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Gastos e carga tributária elevados são mantidos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O primeiro Orçamento após
a derrubada da CPMF mantém
a carga tributária e os gastos federais em patamares semelhantes ou até mais altos que os
do ano passado, os maiores já
contabilizados no país.
Em vez do cenário de caos
descrito pelo governo, o que a
extinção da contribuição fez foi
frear, ao menos provisoriamente, a estratégia de expansão acelerada de obras e despesas sociais imaginada para o segundo mandato de Lula.
A lei orçamentária projeta
uma receita de 24,36% da renda nacional, até um pouco acima dos 24,3% estimados para
2007 -os números definitivos
do ano passado ainda não foram calculados. As despesas, já
descontados os repasses obrigatórios para Estados e municípios, passam de cerca de 18%
para 18,25% do PIB (Produto
Interno Bruto). A CPMF permitiria somar 1,4 ponto percentual aos valores de 2008.
Ainda que os percentuais estejam sujeitos a imprecisões, os
dados demonstram que, ao
contrário do que se ameaçava
há poucos meses, não será necessário eliminar o Bolsa Família, paralisar hospitais ou descumprir as metas fiscais.
A explicação está em um aumento da arrecadação esperada com os demais tributos, graças ao crescimento da economia, que impulsiona os lucros
das empresas e as contratações
com carteira assinada -e mais
R$ 10 bilhões de um aumento
das alíquotas do IOF e da CSLL.
O crescimento econômico de
5,4% no ano passado, divulgado
ontem, e os valores recordes da
arrecadação de janeiro são até
mais favoráveis que os parâmetros utilizados nas contas do
Congresso -que nos últimos
anos têm sido mais precisas
que as do governo.
Os novos números tornaram
possível votar o Orçamento
com alterações mínimas no
texto proposto em agosto pelo
Executivo. A mudança maior
foi de planos: elevações de gastos que começariam na tramitação do projeto foram adiadas
ou abandonadas.
O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) propriamente dito manteve seus
R$ 18 bilhões, mas, como ocorreu em 2007, apenas uma parte
do valor deverá ser gasta nas
obras de infra-estrutura. Na
tradição orçamentária nacional, o valor dos investimentos
-ao todo R$ 37 bilhões neste
ano- é superestimado e acaba
dando lugar a outros gastos.
Um exemplo é o recente aumento do salário mínimo para
R$ 415 -R$ 2,60 acima do previsto no Orçamento. Só esse
ajuste custará R$ 600 milhões.
Os efeitos mais visíveis da extinção da CPMF ocorreram nos
gastos previstos com pessoal,
que caíram R$ 3,4 bilhões, para
R$ 137,6 bilhões. As negociações entre os sindicatos, influentes no PT, e o governo podem, porém, reduzir ou eliminar essa queda.
Como acontece todos os
anos, o Executivo vai divulgar
uma estimativa de receita menos otimista que a dos parlamentares e promover um bloqueio preventivo de despesas
-conhecido, na tecnocracia,
como contingenciamento-
que deverá ficar entre R$ 5 bilhões e R$ 10 bilhões.
Trata-se de uma medida de
prudência econômica, mas
também de estratégia política.
As principais vítimas do bloqueio são as obras incluídas no
texto por congressistas em benefício de suas bases eleitorais,
particularmente importantes
em ano eleitoral.
(GUSTAVO PATU E MARIA CLARA CABRAL)
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