São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Morre aos 69 o filósofo Bento Prado Jr.

Ensaísta, estudioso da psicanálise e poeta, intelectual sofria de câncer; universidade de São Carlos decreta luto de três dias

Professor da UFSCar e da USP, pensador escreveu tese pioneira sobre filósofo Henri Bergson e publicou primeiro livro apenas na década de 80


Caio Guatelli - 15.jun.2000/Folha Imagem
Bento Prado Jr., na biblioteca de sua casa, de gravata-borboleta, que usava com muita freqüência


DA REPORTAGEM LOCAL

Morreu na madrugada de ontem, por volta da 1h, o filósofo Bento Prado de Almeida Júnior, 69, um dos nomes mais importantes da disciplina no Brasil. Ele sofria de câncer na laringe havia quatro anos e estava internado na Santa Casa de Misericórdia de São Carlos, no interior de São Paulo.
O pensador foi enterrado na tarde de ontem no cemitério Nossa Senhora do Carmo, em São Carlos, e a reitoria da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), onde lecionava desde 1977, decretou luto oficial por três dias.
Prado Jr., ou Bento, como era chamado pelos amigos e colegas, não deixou que a doença afetasse seu trabalho: só interrompeu as atividades acadêmicas há dois meses. Sua obra, bastante eclética, pode ser dividida em pelo menos cinco grandes áreas de atuação: a história da filosofia, a filosofia da psicanálise, a filosofia da linguagem, a crítica literária e a poesia.
Além da erudição, a ironia e a elegância do estilo foram traços destacados desde cedo pelos colegas em Prado Jr. Muitos o têm como o maior ensaísta da filosofia brasileira.
Seus livros, porém, demoraram a aparecer. Vários escritos dormiram na gaveta por mais de 20 anos até a publicação de "Alguns Ensaios: Filosofia, Literatura e Psicanálise" (Paz e Terra), em 1985.
Sua tese de livre-docência, "Presença e Campo Transcendental: Consciência e Negatividade na Filosofia de Bergson" (Edusp, 1989), foi escrita e defendida 25 anos antes. É anterior ao clássico "Le Bergsonisme" (P.U.F.), que Gilles Deleuze publicou em 1966.
Num momento em que a França revaloriza o legado bergsoniano, "Presença e Campo Transcendental" ganhou versão francesa em 2002, com lançamento no Collège International de Philosophie.

"O Capital"
Antes disso, Prado Jr. foi um dos membros do famoso seminário sobre "O Capital", de Marx, que reuniu, a partir de 1958, nomes como Fernando Henrique Cardoso, José Arthur Giannotti, Paul Singer e Roberto Schwarz, entre outros.
Nascido em Jaú (SP), em 21 de agosto de 1937, cursou filosofia na USP de 56 a 59. Sua curiosidade intelectual, porém, vem de antes. Seu pai era filólogo e tradutor de literatura, além de ser, como dizia Prado Jr., "um grande leitor de Pascal", não por acaso um dos seus pensadores preferidos.
Tornou-se professor de história da filosofia na USP a partir de 1961, até ser cassado pelo regime militar, em 1969. Exilou-se na França. Lá escreveu um ensaio importante sobre a retórica de Rousseau.
Voltou ao Brasil em 1974. Em 77, foi convidado a trabalhar na UFSCar. Também foi colaborador de instituições como a Unicamp, a Unesp e a PUC. Em 1998, recebeu o título de professor emérito da USP.
Sua vida pública começou nos círculos literários da "boêmia intelectual" dos anos 50, quando freqüentava a Biblioteca Municipal e ficou amigo do sociólogo Maurício Tragtenberg e de diretores e atores como Manoel Carlos, Flávio Rangel e Fernanda Montenegro.


Texto Anterior: Presidência: Lula viaja para o Equador na segunda
Próximo Texto: Repercussão
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.