São Paulo, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

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Irmão diz que Battisti sofreu agressão em prisão no Brasil

Secretário do DF afirma que apuração do caso foi arquivada por falta de indícios

Declaração de Vincenzo a publicação italiana é similar à de ex-terrorista à Folha em 2008, quando afirmou ter sido vítima de maus-tratos

DA REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O mais velho dos quatro irmãos de Cesare Battisti, Vincenzo, 68, afirmou em entrevista a uma revista italiana que o ex-militante sofreu agressões durante sua prisão no Brasil.
"Espancavam-no continuamente, raspavam seu cabelo e o humilhavam, apagavam cigarros nele. Antes de encontrá-lo, a mulher e a filha pequena tiveram de esperar dois dias. Mas quando se viram, ainda havia inchaços. A menina ficou chocada", relatou ele, sem especificar onde teriam acontecido os supostos maus-tratos.
Battisti disse que recebeu ameaças quando chegou à penitenciária da Papuda, em Brasília, após ser preso no Rio, em 2007. Em relato à revista "Piauí", no mesmo ano, afirmou que "os carcereiros me gritavam: "Aqui não é a Itália, seu assassino de policiais'".
À Folha, em entrevista em fevereiro de 2008, Battisti afirmou ter sido cuspido, chutado e jogado no chão.
O ex-militante foi condenado em seu país, entre outros crimes, por assassinar um agente carcerário. Ele nega. O irmão disse que, se Battisti participou, não foi ele quem "pressionou o gatilho".
A reportagem falou com o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Valmir Lemos de Oliveira, responsável pela penitenciária, que disse terem sido instaurados na época dois procedimentos administrativos para apurar as denúncias. "Mas eles foram arquivados por falta de indícios."
Após o episódio, a defesa do italiano ingressou com uma representação no STF (Supremo Tribunal Federal), onde já tramitava o processo de extradição, para pedir sua transferência. O ministro Celso de Mello, então relator do caso, autorizou a ida dele para a carceragem da Polícia Federal, em Brasília. Lá Battisti ficou preso até setembro passado, quando foi transferido para a Papuda.
Segundo relato de pessoas próximas a Battisti e aos seus advogados, ele não reclamou mais de maus-tratos.
Agora o ex-membro do PAC (Proletários Armados pelo Comunismo) aguarda pelo julgamento do STF, que decidirá se aceita o pedido de extradição, feito pela Itália. Na última terça-feira, a Corte negou a liminar proposta pela governo italiano de anular o refúgio .

Proteção brasileira
Dizendo falar "em nome de toda a família", Vincenzo também acusou o serviço secreto francês de maltratar Battisti quando ele já estava no Brasil. Agora, segundo declaração do irmão, o ex-ativista conta com a proteção de autoridades brasileiras, como a do senador José Nery (PSOL-PA).
Ontem, ele visitou Battisti na prisão, acompanhado do senador João Pedro (PT-AM) e dos deputados José Eduardo Cardozo (PT-SP) e Manuela D'Ávila (PC do B-RS).
Na entrevista, cuja versão integral será divulgada hoje pela revista "Panorama", Vincenzo pediu ao presidente italiano, Giorgio Napolitano, que conceda o perdão a seu irmão. "Cesare vivia como um animal caçado, sempre em fuga, longe de seus entes queridos", disse.


Com agências internacionais


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