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STF deve estender lei de greve a servidores
Sete ministros votaram por aplicação da legislação do setor privado a paralisações do serviço público; pedido de vista adiou decisão
Tribunal julga mandados que acusam Congresso de ser omisso na sua função de regulamentar o direito; vice do Supremo vê "selvageria"
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Sete dos 11 ministros do STF
(Supremo Tribunal Federal)
votaram ontem a favor de impor limites a paralisações no
serviço público e de aplicar aos
servidores a lei que disciplina o
direito de greve no setor privado. Eles criticaram a falta de lei
específica e o vice-presidente
do tribunal, Gilmar Mendes,
disse que isso cria um quadro
de "selvageria".
O julgamento foi adiado por
um pedido de vista do ministro
Joaquim Barbosa. A CUT (Central Única dos Trabalhadores) e
sindicatos do funcionalismo
pressionam o STF para que deixe a matéria sem regulamentação, porque entendem que a
definição de normas gerará
mais restrições do que direitos.
"A representação dos servidores não vê com bons olhos a
regulamentação do tema, porque a questão hoje está submetida a um tipo de lei da selva",
disse Mendes. "A não-regulamentação do direito de greve
acabou por propiciar um quadro de selvageria, com sérias
conseqüências ao Estado de Direito, onde não há soberanos."
A Constituição foi promulgada prevendo o direito de greve,
mas o STF disse que a norma
dependia de regulamentação,
que até hoje não foi aprovada
para o serviço público.
O STF está julgando dois
mandados de injunção, movidos por sindicatos de servidores do Pará e do Espírito Santo.
Eles pedem que o Congresso
seja declarado omisso e que,
diante dessa omissão, seja usada a legislação do setor privado.
Os ministros ainda não têm
claros os efeitos da futura decisão caso prevaleça a tendência
de regulamentar a greve na administração pública. Alguns
deles disseram que toda a administração pública é serviço
essencial e, por isso, não pode
fazer paralisações totais.
Essa é a posição de Eros
Grau, relator de uma das ações,
e Cezar Peluso. "Quando o trabalhador faz greve no setor privado, está disputando o lucro
do empregador, a mais-valia. É
uma arma dele, porque consegue pressionar o patrão. No
serviço público, não há isso.
Quem vai sofrer os efeitos será
a sociedade", disse Grau.
O governo Lula já anunciou
que elabora projeto de lei para
regulamentar o direito de greve
dos servidores. A intenção é
proibir paralisações em serviços essenciais, como geração e
distribuição de energia elétrica,
serviços de emergência de hospitais e controle de vôos.
O projeto deve ser encaminhado ao Congresso até o final
de maio. Pelo texto inicial, os
grevistas teriam de manter pelo menos 30% da categoria trabalhando para operar os serviços essenciais.
Ao criticar a "selvageria" decorrente da falta de legislação,
Mendes disse que a recente
greve dos controladores de vôo
é "um caso emblemático".
O ministro Ricardo Lewandowski manifestou posição
contrária à dos colegas. Ele reconheceu a omissão do Congresso no dever de regulamentar o dispositivo da Constituição que assegura o direito de
greve no serviço público, mas
não concordou com a aplicação
da lei do setor privado.
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