São Paulo, terça-feira, 13 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BASE DIVIDIDA

Governador do Paraná prevê "surra monumental" para o PT nas eleições municipais, mas nega rompimento

Lula acha que FHC ainda governa, diz Requião

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mais um aliado importante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornou públicas suas críticas à condução do governo federal. O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), aliado de primeira hora de Lula, disse ontem: "os neoliberais não acreditaram que perderam a eleição, e Lula não percebeu que ganhou".
Para completar, emenda: "De Lula aos ministros, todos imaginam que o Fernando Henrique ainda é o presidente".
Irritado com o que diz serem pressões para privatizar o porto de Paranaguá, Requião acha que o "PT vai acabar tomando uma surra monumental nas eleições municipais". O governador paranaense nega estar rompendo com Lula. "Eu continuo torcendo para que percebam logo que ganharam as eleições", afirma.
A seguir, trechos de sua entrevista concedida ontem à Folha.
 

Folha - O sr. tem demonstrado insatisfação com o governo federal. Pretende romper?
Roberto Requião -
Não. Eu não estou retirando meu apoio ao PT. Mas o que concluí hoje [ontem] na reunião com meus secretários, de manhã, pode ser resumido no seguinte: os neoliberais não acreditaram que perderam a eleição, e o governo do PT e de Lula não percebeu que ganhou.

Folha - Como assim?
Requião -
Tudo continua como antes. Quem ganhou a eleição fica com medo de fazer mudanças. Não tem mais tempo. Tem de mudar já. O PT vai acabar tomando uma surra monumental nas eleições municipais.

Folha - Tem de "mexer" exatamente em quê, na sua opinião?
Requião -
Tem de começar a mexer logo na política econômica. Tem de denunciar os contratos da gestão anterior. Por exemplo, os contratos na área de energia, das termoelétricas, podem ser, na sua maioria, cancelados. O Banestado, aqui do Paraná, foi dado de graça, e o comprador ainda levou uns R$ 400 milhões em créditos tributários e outras vantagens.

Folha - Mas o sr. tem acesso ao presidente da República. Tem falado isso para ele?
Requião -
Faz tempo que eu não falo com ele.

Folha - Quando o sr. fala em "mexer" na política econômica, qual seria a sua proposta?
Requião -
Eu acho que tem de baixar os juros, pra valer. Precisa dar um sinal claro, baixando logo para um dígito.

Folha - Mas, governador, o sr. sabe que isso não acontecerá...
Requião -
...Acho que então tem de acabar de uma vez com a autonomia do Banco Central. Do jeito que está não pode continuar.

Folha - O sr. tem demonstrado insatisfação recentemente por conta da disputa sobre o porto de Paranaguá. O que ocorre exatamente?
Requião -
Eles estão querendo pressionar para privatizar o porto. Fiz uma pesquisa e vi que se paga cerca de US$ 2 para cada tonelada de soja exportada por Paranaguá e de US$ 4 a US$ 6 para exportar a mesma quantidade em terminais privados. Como podem dizer que somos ineficientes?

Folha - Quando o sr. diz "eles", refere-se a quem?
Requião -
Aos grandes exportadores. Mas o governo não faz nada, deixa correr solto. De Lula aos ministros, todos imaginam que o Fernando Henrique ainda é o presidente da República. Eu fico isolado aqui no Paraná.

Folha - O sr. fala que não vai romper com o governo, mas suas críticas são muito duras...
Requião -
Eu continuo torcendo para que percebam logo que ganharam as eleições. De outra forma, quando perceberem, estarão perdendo as próximas.

Folha - Na disputa em Curitiba, o sr. e o PMDB já se decidiram quem deve ser o candidato a prefeito?
Requião -
Eu quero que tenhamos um candidato único de oposição. Eu gostaria que fosse o Ângelo Vanhoni, do PT.


Texto Anterior: Brasil profundo: Para CPI, intervenção evitaria chacina
Próximo Texto: Panorâmica - Eleições 2004: Campanha contra corrupção é reeditada
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.