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Governador do Paraná prevê "surra monumental" para o PT nas eleições municipais, mas nega rompimento
Lula acha que FHC ainda governa, diz Requião
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mais um aliado importante do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornou públicas suas críticas à
condução do governo federal. O
governador do Paraná, Roberto
Requião (PMDB), aliado de primeira hora de Lula, disse ontem:
"os neoliberais não acreditaram
que perderam a eleição, e Lula
não percebeu que ganhou".
Para completar, emenda: "De
Lula aos ministros, todos imaginam que o Fernando Henrique
ainda é o presidente".
Irritado com o que diz serem
pressões para privatizar o porto
de Paranaguá, Requião acha que o
"PT vai acabar tomando uma surra monumental nas eleições municipais". O governador paranaense nega estar rompendo com
Lula. "Eu continuo torcendo para
que percebam logo que ganharam as eleições", afirma.
A seguir, trechos de sua entrevista concedida ontem à Folha.
Folha - O sr. tem demonstrado insatisfação com o governo federal.
Pretende romper?
Roberto Requião - Não. Eu não
estou retirando meu apoio ao PT.
Mas o que concluí hoje [ontem]
na reunião com meus secretários,
de manhã, pode ser resumido no
seguinte: os neoliberais não acreditaram que perderam a eleição, e
o governo do PT e de Lula não
percebeu que ganhou.
Folha - Como assim?
Requião - Tudo continua como
antes. Quem ganhou a eleição fica
com medo de fazer mudanças.
Não tem mais tempo. Tem de
mudar já. O PT vai acabar tomando uma surra monumental nas
eleições municipais.
Folha - Tem de "mexer" exatamente em quê, na sua opinião?
Requião - Tem de começar a mexer logo na política econômica.
Tem de denunciar os contratos da
gestão anterior. Por exemplo, os
contratos na área de energia, das
termoelétricas, podem ser, na sua
maioria, cancelados. O Banestado, aqui do Paraná, foi dado de
graça, e o comprador ainda levou
uns R$ 400 milhões em créditos
tributários e outras vantagens.
Folha - Mas o sr. tem acesso ao
presidente da República. Tem falado isso para ele?
Requião - Faz tempo que eu não
falo com ele.
Folha - Quando o sr. fala em "mexer" na política econômica, qual
seria a sua proposta?
Requião - Eu acho que tem de
baixar os juros, pra valer. Precisa
dar um sinal claro, baixando logo
para um dígito.
Folha - Mas, governador, o sr. sabe que isso não acontecerá...
Requião - ...Acho que então tem
de acabar de uma vez com a autonomia do Banco Central. Do jeito
que está não pode continuar.
Folha - O sr. tem demonstrado insatisfação recentemente por conta
da disputa sobre o porto de Paranaguá. O que ocorre exatamente?
Requião - Eles estão querendo
pressionar para privatizar o porto. Fiz uma pesquisa e vi que se
paga cerca de US$ 2 para cada tonelada de soja exportada por Paranaguá e de US$ 4 a US$ 6 para
exportar a mesma quantidade em
terminais privados. Como podem
dizer que somos ineficientes?
Folha - Quando o sr. diz "eles", refere-se a quem?
Requião - Aos grandes exportadores. Mas o governo não faz nada, deixa correr solto. De Lula aos
ministros, todos imaginam que o
Fernando Henrique ainda é o presidente da República. Eu fico isolado aqui no Paraná.
Folha - O sr. fala que não vai romper com o governo, mas suas críticas são muito duras...
Requião - Eu continuo torcendo
para que percebam logo que ganharam as eleições. De outra forma, quando perceberem, estarão
perdendo as próximas.
Folha - Na disputa em Curitiba, o
sr. e o PMDB já se decidiram quem
deve ser o candidato a prefeito?
Requião - Eu quero que tenhamos um candidato único de oposição. Eu gostaria que fosse o Ângelo Vanhoni, do PT.
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