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TRANSPOSIÇÃO
Comunidades vizinhas de açude sofrem falta de água
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
Do alto da parede do açude do
Castanhão, na bacia hidrográfica
do médio Jaguaribe, no Ceará,
não é possível ver o fim de tanta
água. Com capacidade de 6,7 bilhões de metros cúbicos, o reservatório concentrava, na semana
passada, 64,1% do total, com 4,3
bilhões de metros cúbicos.
Apesar da fartura de recursos
hídricos, comunidades a menos
de 30 km de distância do açude
sofrem para ter acesso à água e
dependem de favores políticos
para manter seu abastecimento.
Faltam a essa população obras
que garantam a distribuição da
água de forma ininterrupta.
Enquanto não chove, as 350 famílias de cinco comunidades localizadas fora da sede das cidades
de Tabuleiro do Norte e de São
João do Jaguaribe, a 220 km de
Fortaleza, têm de esperar carros-pipa para encher cisternas construídas ao lado das casas. Na área
urbana dessas cidades, há água.
O uso da água das cisternas tem
de ser racionado porque o reabastecimento não acontece antes de
um mês. Quando a água acaba,
cada morador tem de ir à prefeitura refazer um cadastro e provar
que precisa do carro-pipa.
Na comunidade de Cajueiro,
em Tabuleiro do Norte, apenas a
dona-de-casa Edwiges Paula Lima Souza, 41, tinha água na cisterna no dia 24 de fevereiro. Explicou que sua cisterna é abastecida
pela prefeitura da cidade vizinha,
São João do Jaguaribe. "Tenho título de eleitor lá e não pretendo
mudar. Pelo menos a prefeitura
manda água quando eu preciso."
Sua filha, Verinalda Lima Souza, 17, mora numa casa vizinha,
mas havia mais de uma semana
que não tinha água em sua cisterna, abastecida, como as demais,
pela Prefeitura de Tabuleiro.
Enquanto não era feito o reabastecimento, ela e outros vizinhos pediam água emprestada a
Edwiges para lavar, cozinhar, beber, tomar banho. "Aqui todo
mundo tem de ser solidário, a
gente não sabe o dia de amanhã."
Mais perto do açude do Castanhão, o assentamento Charneca,
do Incra, em São João do Jaguaribe, onde moram 80 famílias, tem
duas cisternas comunitárias, reabastecidas toda semana.
Há sete anos, a localidade, assim
como as demais, espera a construção de uma adutora, pelo governo do Estado, para fazer chegar a água direto até as casas. Em
novembro de 2004, a obra chegou
a ser anunciada, mas foi suspensa.
Segundo Josias Farias Neto, da
Secretaria de Desenvolvimento
Local e Regional do governo do
Ceará, a obra foi paralisada porque a escavação que deveria ter sido executada pela Prefeitura de
Tabuleiro não foi concluída pela
mudança de prefeito. "Agora fizemos novas reuniões, e a Prefeitura
de São João do Jaguaribe se comprometeu a ajudar", disse.
Tanto Tabuleiro como São João
do Jaguaribe estão entre os 39
municípios do Ceará que decretaram situação de emergência pela
seca e que esperam ajuda federal
para manter os carros-pipa.
(KAMILA FERNANDES)
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