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POLÍTICA NO ESCURO
Presidente diz não saber se haverá apagões, mas crê que crise poderá ser capitalizada pela oposição
FHC teme "eleição do apagão" em 2002
KENNEDY ALENCAR
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso considera que a crise
energética é uma batalha perdida
neste ano e será o pior problema
do seu final de mandato, além de
ser um forte obstáculo à eleição de
seu sucessor em 2002.
Segundo auxiliares com os
quais ele tem debatido a crise
energética, FHC teme que o pleito
do ano que vem se transforme "na
eleição do apagão" -expressão
de um colaborador. O período do
racionamento e dos apagões previstos para 2002 (junho a novembro) coincidirá com a campanha
eleitoral (abril a outubro).
Do ponto de vista doméstico e
internacional, o presidente crê
que poderá perder a marca da capacidade de gerenciar o Brasil,
conquistada com o controle da
inflação. Para FHC, a crise de
energia derrubará o argumento
de que a oposição não tem capacidade para dirigir o país. Ele usou
com sucesso esse carimbo para
ganhar as eleições de 1994 e 1998.
O bordão seria repetido pelo candidato governista em 2002.
Agora, a oposição poderá alegar
que FHC é que não teve competência administrativa em seus oito anos de mandato. O presidente
disse a auxiliares que avalia que
isso prejudicará o seu candidato
ao Palácio do Planalto.
Ao contrário da CPI da corrupção, que permitiu a FHC fazer o
discurso de que se tratava de manobra eleitoral da oposição, não
há como debitar a crise energética
na conta dos adversários.
Em 1998, no auge da crise do
real, o governo dizia que tinha feito as reformas econômicas e colocava a culpa no colapso russo e na
especulação dos investidores.
Desta vez, não vai poder transferir
responsabilidade a ninguém.
Daí o esforço para mostrar que,
se errou, não agiu de "má-fé", como disse na quinta-feira ao discursar na inauguração de uma
ponte em Mato Grosso do Sul.
Pedro Parente
A nomeação de Pedro Parente
(Casa Civil) para o "Ministério do
Apagão" teve, além do objetivo
técnico (FHC confia na competência do indicado), a meta política de mostrar que o governo não
está de braços cruzados.
Apesar disso, nas conversas reservadas, FHC demonstra descrença na eficácia das medidas
para tentar minorar o problema
no curto prazo: avalia que acordou tarde demais.
Ontem, em entrevista na porta
de seu prédio, em São Paulo, disse
que não sabe se haverá apagão.
"Se puder não ter, melhor. Vamos
ver se as águas sobem ou não e se
as medidas de economia vão surtir efeito. Ainda é cedo para falar
sobre isso [apagões"."
A melhor chance de reversão
dos apagões em 2002 será um período de chuvas historicamente
inédito nas bacias dos reservatórios das usinas hidrelétricas.
Uma alternativa que poderá diminuir o problema será um ritmo
acelerado de construção de termoelétricas. Basicamente tem de
haver muita chuva e muita obra.
FHC teme que os efeitos políticos da crise energética sejam amplificados por uma consequente
piora do desempenho econômico. Teme que não se concretize o
cenário de final de mandato com
crescimento econômico, investimento inédito no social e cacife
para tentar eleger o sucessor.
Em 2000, por exemplo, os planos do presidente andaram bem.
O país cresceu quase 4,5%, e o desemprego caiu para níveis de
1997. Agora, a falta de energia fez
os principais bancos e instituições
do país reverem para baixo o crescimento econômico de 2001.
Prejuízo
Para a FGV, os apagões significarão um prejuízo de R$ 15 bilhões para a indústria e uma queda de 1,5% nas expectativas de
crescimento. O número de desempregados aumentará em cerca de 850 mil, anulando parte da
recuperação de 2000 e do primeiro trimestre deste ano.
Na equipe econômica, ouve-se
crítica mais aberta à suposta inapetência gerencial de FHC, apesar
de o time de Pedro Malan (Fazenda) ser parcialmente responsabilizado pela crise. Na pasta da Fazenda, sempre foram feitos reparos a uma suposta incapacidade
de FHC cobrar metas e qualidade
dos gastos públicos em outras
áreas -especialmente na infra-estrutura, loteada entre PFL (Minas e Energia), PMDB (Transportes) e PSDB (Comunicações).
A Fazenda avalia que, nas Comunicações, o ministro Sérgio
Motta (morto em 1998) teve sucesso com a privatização da Telebrás. Nos Transportes e nas Minas e Energia, haveria os chamados gargalos que dificultam o
crescimento da economia.
A área de infra-estrutura devolve as críticas à equipe econômica,
citando que a obsessão pelo ajuste
fiscal impediu os investimentos
para ampliar a oferta de energia:
só a Eletrobrás, no ano passado,
teve de colaborar com R$ 820 milhões para o ajuste com o FMI.
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