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Marta diz que tem gente que ainda "não vota em mulher"
Ex-prefeita de SP afirma que PT não sabe como focar os problemas de gênero
Marta elogia Mercadante e diz que seria muito ruim para o partido não lançar um candidato próprio para
governador de São Paulo
Marlene Bergamo/Folha Imagem
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A ex-prefeita de S.Paulo e pré-candidata do PT ao Senado, Marta Suplicy, em sua casa nos Jardins
ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL
A principal liderança feminina do PT de São Paulo está de
volta à corrida eleitoral, menos
de dois anos após perder a disputa pela prefeitura da capital.
Marta Suplicy, 65, está no páreo por uma vaga no Senado.
Amiga e conselheira de Dilma Rousseff, a ex-prefeita Marta acha que a campanha petista
ainda explora pouco o trunfo de
ter uma mulher candidata. É no
segmento feminino (52% do
eleitorado, algo em torno de 68
milhões de eleitores) que está
um dos maiores desafios da
candidata ao Planalto.
Marta fala como ainda é difícil ser mulher na política e afirma que as eleições de outubro
podem "quebrar paradigmas".
"Temos uma chance única com
Dilma e Marina [Silva, do PV]".
FOLHA - Você gostou da definição
de Aloizio Mercadante ao governo
de São Paulo e você ao Senado?
MARTA - Acho excelente. Mercadante teve uma votação muito expressiva quando foi candidato ao governo. Ele tem uma
disposição enorme para essa
candidatura e um conhecimento do Estado bastante profundo, inclusive da relação do Estado com o governo federal.
FOLHA - Há quem diga, até dentro
do PT, que ele está indo para perder.
MARTA - Pode-se pensar isso
quando o outro [Geraldo Alckmin] tem uma condição de votação tão grande. Mas eu mesma ganhei do Alckmin já duas
vezes. Acho que tem um cansaço de tucanato e vai ser difícil
para os tucanos e para Alckmin,
que já foi governador seis anos,
fazer promessas. As promessas
serão exatamente as mesmas
que foram feitas nas eleições
passadas e não cumpridas.
FOLHA - A candidatura própria foi a
melhor solução?
MARTA - Muito melhor. Seria
muito ruim para deputados do
PT ter uma legenda 40 [do PSB,
de Ciro] em vez do 13 [do PT]:
13 é uma marca muito forte e eu
fico muito feliz que nós estejamos concorrendo no berço do
PT com nosso número.
FOLHA - Por que ser senadora?
MARTA - Eu tenho vontade de
ir para o Senado porque é um
cargo que eu nunca disputei e
um cargo que eu nunca exerci.
É muito instigante poder representar o Estado de São Paulo, diferente de você ser deputada, como fui, em que você é
uma representante do povo.
Agora, como senadora, se eu vir
a ser eleita, eu vou representar
meu Estado, lutar por verbas a
favor do Estado. Tenho que ter
outro foco do que o de deputada, o que é instigante.
FOLHA - Deputados federais achavam que poderiam não se reeleger
se você fosse candidata a deputada.
MARTA - A gente nunca sabe
como vai ser, mas a hipótese
era a de que eu seria uma boa
puxadora de votos, o que era interessante para o partido. Ao
mesmo tempo eu atrapalharia
algumas pessoas, deputados do
partido. Eu percebo o PT muito
contente com a chapa que nós
temos, porque é uma chapa
muito forte. [...] É raro você ver
uma chapa em que todo mundo
ficou muito agradado. Teve a
brincadeira que o fator Ciro
acabou unindo o PT de uma
forma como nunca esteve unido. Nunca estivemos com tantas chances. Fora o esvaziamento do discurso tucano. Vai
falar o quê? Fazer o metrô? Há
16 anos está prometendo [isso].
FOLHA - O que acha do João Santana, que trabalhou com você em
2008, como marqueteiro da Dilma?
MARTA - Eu acho que o João,
para uma campanha nacional,
irá muito bem.
FOLHA - Ele voltaria a ser seu marqueteiro?
MARTA - Por que eu tenho de
responder uma coisa assim?
Tenho uma boa relação com
ele, tivemos um problema grave no final da campanha, que
foi superado.
FOLHA - O que você aprendeu com
a campanha de 2008?
MARTA - Centralizar um pouco
mais, para não acontecer o que
aconteceu. Estar mais perto.
Menos suor e mais inteligência.
Não sei se me explico.
FOLHA - Se eleita, você voltaria a
conviver diariamente com seu ex-marido, o senador Eduardo Suplicy...
MARTA - [Ri] Tenho uma boa
relação com ele, respeitosa,
acho que poderemos trabalhar
muito bem. Problema zero. Os
estilos são diferentes.
FOLHA - O crescimento de Dilma
não é tímido para quem tem Lula como cabo eleitoral?
MARTA - Não, eu acho que ela
cresceu bastante. Tem muita
gente que ainda não a conhece
e que votará nela por ser a candidata do Lula e muita gente
que votará nela por ver nela
uma figura competente, uma figura de mulher, algo que eu
acho que está sendo pouco explorado. Esse olhar é muito interessante, e o Lula percebeu
isso, que ser mulher era algo interessante.
FOLHA - A campanha de Dilma peca por não explorar o lado mulher?
MARTA - Seria interessante focar na questão da mulher, mas
acho bastante difícil porque as
pessoas não sabem como fazê-lo, se sentem inseguras. Eu
mesma, como candidata, sempre achei isso, mas nunca tive
certeza suficiente para seguir à
frente nas discussões que tive
com os marqueteiros. Mas isso
seria um paradigma importante, mas é arriscado. E, quando é
arriscado numa coisa de grandíssima dimensão, não se faz.
Presidente da República, muito
menos. Então de novo não faremos. Tem gente que não vota
em mulher, e não podemos perder a oportunidade de fazer
pesquisas e saber o porquê. Isso
vai deixar um histórico muito
importante para as mulheres,
para nossas filhas e nossas netas que quiserem entrar na política. Temos uma chance única
com a Dilma e com a Marina.
FOLHA - Você assinaria um termo
de que não concorrerá à prefeitura?
MARTA - Não [risos]. Não teria
cabimento. A gente planeja
aquele momento e depois é a
vida. Eu nunca tive medo de viver. O que eu posso assegurar
que estou indo com muito interesse de desempenhar essa
função [senadora], se for eleita.
Leia a íntegra da
entrevista de Marta
www.folha.com.br/1010211
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