São Paulo, sábado, 13 de fevereiro de 2010

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CRISE CAPITAL

Paulo Octávio diz que "abre mão" de eleição

Por governabilidade, interino no DF demite secretários de Arruda, promete buscar apoio para gerir cidade e diz que pedirá ajuda a Lula

Sobre prisão de Arruda, Paulo Octávio diz que "não pode prejulgá-lo'; "acho que ele não teve participação, pelo que vi de longe", afirma


FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governador interino de Brasília, Paulo Octávio (DEM), está em situação precária do ponto de vista político, mas assumiu ontem suas funções como se estivesse disposto a ficar até o final do mandato. Pediu a todos os secretários que entregassem os cargos. Paulo Octávio, que hoje completa 60 anos e vive há 49 anos na cidade, licenciou-se ontem da presidência do Democratas em Brasília. Disse que vai buscar "um amplo leque de apoiamentos" para "terminar o governo neste ano de 2010". Afirmou, para isso, "abrir mão" da eleição em outubro. Até a tarde de ontem, ele não havia ainda falado com o governador afastado, José Roberto Arruda.

 

FOLHA - Qual a sua expectativa ao assumir interinamente?
PAULO OCTÁVIO
- Estou assumindo numa condição que eu nunca sonhei. Nos meus 20 anos de vida pública eu aspirei a ser governador de Brasília. Fui deputado federal duas vezes. Fui senador. Tinha que trilhar o caminho de ser governador. Quando disputei a indicação do Democratas com o Arruda, em 2006, o partido sugeriu que eu fosse candidato a vice uma vez para eu ser candidato ao governo em 2010.

FOLHA - Mas tudo estava caminhando para Arruda ser o candidato neste ano, não?
PAULO OCTÁVIO
- O governo estava muito bem avaliado, com 90% de aprovação.

FOLHA - O sr. seria candidato?
PAULO OCTÁVIO
- Poderia continuar vice ou [me candidatar] a senador. Não tinha definido.

FOLHA - E na conjuntura atual?
PAULO OCTÁVIO
- É um momento muito crítico da cidade. Resolvi abrir mão da minha candidatura. Não serei candidato a nada. Abdico da minha vida pública em prol da governabilidade. Acho que temos de estar juntos. Pedi um encontro com o presidente Lula. Quero compartilhar essa responsabilidade. Brasília é hospedeira do governo federal. Vou dizer: "Preciso de apoio". Se vamos buscar a governabilidade, é importante buscar entendimento com o governo federal e os partidos. Temos os festejos de 50 anos de Brasília, que estão perto.

FOLHA - O sr. está ciente de que pode haver, a qualquer momento, uma intervenção federal?
PAULO OCTÁVIO
- O que a Justiça decidir será acatado.

FOLHA - O procurador-geral da República disse que há no governo em Brasília uma "organização criminosa". O sr. concorda?
PAULO OCTÁVIO
- Acho que o governo é formado por milhares de pessoas. Há servidores públicos de longa data. Eu ouvi muitos aborrecidos.

FOLHA - Mas acho que o procurador se referia ao governador e a assessores mais próximos...
PAULO OCTÁVIO
- Vou pedir que os secretários coloquem os cargos à disposição para construir uma nova estrutura de governo. Alguns já formalizaram. É só para ter o conforto de fazer ajustes. Alguns podem ficar. O habeas corpus não foi concedido, e pode ser que o governador volte. Tenho que trabalhar para que Brasília não pare.

FOLHA - O sr. conversou com o governador Arruda depois que ele foi preso para dizer que iria refazer o secretariado?
PAULO OCTÁVIO
- Não tive oportunidade. Não estive com ele ontem nem hoje.

FOLHA - O Democratas pediu que todos os filiados ao partido deixem o governo de Brasília. O sr. não estaria sendo abandonado pela sigla?
PAULO OCTÁVIO
- A nota se referia ao governo Arruda. Foi antes de eu assumir.

FOLHA - Mas o DEM vai dar apoio ao sr.?
PAULO OCTÁVIO
- Não preciso ser um governador amparado só por um partido, mas de um amplo leque para que a gente possa terminar o governo neste ano de 2010.

FOLHA - Durval Barbosa, num depoimento em dezembro, diz ter levado dinheiro pessoalmente, no hotel Kubitschek Plaza. O sr. tomou conhecimento desse depoimento?
PAULO OCTÁVIO
- Tenho um escritório político no hotel. Tive encontros com secretários, como é natural. Mas não houve isso. As questões judiciais do processo vamos responder quando formos chamados.

FOLHA - Por que Durval teria feito essa afirmação?
PAULO OCTÁVIO
- [silêncio]

FOLHA - Durval também faz anotações. Coloca seu nome e o percentual 30% ao lado.
PAULO OCTÁVIO
- [silêncio]

FOLHA - O policial Marcelo Toledo aparece em vídeo perguntando sobre dinheiro de Paulo Octávio a prefeitos. O sr. sabe a que ele se referia?
PAULO OCTÁVIO
- O Marcelo Toledo foi candidato a deputado distrital na última eleição. Conheci o Marcelo na última eleição e, se não me engano, ele pergunta sobre pesquisas.

FOLHA - Não houve relação financeira entre o sr. e ele?
PAULO OCTÁVIO
- Não.

FOLHA - Marcelo Carvalho apareceu nos vídeos com Durval... PAULO OCTÁVIO - Cada um responde por seus atos.

FOLHA - Marcelo Carvalho ainda trabalha com o sr.?
PAULO OCTÁVIO
- O Marcelo Carvalho trabalha comigo.

FOLHA - Não seria o caso de afastá-lo enquanto responde sobre o caso?
PAULO OCTÁVIO
- Ele foi afastado de uma função principal, mas ele continua trabalhando.

FOLHA - Mas mesmo agora que o sr. assumiu o governo?
PAULO OCTÁVIO
- É um processo judicial e ele vai responder.

FOLHA - Partidos e entidades estão pedindo formalmente seu impeachment na Câmara. Como o sr. reage?
PAULO OCTÁVIO
- Acho estranho porque não assinei nenhum ato como governador. Esses processos são muito desagradáveis, tumultuam. Mas creio que do ponto de vista técnico e jurídico não serão aceitos.

FOLHA - O sr. era vice, acompanhou o governo de perto. O sr. acha que Arruda é inocente?
PAULO OCTÁVIO
- O interessante é que o vídeo mostrado foi gravado na eleição de 2006. Ele não era governador.

FOLHA - Mas nas operações de busca da PF...
PAULO OCTÁVIO
- Mas aí eu não tenho conhecimento.

FOLHA - Mas pense no senso comum. O leitor vai perguntar: será que o vice não viu nada?
PAULO OCTÁVIO
- Não tenho conhecimento.

FOLHA - E sobre a prisão de Arruda. O sr. conviveu com ele intensamente. Ele obstruiu a Justiça?
PAULO OCTÁVIO
- A história ainda me parece nebulosa.

FOLHA - Mas o que sr. acha?
PAULO OCTÁVIO
- Não acredito que tenha tido essa intenção. Não posso prejulgar. Eu acho que ele não teve participação... Pelo que vi de longe.


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