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CRISE CAPITAL
Paulo Octávio diz que "abre mão" de eleição
Por governabilidade, interino no DF demite secretários de Arruda, promete buscar apoio para gerir cidade e diz que pedirá ajuda a Lula
Sobre prisão de Arruda, Paulo Octávio diz que "não pode prejulgá-lo'; "acho que ele não teve participação, pelo que vi de longe", afirma
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governador interino de
Brasília, Paulo Octávio (DEM),
está em situação precária do
ponto de vista político, mas assumiu ontem suas funções como se estivesse disposto a ficar
até o final do mandato. Pediu a
todos os secretários que entregassem os cargos.
Paulo Octávio, que hoje completa 60 anos e vive há 49 anos
na cidade, licenciou-se ontem
da presidência do Democratas
em Brasília. Disse que vai buscar "um amplo leque de apoiamentos" para "terminar o governo neste ano de 2010". Afirmou, para isso, "abrir mão" da
eleição em outubro. Até a tarde
de ontem, ele não havia ainda
falado com o governador afastado, José Roberto Arruda.
FOLHA - Qual a sua expectativa ao
assumir interinamente?
PAULO OCTÁVIO - Estou assumindo numa condição que eu
nunca sonhei. Nos meus 20
anos de vida pública eu aspirei
a ser governador de Brasília.
Fui deputado federal duas vezes. Fui senador. Tinha que trilhar o caminho de ser governador. Quando disputei a indicação do Democratas com o Arruda, em 2006, o partido sugeriu
que eu fosse candidato a vice
uma vez para eu ser candidato
ao governo em 2010.
FOLHA - Mas tudo estava caminhando para Arruda ser o candidato
neste ano, não?
PAULO OCTÁVIO - O governo estava muito bem avaliado, com
90% de aprovação.
FOLHA - O sr. seria candidato?
PAULO OCTÁVIO - Poderia continuar vice ou [me candidatar] a
senador. Não tinha definido.
FOLHA - E na conjuntura atual?
PAULO OCTÁVIO - É um momento muito crítico da cidade. Resolvi abrir mão da minha candidatura. Não serei candidato a
nada. Abdico da minha vida pública em prol da governabilidade. Acho que temos de estar
juntos. Pedi um encontro com
o presidente Lula. Quero compartilhar essa responsabilidade. Brasília é hospedeira do governo federal. Vou dizer: "Preciso de apoio". Se vamos buscar
a governabilidade, é importante buscar entendimento com o
governo federal e os partidos.
Temos os festejos de 50 anos de
Brasília, que estão perto.
FOLHA - O sr. está ciente de que pode haver, a qualquer momento,
uma intervenção federal?
PAULO OCTÁVIO - O que a Justiça
decidir será acatado.
FOLHA - O procurador-geral da República disse que há no governo em
Brasília uma "organização criminosa". O sr. concorda?
PAULO OCTÁVIO - Acho que o governo é formado por milhares
de pessoas. Há servidores públicos de longa data. Eu ouvi
muitos aborrecidos.
FOLHA - Mas acho que o procurador se referia ao governador e a assessores mais próximos...
PAULO OCTÁVIO - Vou pedir que
os secretários coloquem os cargos à disposição para construir
uma nova estrutura de governo. Alguns já formalizaram. É
só para ter o conforto de fazer
ajustes. Alguns podem ficar. O
habeas corpus não foi concedido, e pode ser que o governador
volte. Tenho que trabalhar para
que Brasília não pare.
FOLHA - O sr. conversou com o governador Arruda depois que ele foi
preso para dizer que iria refazer o secretariado?
PAULO OCTÁVIO - Não tive oportunidade. Não estive com ele
ontem nem hoje.
FOLHA - O Democratas pediu que
todos os filiados ao partido deixem
o governo de Brasília. O sr. não estaria sendo abandonado pela sigla?
PAULO OCTÁVIO - A nota se referia ao governo Arruda. Foi antes de eu assumir.
FOLHA - Mas o DEM vai dar apoio
ao sr.?
PAULO OCTÁVIO - Não preciso ser
um governador amparado só
por um partido, mas de um amplo leque para que a gente possa terminar o governo neste
ano de 2010.
FOLHA - Durval Barbosa, num depoimento em dezembro, diz ter levado dinheiro pessoalmente, no hotel Kubitschek Plaza. O sr. tomou conhecimento desse depoimento?
PAULO OCTÁVIO - Tenho um escritório político no hotel. Tive
encontros com secretários, como é natural. Mas não houve isso. As questões judiciais do processo vamos responder quando
formos chamados.
FOLHA - Por que Durval teria feito
essa afirmação?
PAULO OCTÁVIO - [silêncio]
FOLHA - Durval também faz anotações. Coloca seu nome e o percentual 30% ao lado.
PAULO OCTÁVIO - [silêncio]
FOLHA - O policial Marcelo Toledo
aparece em vídeo perguntando sobre dinheiro de Paulo Octávio a prefeitos. O sr. sabe a que ele se referia?
PAULO OCTÁVIO - O Marcelo Toledo foi candidato a deputado
distrital na última eleição. Conheci o Marcelo na última eleição e, se não me engano, ele
pergunta sobre pesquisas.
FOLHA - Não houve relação financeira entre o sr. e ele?
PAULO OCTÁVIO - Não.
FOLHA - Marcelo Carvalho apareceu nos vídeos com Durval...
PAULO OCTÁVIO - Cada um responde por seus atos.
FOLHA - Marcelo Carvalho ainda
trabalha com o sr.?
PAULO OCTÁVIO - O Marcelo Carvalho trabalha comigo.
FOLHA - Não seria o caso de afastá-lo enquanto responde sobre o caso?
PAULO OCTÁVIO - Ele foi afastado
de uma função principal, mas
ele continua trabalhando.
FOLHA - Mas mesmo agora que o
sr. assumiu o governo?
PAULO OCTÁVIO - É um processo
judicial e ele vai responder.
FOLHA - Partidos e entidades estão
pedindo formalmente seu impeachment na Câmara. Como o sr. reage?
PAULO OCTÁVIO - Acho estranho
porque não assinei nenhum ato
como governador. Esses processos são muito desagradáveis, tumultuam. Mas creio que
do ponto de vista técnico e jurídico não serão aceitos.
FOLHA - O sr. era vice, acompanhou o governo de perto. O sr. acha
que Arruda é inocente?
PAULO OCTÁVIO - O interessante
é que o vídeo mostrado foi gravado na eleição de 2006. Ele
não era governador.
FOLHA - Mas nas operações de busca da PF...
PAULO OCTÁVIO - Mas aí eu não
tenho conhecimento.
FOLHA - Mas pense no senso comum. O leitor vai perguntar: será
que o vice não viu nada?
PAULO OCTÁVIO - Não tenho conhecimento.
FOLHA - E sobre a prisão de Arruda.
O sr. conviveu com ele intensamente. Ele obstruiu a Justiça?
PAULO OCTÁVIO - A história ainda me parece nebulosa.
FOLHA - Mas o que sr. acha?
PAULO OCTÁVIO - Não acredito
que tenha tido essa intenção.
Não posso prejulgar. Eu acho
que ele não teve participação...
Pelo que vi de longe.
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