São Paulo, terça-feira, 13 de abril de 2010

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Marta diz que tem gente que ainda "não vota em mulher"

Ex-prefeita de SP afirma que PT não sabe como focar os problemas de gênero

Marta elogia Mercadante e diz que seria muito ruim para o partido não lançar um candidato próprio para governador de São Paulo

Marlene Bergamo/Folha Imagem
A ex-prefeita de S.Paulo e pré-candidata do PT ao Senado, Marta Suplicy, em sua casa nos Jardins

ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL

A principal liderança feminina do PT de São Paulo está de volta à corrida eleitoral, menos de dois anos após perder a disputa pela prefeitura da capital. Marta Suplicy, 65, está no páreo por uma vaga no Senado. Amiga e conselheira de Dilma Rousseff, a ex-prefeita Marta acha que a campanha petista ainda explora pouco o trunfo de ter uma mulher candidata. É no segmento feminino (52% do eleitorado, algo em torno de 68 milhões de eleitores) que está um dos maiores desafios da candidata ao Planalto. Marta fala como ainda é difícil ser mulher na política e afirma que as eleições de outubro podem "quebrar paradigmas". "Temos uma chance única com Dilma e Marina [Silva, do PV]".

 

FOLHA - Você gostou da definição de Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo e você ao Senado?
MARTA -
Acho excelente. Mercadante teve uma votação muito expressiva quando foi candidato ao governo. Ele tem uma disposição enorme para essa candidatura e um conhecimento do Estado bastante profundo, inclusive da relação do Estado com o governo federal.

FOLHA - Há quem diga, até dentro do PT, que ele está indo para perder.
MARTA -
Pode-se pensar isso quando o outro [Geraldo Alckmin] tem uma condição de votação tão grande. Mas eu mesma ganhei do Alckmin já duas vezes. Acho que tem um cansaço de tucanato e vai ser difícil para os tucanos e para Alckmin, que já foi governador seis anos, fazer promessas. As promessas serão exatamente as mesmas que foram feitas nas eleições passadas e não cumpridas.

FOLHA - A candidatura própria foi a melhor solução?
MARTA -
Muito melhor. Seria muito ruim para deputados do PT ter uma legenda 40 [do PSB, de Ciro] em vez do 13 [do PT]: 13 é uma marca muito forte e eu fico muito feliz que nós estejamos concorrendo no berço do PT com nosso número.

FOLHA - Por que ser senadora?
MARTA -
Eu tenho vontade de ir para o Senado porque é um cargo que eu nunca disputei e um cargo que eu nunca exerci. É muito instigante poder representar o Estado de São Paulo, diferente de você ser deputada, como fui, em que você é uma representante do povo. Agora, como senadora, se eu vir a ser eleita, eu vou representar meu Estado, lutar por verbas a favor do Estado. Tenho que ter outro foco do que o de deputada, o que é instigante.

FOLHA - Deputados federais achavam que poderiam não se reeleger se você fosse candidata a deputada.
MARTA -
A gente nunca sabe como vai ser, mas a hipótese era a de que eu seria uma boa puxadora de votos, o que era interessante para o partido. Ao mesmo tempo eu atrapalharia algumas pessoas, deputados do partido. Eu percebo o PT muito contente com a chapa que nós temos, porque é uma chapa muito forte. [...] É raro você ver uma chapa em que todo mundo ficou muito agradado. Teve a brincadeira que o fator Ciro acabou unindo o PT de uma forma como nunca esteve unido. Nunca estivemos com tantas chances. Fora o esvaziamento do discurso tucano. Vai falar o quê? Fazer o metrô? Há 16 anos está prometendo [isso].

FOLHA - O que acha do João Santana, que trabalhou com você em 2008, como marqueteiro da Dilma?
MARTA -
Eu acho que o João, para uma campanha nacional, irá muito bem.

FOLHA - Ele voltaria a ser seu marqueteiro?
MARTA -
Por que eu tenho de responder uma coisa assim? Tenho uma boa relação com ele, tivemos um problema grave no final da campanha, que foi superado.

FOLHA - O que você aprendeu com a campanha de 2008?
MARTA -
Centralizar um pouco mais, para não acontecer o que aconteceu. Estar mais perto. Menos suor e mais inteligência. Não sei se me explico.

FOLHA - Se eleita, você voltaria a conviver diariamente com seu ex-marido, o senador Eduardo Suplicy...
MARTA -
[Ri] Tenho uma boa relação com ele, respeitosa, acho que poderemos trabalhar muito bem. Problema zero. Os estilos são diferentes.

FOLHA - O crescimento de Dilma não é tímido para quem tem Lula como cabo eleitoral?
MARTA -
Não, eu acho que ela cresceu bastante. Tem muita gente que ainda não a conhece e que votará nela por ser a candidata do Lula e muita gente que votará nela por ver nela uma figura competente, uma figura de mulher, algo que eu acho que está sendo pouco explorado. Esse olhar é muito interessante, e o Lula percebeu isso, que ser mulher era algo interessante.

FOLHA - A campanha de Dilma peca por não explorar o lado mulher?
MARTA -
Seria interessante focar na questão da mulher, mas acho bastante difícil porque as pessoas não sabem como fazê-lo, se sentem inseguras. Eu mesma, como candidata, sempre achei isso, mas nunca tive certeza suficiente para seguir à frente nas discussões que tive com os marqueteiros. Mas isso seria um paradigma importante, mas é arriscado. E, quando é arriscado numa coisa de grandíssima dimensão, não se faz. Presidente da República, muito menos. Então de novo não faremos. Tem gente que não vota em mulher, e não podemos perder a oportunidade de fazer pesquisas e saber o porquê. Isso vai deixar um histórico muito importante para as mulheres, para nossas filhas e nossas netas que quiserem entrar na política. Temos uma chance única com a Dilma e com a Marina.

FOLHA - Você assinaria um termo de que não concorrerá à prefeitura?
MARTA -
Não [risos]. Não teria cabimento. A gente planeja aquele momento e depois é a vida. Eu nunca tive medo de viver. O que eu posso assegurar que estou indo com muito interesse de desempenhar essa função [senadora], se for eleita.


Leia a íntegra da entrevista de Marta
www.folha.com.br/1010211



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