governo e 3) mudar a sigla para MDB.
Embora a entrega dos cargos seja um problema mais urgente, a decisão sobre ter candidato próprio a presidente atrapalha os planos de Lula. O petista deseja o PMDB na sua coligação em 2006.
Ontem, o ministro José Dirceu (Casa Civil) disse que o governo "tem identidade programática" com os peemedebistas e que "não há nenhuma razão para o PMDB não apoiar e não participar" da gestão de Lula.
"Tenho certeza de que o governo tem governabilidade, maioria no Congresso. Se tem partido que tem identidade programática com o governo do presidente Lula historicamente é o PMDB", afirmou Dirceu, na entrevista do último dia da reunião ministerial.
Ao ser indagado sobre o PMDB, Dirceu tentou evitar uma resposta alegando que depois é "cobrado por aquilo que não sou responsável, que é a articulação política". Nos bastidores, Dirceu joga ao lado de alguns oposicionistas para enfraquecer o ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política)


Colaborou Fernanda Krakovics, da Sucursal de Brasília

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