São Paulo, sexta, 13 de março de 1998

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JANIO DE FREITAS
O torturador

A resposta dada à denúncia de que o novo subdiretor de Saúde do Exército era integrante de equipe de tortura, há muito reconhecido por numerosas vítimas suas no Doi-Codi da ditadura militar, consiste em um artifício deplorável pelo teor e pela falta de coragem para uma simples definição.
As acusações de que o general Ricardo Agnese Fayad se fez objeto, como médico militar do Doi-Codi, envolvem atos tão desumanos como a autorização de choques elétricos em uma grávida. Fayad avaliava os efeitos das torturas, liberando sua continuação ou propondo outra modalidade, de acordo com o estado da vítima.
Inquérito feito pelo Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro levou à cassação, em 94, do registro de médico de Fayad, decisão mais tarde confirmada pelo Conselho Federal de Medicina, ao constatar também a "prática de atos vis e hediondos" com os saberes de médico. Fayad recorreu à Justiça e ainda não há sentença para o seu recurso.
Foi essa situação provisória que Fernando Henrique utilizou como se fosse uma decisão, mas, a rigor, para evitar uma definição que desagrade, ou aos militares da direita extremada, ou aos defensores dos direitos humanos. Fayad continua no cargo "pelo menos" até que a Justiça julgue o seu recurso.
O que foi posto e continua em questão pela denúncia pública, no entanto, não é, como sabe Fernando Henrique, a validade do diploma de Ricardo Agnese Fayad. É, sim e só, a designação, com a responsabilidade presidencial, para um alto cargo no Exército, de um transgressor dos direitos humanos de que presidente e governo se pretendem paladinos.
Chegou a ser noticiada a decisão do próprio ministro Zenildo Lucena de afastar Fayad do cargo inadequado. Fernando Henrique preferiu repetir sua conduta no caso do coronel Armando Avólio, que desfrutava a condição inútil de adido militar na Inglaterra e lá continuou por meses, depois de também denunciado por tortura. O responsável por uma definição, para manter ou retirar o coronel, não conseguia afirmá-la.
Lavar as mãos, quando uma palavra bastaria, é um recurso conhecido há milênios.
Moeda valiosa
Quantas vezes o desvio do rio São Francisco vai servir de moeda na compra de parlamentares? Desejado pelos políticos nordestinos e repelido pelo senador Antonio Carlos Magalhães, desde 95 o desvio (ou a obra caríssima) se torna compromisso imediato de Fernando Henrique em troca de votos no Congresso.
Foi incluído, agora, nos preços nordestinos da convenção peemedebista. Com o juramento de que neste ano começa, como carro-chefe do propagandístico "Brasil em Ação", no Nordeste. Se Antonio Carlos Magalhães consentir.



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