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JANIO DE FREITAS
O torturador
A resposta dada à denúncia
de que o novo subdiretor de
Saúde do Exército era integrante de equipe de tortura,
há muito reconhecido por numerosas vítimas suas no
Doi-Codi da ditadura militar,
consiste em um artifício deplorável pelo teor e pela falta
de coragem para uma simples
definição.
As acusações de que o general Ricardo Agnese Fayad se
fez objeto, como médico militar do Doi-Codi, envolvem
atos tão desumanos como a
autorização de choques elétricos em uma grávida. Fayad
avaliava os efeitos das torturas, liberando sua continuação ou propondo outra modalidade, de acordo com o estado da vítima.
Inquérito feito pelo Conselho Regional de Medicina do
Rio de Janeiro levou à cassação, em 94, do registro de médico de Fayad, decisão mais
tarde confirmada pelo Conselho Federal de Medicina, ao
constatar também a "prática
de atos vis e hediondos" com
os saberes de médico. Fayad
recorreu à Justiça e ainda não
há sentença para o seu recurso.
Foi essa situação provisória
que Fernando Henrique utilizou como se fosse uma decisão, mas, a rigor, para evitar
uma definição que desagrade,
ou aos militares da direita extremada, ou aos defensores
dos direitos humanos. Fayad
continua no cargo "pelo menos" até que a Justiça julgue o
seu recurso.
O que foi posto e continua
em questão pela denúncia pública, no entanto, não é, como
sabe Fernando Henrique, a
validade do diploma de Ricardo Agnese Fayad. É, sim e
só, a designação, com a responsabilidade presidencial,
para um alto cargo no Exército, de um transgressor dos direitos humanos de que presidente e governo se pretendem
paladinos.
Chegou a ser noticiada a decisão do próprio ministro Zenildo Lucena de afastar Fayad do cargo inadequado.
Fernando Henrique preferiu
repetir sua conduta no caso
do coronel Armando Avólio,
que desfrutava a condição
inútil de adido militar na Inglaterra e lá continuou por
meses, depois de também denunciado por tortura. O responsável por uma definição,
para manter ou retirar o coronel, não conseguia afirmá-la.
Lavar as mãos, quando uma
palavra bastaria, é um recurso conhecido há milênios.
Moeda valiosa
Quantas vezes o desvio do
rio São Francisco vai servir de
moeda na compra de parlamentares? Desejado pelos políticos nordestinos e repelido
pelo senador Antonio Carlos
Magalhães, desde 95 o desvio
(ou a obra caríssima) se torna
compromisso imediato de
Fernando Henrique em troca
de votos no Congresso.
Foi incluído, agora, nos preços nordestinos da convenção
peemedebista. Com o juramento de que neste ano começa, como carro-chefe do propagandístico "Brasil em
Ação", no Nordeste. Se Antonio Carlos Magalhães consentir.
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