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São Paulo, quinta-feira, 13 de fevereiro de 2003

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TIROTEIO BAIANO

Relação foi entregue pelo presidente do TJ baiano a Thomaz Bastos; telefone de Benito Gama está na lista

Ministro recebe lista de 466 grampeados

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, Carlos Cintra, entregou ao ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) relação com os 466 telefones que foram grampeados a partir de pedido de quebra de sigilo feito pela Secretaria estadual da Segurança Pública.
A lista entregue ao ministro ontem está sendo investigada pela Polícia Civil da Bahia. A PF vai entrar no caso agora, por determinação expressa de Bastos.
Na lista de telefones, figuram os números do ex-deputado Benito Gama (PMDB-BA) e de sua filha, Taíssa Teixeira Santos.
Benito é adversário político do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), citado pelo deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) como responsável por outro grampo ilegal, sob investigação da Polícia Federal.
Segundo Taíssa, Benito começou a desconfiar da escuta quando recebeu uma ligação de um empresário oferecendo aluguel de dois carros para sua campanha. Menos de uma hora depois, um general da Casa Militar do governo baiano teria cobrado do empresário dois carros para a campanha eleitoral de ACM.
O telefone celular de Adriane Barreto, que era do círculo mais próximo ao senador, e de alguns familiares dela também estão na lista.
Cintra considerou "estranha" a quebra de tantos sigilos. Segundo ele, a justificativa da secretaria era a investigação de uma "quadrilha gigantesca" de sequestradores. O desembargador pediu que a PF apurasse o caso.
A PF abriu um inquérito na semana passada para investigar a fraude em um pedido de quebra de sigilo feito em 2002 pela polícia baiana à juíza de Itapetinga, Tereza Cristina, em que o telefone de Geddel foi incluído a caneta.
A Folha ligou para alguns dos telefones da lista. A maioria das pessoas afirmou desconhecer o grampo e demonstrou indignação com a informação da reportagem sobre o crime em apuração pela secretaria baiana. Ao menos três escritórios de advocacia e alguns advogados da área criminal de Salvador foram grampeados.
A mãe-de-santo Nadir Barbosa, moradora de Teodoro Sampaio, foi uma das que disse à Folha não saber da existência do grampo.
O delegado Valdir Barbosa, atual delegado-chefe da Polícia Civil da Bahia, assinou 380 dos 466 pedidos de quebra de sigilo telefônico. Os outros 86 foram feitos pela delegada Ângela de Sá Labanca, de acordo com a documentação obtida pela Folha.
Os pedidos de Barbosa foram feitos a partir de março de 2002, quando a polícia já havia prendido os principais suspeitos do sequestro em investigação.

Grampo a Geddel
O delegado Gesival Gomes, que investiga o grampo contra Geddel, vai ouvir os dois delegados nesta semana.
Segundo a assessoria de imprensa da PF, é "muito difícil" chegar ao mandante do crime. Para Gomes, ainda não é possível traçar um prognóstico.
Segundo a assessoria da PF, como a adulteração do pedido de grampo foi feita a caneta, é grande a possibilidade de responsabilizar apenas o delegado baiano Allan Farias, que assina o pedido.
Hoje, Gomes ouvirá o depoimento da juíza Tereza Cristina.
Segundo Gomes, ACM, considerado suspeito pelos deputados, não foi citado no inquérito aberto para investigar o grampo. Por isso, não se sabe se o senador será ouvido pela PF.


Colaborou JOSIAS DE SOUZA E ANA PAULA GRABOIS, da Sucursal de Brasília


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