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Morre aos 69 o filósofo Bento Prado Jr.
Ensaísta, estudioso da psicanálise e poeta, intelectual sofria de câncer; universidade de São Carlos decreta luto de três dias
Professor da UFSCar e da USP, pensador escreveu tese pioneira sobre filósofo Henri Bergson e publicou primeiro livro apenas na década de 80
Caio Guatelli - 15.jun.2000/Folha Imagem
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Bento Prado Jr., na biblioteca de sua casa, de gravata-borboleta, que usava com muita freqüência |
DA REPORTAGEM LOCAL
Morreu na madrugada de ontem, por volta da 1h, o filósofo
Bento Prado de Almeida Júnior, 69, um dos nomes mais
importantes da disciplina no
Brasil. Ele sofria de câncer na
laringe havia quatro anos e estava internado na Santa Casa
de Misericórdia de São Carlos,
no interior de São Paulo.
O pensador foi enterrado na
tarde de ontem no cemitério
Nossa Senhora do Carmo, em
São Carlos, e a reitoria da UFSCar (Universidade Federal de
São Carlos), onde lecionava
desde 1977, decretou luto oficial por três dias.
Prado Jr., ou Bento, como era
chamado pelos amigos e colegas, não deixou que a doença
afetasse seu trabalho: só interrompeu as atividades acadêmicas há dois meses. Sua obra,
bastante eclética, pode ser dividida em pelo menos cinco grandes áreas de atuação: a história
da filosofia, a filosofia da psicanálise, a filosofia da linguagem,
a crítica literária e a poesia.
Além da erudição, a ironia e a
elegância do estilo foram traços
destacados desde cedo pelos
colegas em Prado Jr. Muitos o
têm como o maior ensaísta da
filosofia brasileira.
Seus livros, porém, demoraram a aparecer. Vários escritos
dormiram na gaveta por mais
de 20 anos até a publicação de
"Alguns Ensaios: Filosofia, Literatura e Psicanálise" (Paz e
Terra), em 1985.
Sua tese de livre-docência,
"Presença e Campo Transcendental: Consciência e Negatividade na Filosofia de Bergson"
(Edusp, 1989), foi escrita e defendida 25 anos antes. É anterior ao clássico "Le Bergsonisme" (P.U.F.), que Gilles Deleuze publicou em 1966.
Num momento em que a
França revaloriza o legado
bergsoniano, "Presença e Campo Transcendental" ganhou
versão francesa em 2002, com
lançamento no Collège International de Philosophie.
"O Capital"
Antes disso, Prado Jr. foi um
dos membros do famoso seminário sobre "O Capital", de
Marx, que reuniu, a partir de
1958, nomes como Fernando
Henrique Cardoso, José Arthur
Giannotti, Paul Singer e Roberto Schwarz, entre outros.
Nascido em Jaú (SP), em 21
de agosto de 1937, cursou filosofia na USP de 56 a 59. Sua curiosidade intelectual, porém,
vem de antes. Seu pai era filólogo e tradutor de literatura,
além de ser, como dizia Prado
Jr., "um grande leitor de Pascal", não por acaso um dos seus
pensadores preferidos.
Tornou-se professor de história da filosofia na USP a partir de 1961, até ser cassado pelo
regime militar, em 1969. Exilou-se na França. Lá escreveu
um ensaio importante sobre a
retórica de Rousseau.
Voltou ao Brasil em 1974. Em
77, foi convidado a trabalhar na
UFSCar. Também foi colaborador de instituições como a Unicamp, a Unesp e a PUC. Em
1998, recebeu o título de professor emérito da USP.
Sua vida pública começou
nos círculos literários da "boêmia intelectual" dos anos 50,
quando freqüentava a Biblioteca Municipal e ficou amigo do
sociólogo Maurício Tragtenberg e de diretores e atores como Manoel Carlos, Flávio Rangel e Fernanda Montenegro.
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