São Paulo, sábado, 12 de dezembro de 1998

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ESCUTA ILEGAL
"Telmo" é investigado pela PF como possível autor das gravações de conversas telefônicas no BNDES
Ex-agente do SNI nega ter feito grampo

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Agente da |Polícia Federal mostra as fitas e as malas apreendidas com o coronel da aeronáutica Eudo Santos Costa.


FERNANDA DA ESCÓSSIA
MÁRIO MAGALHÃES
da Sucursal do Rio


O ex-agente do SNI (Serviço Nacional de Informações) investigado pela Polícia Federal como um dos principais suspeitos de ter executado a escuta telefônica no BNDES negou à Folha ser o autor do grampo.
"Não tenho nada a ver com isso, não tenho a menor noção do que está se passando e não trabalho nesse tipo de coisa", afirmou Temílson Antônio Barreto de Resende, 47, conhecido como "Telmo", "Barreto" e "Roberto" na comunidade de informações do governo.
Por telefone, de sua casa, no bairro da Freguesia (zona oeste do Rio), Resende condenou a busca dos responsáveis pelo grampo.
"Estão preocupados em saber quem poderia ter feito esse tipo de coisa, mas não estão preocupados em saber se o conteúdo daquele material tem veracidade ou não."
O ex-agente do extinto SNI negou ter conhecimento técnico para realizar escutas telefônicas. "Não conheço telefonia", disse. A Folha apurou que, na verdade, o que ocorre é o contrário.
Detetives particulares disseram, com a condição de não ter seus nomes revelados, que "Telmo" trabalha em escuta clandestina.
Para um delegado da PF em Brasília, o grampo no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), pela sofisticação, tem a grife de Resende.
Para a PF, o ex-agente do SNI é o maior especialista do país em grampo. Neste ano, teria oferecido seus serviços a empresários interessados na privatização de empresas estatais. A Folha apurou que o delegado que apura o caso, Rubens Grandini, já foi informado sobre o nome real de "Telmo".
Grandini, para evitar ser grampeado, trata dos pontos mais importantes da investigação só pessoalmente ou por orelhões.
A história profissional de Resende é ligada a áreas em que o grampo é fartamente utilizado.
Ele afirma ter trabalhado sempre no Rio, desde que entrou no serviço público, em 1974.
Com a extinção do SNI, em 1990, foi transferido para a SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), onde até 1992 chefiou, conforme seu relato à Justiça em 1995, a seção de Contra-Espionagem.
Em julho de 1992, Resende foi trabalhar com o delegado Edson de Oliveira, da Polícia Federal, na segurança de personalidades presentes na conferência Eco-92.
Sua atividade na PF lhe valeu uma investigação reservada na corporação, por suspeita de enriquecimento ilícito.
A Folha obteve cópia de um relatório de 1993 com o carimbo de "secreto", destinado ao Centro de Inteligência da PF.
Segundo o agente que, em código, assina o documento, "Temílson tem uma despesa muito acima do seu ganho declarado".
Em 1994, o nome "Telmo" apareceu dez vezes nos cadernos da cúpula do jogo do bicho do Rio que registravam, também, pagamento de propinas a policiais.
Pelas anotações, "Telmo" seria "apanhador", ou seja, o responsável, conforme interpretação do Ministério Público, por receber dinheiro destinado a Oliveira.
Ambos foram processados, sob acusação de corrupção passiva -pena de um a oito anos de prisão. Ainda não há decisão judicial.
O ex-agente do SNI ficou na PF até novembro de 1992. Hoje, ainda é funcionário público, mas não quis dizer onde trabalha.
˛


Colaborou Luiz Antônio Ryff, da Sucursal do Rio




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