São Paulo, domingo, 13 de janeiro de 2002

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2002 SEM RUMO

Ministro da Saúde apareceu 15 vezes em redes de rádio e TV em 2001 e, só em dezembro, visitou 9 Estados

Serra usa ministério como escada eleitoral

RAYMUNDO COSTA
ANDREA MICHAEL


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em três anos, nove meses e duas semanas, José Serra fez do Ministério da Saúde a ante-sala de sua candidatura presidencial. Nenhum outro ministro apareceu tanto como ele em redes nacionais e regionais de rádio e TV.
Só em 2001, foram 15 vezes. E raro foi o fim de semana em que ele não se dedicou a uma maratona de viagens para inaugurações de obras, assinatura de convênios e lançamento de programas.
Em dezembro passado, Serra fez nove viagens. Inaugurou um hospital em Foz do Iguaçu (PR) e um centro de radioterapia em Chapecó (SC). Assinou convênios e inaugurou laboratórios em Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe. Visitou Amazonas e Tocantins e encontrou tempo para inaugurações em Minas e no Rio.
Pura rotina. Em dezembro de 2000, Serra viajou até mais: foram 11, contra as nove do ano passado, sem contar São Paulo, onde costuma passar o fim de semana.
As viagens, quase sempre feitas nos antigos e desconfortáveis jatinhos HS da FAB, assim como o uso intensivo do rádio e TV, fazem parte de uma estratégia bem delineada: associar o nome de Serra às mudanças que tentou imprimir no Ministério da Saúde, a exemplo do que Fernando Henrique Cardoso fez com o Real.
Aparentemente, deu certo: Serra deixará a pasta como um dos ministros mais bem avaliados do governo. A regra, na Saúde, tem sido outra. O mitológico Oswaldo Cruz, ministro entre 1902 e 1909, enfrentou a revolta da população ao tentar promover uma campanha de vacinação contra a varíola.
O problema, para Serra, é transformar essa avaliação positiva em índices mais robustos nas pesquisas. O ministro coleciona cadernos com as informações brutas de pesquisas, entre as quais a do Datafolha, cuja última edição deu a ele 7% das preferências, contra 21% de Roseana Sarney (PFL).
O consolo, para o ministro, é a avaliação segundo a qual os 7% de que dispõe estariam consolidados. São dele, fruto de uma exposição intensiva que o transformou no campeão das redes de rádio e TV. Com suas 15 aparições em 2001, Serra ganhou de FHC, que usou rede nacional oito vezes, e do ministro Paulo Renato Souza (Educação), o dono do segundo lugar (nove pronunciamentos).
Em tom didático, Serra marcou presença no vídeo e no rádio falando sobre medicamentos genéricos, vacinação de idosos e crianças, Aids, diabetes e dengue.
Efeito colateral: pesquisas qualitativas revelam que sua imagem está ligada aos genéricos, às campanhas de vacinação e ao sucesso do Brasil no combate à Aids. Essas mesmas pesquisas mostram que os eleitores acham que Serra é médico, querem que ele continue no Ministério da Saúde e desconhecem sua experiência política -principalmente a população de baixa renda e escolaridade.
Não é à toa que Serra tenta ampliar seu conhecimento junto a essa faixa de público comparecendo a programas populares como o "Domingo Legal", do SBT, de Gugu Liberato, amigo do ministro, e o programa do Ratinho, da mesma emissora. Após muita insistência de sua assessoria, Serra conseguiu figurar entre os convidados da apresentadora Hebe Camargo, malufista convicta.
Com a maior verba publicitária da Esplanada (investiu R$ 63,6 milhões em 2001), o trabalho de quatro agências de publicidade e o empenho de 15 profissionais de sua assessoria, Serra conseguiu comandar o noticiário: em vez de denúncias em corredores de hospitais, imagens comuns quando ele chegou ao ministério, em março de 98, veiculavam-se providências tomadas e novos programas.
Os principais feitos do ministro e do ministério são divulgados por e-mail pela Agência Saúde. Quando a idéia é falar com os 6.500 hospitais do Sistema Único de Saúde, há dois veículos impressos: Saúde Brasil e Saúde Informe. Juntos somam 15 mil exemplares mensais, elaborados sempre com a preocupação de não soar como panfleto eleitoral.
Nas viagens a trabalho, Serra evita falar de política. Poderia caracterizar uso da máquina. Mas em muitas o clima é de palanque. Entre inaugurações e assinaturas de convênios, achou tempo para ser paraninfo de uma turma de formandos do Curso Internacional de Técnicos de Órteses e Próteses, em SP. Típico de candidato.
Serra tem prazo até abril para deixar o governo, mas deve sair em fevereiro. Antes de sair do ministério, o ministro pretende ainda inaugurar um hospital no Rio. Pelo menos na Saúde, Serra parece ter encerrado de vez com a temporada em que manifestantes armados com ovos o espreitaram por duas cidades brasileiras.


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