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2002 SEM RUMO
Ministro da Saúde apareceu 15 vezes em redes de rádio e TV em 2001 e, só em dezembro, visitou 9 Estados
Serra usa ministério como escada eleitoral
RAYMUNDO COSTA
ANDREA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em três anos, nove meses e duas
semanas, José Serra fez do Ministério da Saúde a ante-sala de sua
candidatura presidencial. Nenhum outro ministro apareceu
tanto como ele em redes nacionais e regionais de rádio e TV.
Só em 2001, foram 15 vezes. E raro foi o fim de semana em que ele
não se dedicou a uma maratona
de viagens para inaugurações de
obras, assinatura de convênios e
lançamento de programas.
Em dezembro passado, Serra
fez nove viagens. Inaugurou um
hospital em Foz do Iguaçu (PR) e
um centro de radioterapia em
Chapecó (SC). Assinou convênios
e inaugurou laboratórios em Pernambuco, Rio Grande do Norte e
Sergipe. Visitou Amazonas e Tocantins e encontrou tempo para
inaugurações em Minas e no Rio.
Pura rotina. Em dezembro de
2000, Serra viajou até mais: foram
11, contra as nove do ano passado,
sem contar São Paulo, onde costuma passar o fim de semana.
As viagens, quase sempre feitas
nos antigos e desconfortáveis jatinhos HS da FAB, assim como o
uso intensivo do rádio e TV, fazem parte de uma estratégia bem
delineada: associar o nome de
Serra às mudanças que tentou imprimir no Ministério da Saúde, a
exemplo do que Fernando Henrique Cardoso fez com o Real.
Aparentemente, deu certo: Serra deixará a pasta como um dos
ministros mais bem avaliados do
governo. A regra, na Saúde, tem
sido outra. O mitológico Oswaldo
Cruz, ministro entre 1902 e 1909,
enfrentou a revolta da população
ao tentar promover uma campanha de vacinação contra a varíola.
O problema, para Serra, é transformar essa avaliação positiva em
índices mais robustos nas pesquisas. O ministro coleciona cadernos com as informações brutas de
pesquisas, entre as quais a do Datafolha, cuja última edição deu a
ele 7% das preferências, contra
21% de Roseana Sarney (PFL).
O consolo, para o ministro, é a
avaliação segundo a qual os 7% de
que dispõe estariam consolidados. São dele, fruto de uma exposição intensiva que o transformou
no campeão das redes de rádio e
TV. Com suas 15 aparições em
2001, Serra ganhou de FHC, que
usou rede nacional oito vezes, e
do ministro Paulo Renato Souza
(Educação), o dono do segundo
lugar (nove pronunciamentos).
Em tom didático, Serra marcou
presença no vídeo e no rádio falando sobre medicamentos genéricos, vacinação de idosos e crianças, Aids, diabetes e dengue.
Efeito colateral: pesquisas qualitativas revelam que sua imagem
está ligada aos genéricos, às campanhas de vacinação e ao sucesso
do Brasil no combate à Aids. Essas
mesmas pesquisas mostram que
os eleitores acham que Serra é
médico, querem que ele continue
no Ministério da Saúde e desconhecem sua experiência política
-principalmente a população de
baixa renda e escolaridade.
Não é à toa que Serra tenta ampliar seu conhecimento junto a
essa faixa de público comparecendo a programas populares como o "Domingo Legal", do SBT,
de Gugu Liberato, amigo do ministro, e o programa do Ratinho,
da mesma emissora. Após muita
insistência de sua assessoria, Serra conseguiu figurar entre os convidados da apresentadora Hebe
Camargo, malufista convicta.
Com a maior verba publicitária
da Esplanada (investiu R$ 63,6
milhões em 2001), o trabalho de
quatro agências de publicidade e
o empenho de 15 profissionais de
sua assessoria, Serra conseguiu
comandar o noticiário: em vez de
denúncias em corredores de hospitais, imagens comuns quando
ele chegou ao ministério, em março de 98, veiculavam-se providências tomadas e novos programas.
Os principais feitos do ministro
e do ministério são divulgados
por e-mail pela Agência Saúde.
Quando a idéia é falar com os
6.500 hospitais do Sistema Único
de Saúde, há dois veículos impressos: Saúde Brasil e Saúde Informe. Juntos somam 15 mil
exemplares mensais, elaborados
sempre com a preocupação de
não soar como panfleto eleitoral.
Nas viagens a trabalho, Serra
evita falar de política. Poderia caracterizar uso da máquina. Mas
em muitas o clima é de palanque.
Entre inaugurações e assinaturas
de convênios, achou tempo para
ser paraninfo de uma turma de
formandos do Curso Internacional de Técnicos de Órteses e Próteses, em SP. Típico de candidato.
Serra tem prazo até abril para
deixar o governo, mas deve sair
em fevereiro. Antes de sair do ministério, o ministro pretende ainda inaugurar um hospital no Rio.
Pelo menos na Saúde, Serra parece ter encerrado de vez com a
temporada em que manifestantes
armados com ovos o espreitaram
por duas cidades brasileiras.
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