São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 2006

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO

Thomaz Bastos diz que ele tem a confiança de Lula e que denúncias são inconsistentes

Bastos se diz "confortável" e nega que vá deixar pasta

Sérgio Lima/ Folha Imagem
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, participa de reunião da Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público


FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Sob bombardeio da oposição, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, afastou ontem a possibilidade de deixar o cargo dizendo-se "absolutamente confortável". Ele assegurou que jamais pensou em sair do governo e manifestou a convicção de que continua tendo a confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Me sinto absolutamente confortável. Eu tenho a confiança do presidente, estou fazendo um trabalho muito sério no Ministério da Justiça. As denúncias, entre aspas, não têm consistência, de modo que eu estou trabalhando normalmente e vou tocar para a frente", disse o ministro, na saída de uma tumultuada audiência com anistiados políticos na Câmara dos Deputados: "O presidente não quer que eu saia", disse.
As "denúncias" que o ministro mencionou referem-se à sua atuação para supostamente ajudar o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci a se defender no caso da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Bastos admitiu ter apresentado o advogado Arnaldo Malheiros a Palocci, num momento em que já havia fortes suspeitas de que o ex-ministro da Fazenda era o responsável por ordenar a violação.
O ministro da Justiça deve prestar depoimento ao Congresso na semana que vem para se explicar. Há uma possibilidade de que isso ocorra já na próxima terça, exclusivamente à Câmara, mas o ministro indicou ontem que prefere uma sessão conjunta com o Senado, que ocorreria na quinta-feira.
"Venho com muita honra [ao Congresso]. Eu me ofereci para depor, depois pedi a antecipação desse depoimento, não foi possível. Quinta-feira para mim está um dia perfeito", declarou.
O ministro negou que esteja pensando em pedir demissão. Disse que a possibilidade de ele sair do governo está "implícita" desde o momento em que foi nomeado, em 2003. Bastos é um dos poucos ministros que se mantêm no governo desde o início, sempre como um dos mais influentes assessores do presidente.
"Se ele [Lula] quiser que eu não fique, eu não fico, o cargo é dele. Mas eu conto com a confiança do presidente da República, ainda ontem [anteontem] ele disse isso. Eu estou fazendo um trabalho respeitável no Ministério da Justiça, na coordenação do governo, e vou continuar fazendo isso", afirmou. Segundo o ministro, ele é "demissível" a qualquer hora.
Ao comentar a denúncia oferecida pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, o ministro procurou dar um viés positivo a uma peça extremamente negativa para o governo. Salientou a independência do Ministério Público e chegou a dizer que a denúncia é um "fato importante na história do Brasil". Mas calou-se sobre o teor do documento, que aponta a existência de uma "organização criminosa" no coração do governo Lula.
"O procurador-geral da República é um homem que foi escolhido livremente pelo presidente. Não houve nenhuma interferência", disse. Exercitando seu lado de advogado criminalista, Bastos insistiu no aspecto técnico da denúncia, afirmando que ela nada mais seria do que o estágio inicial de um processo. "A denúncia não é uma condenação, é o início de uma ação penal. Se for recebida pelo Supremo, vai permitir a todos aqueles que ali são apontados o exercício de todo o seu direito de defesa", afirmou.


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