São Paulo, segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Sonho e realidade

Longa reportagem do "Washington Post" de ontem, intitulada "Um sonho de gasoduto latino-americano", com direito a foto de Lula com Néstor Kirchner e Hugo Chávez, levantou as dificuldades à frente do que o venezuelano anunciou como "símbolo da influência decrescente nos EUA".
Entre outros "analistas" ouvidos, um membro do Inter-American Dialogue, americano, disse que a América Latina "caminha para a desintegração", não a integração pela energia.
Outro, brasileiro do Greenpeace, reclamou que a comunidade ambientalista foi pega "de surpresa", mas arriscou "conseqüências enormes" para o meio ambiente e os índios.
Para um terceiro, venezuelano opositor de Chávez, tudo não passa de "instrumento político".
 
Atento à região no fim-de-semana, o "WP", que ecoa usualmente as preocupações do Departamento de Estado dos EUA, foi em outra linha na coluna de Marcela Sanchez, sobre relações com a América Latina.
Sanchez louvou "uma voz da razão para a América Latina". É o secretário-assistente de Estado para a região, Thomas Shannon, que se colocou em oposição ao secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, quanto à suposta ameaça de Chávez e cia. Diz Shannon que "o grande desafio" na América Latina "não é a Venezuela, mas a pobreza".
Porém o texto, como sempre, fechou com críticas a Chávez e elogios a Lula, em comparação.
 
E tome energia. O "Wall Street Journal" deu que o secretário do Tesouro dos EUA, John Snow, conversou longamente com o ministro Antônio Palocci, no encontro do G8 na Rússia, e o assunto foi, mais uma vez, auto-suficiência em petróleo.
Um "funcionário graduado", segundo o "WSJ", disse que os EUA "estão muito interessados" no êxito brasileiro com etanol e que Snow pediu "conselhos" ao colega, em encontro privado.
 
Por outro lado, o mesmo "WSJ", em sua coluna de diplomacia, registrou as "novas prioridades" do Departamento de Estado, por conta das alterações de equipe nas embaixadas e consulados dos EUA.
Na China, 15 novos postos. Na Índia, 12. Para tanto, na Rússia, menos 10. Alemanha, menos 7. A maioria (38) sai da Europa. No Brasil e em outros seis países pelo globo, dois postos a menos.

BBC/Reprodução
Soldados da ONU, liderados pelo Brasil, escoltam as urnas


BRUTAL!

O primeiro-ministro Tony Blair passou o dia, do "Financial Times" aos despachos das agências AP e outras, duelando com Lula na África.
Blair cobra concessões de países como Brasil e Índia, nas negociações comerciais. Lula cobra antes um encontro entre líderes mundiais. Fim do dia e, de novo, avanço nenhum.
 
Blair, na verdade, estava com a cabeça em outra parte. O tablóide "News of the World" deu, sob a manchete "Brutal!", as imagens de soldados britânicos batendo em adolescentes iraquianos. E tome, do primeiro-ministro, promessas de investigação e punição etc.
Por conta do "News of the World", o dia foi curioso, na cobertura eletrônica. O jornal vetou toda reprodução do vídeo -e ao mesmo tempo postou as cenas na íntegra em seu site. O resultado foi que sites e canais de notícias gastaram o dia no vaivém entre reproduzir ou não.
No meio do dia, viam-se as cenas na Al Jazira ou na Globo News, mas não na BBC ou na CNN. Depois, sumiu das primeiras e entrou nas últimas. Sintomaticamente, além da Al Jazira outros dois canais árabes, o saudita Al Arabiya e o iraniano Al Alam, cobriram ruidosamente o caso, com o vídeo. Já o iraquiano Al-Sharqiyah, não.
 
Os sites noticiosos de EUA e Europa, por outro lado, não poderiam ser mais cautelosos. "New York Times" e "Le Monde" mal registraram. Já "Guardian" e "El País" deram certa atenção, mas nada de manchete. No Brasil, na Folha Online e outros, foi a manchete.
A certa altura, o "El País" apelou para a reprodução do áudio da gravação, aliás, tão revoltante quanto as cenas.


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