São Paulo, domingo, 13 de maio de 2001

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POLÍTICA NO ESCURO

Presidente diz não saber se haverá apagões, mas crê que crise poderá ser capitalizada pela oposição

FHC teme "eleição do apagão" em 2002

KENNEDY ALENCAR
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso considera que a crise energética é uma batalha perdida neste ano e será o pior problema do seu final de mandato, além de ser um forte obstáculo à eleição de seu sucessor em 2002.
Segundo auxiliares com os quais ele tem debatido a crise energética, FHC teme que o pleito do ano que vem se transforme "na eleição do apagão" -expressão de um colaborador. O período do racionamento e dos apagões previstos para 2002 (junho a novembro) coincidirá com a campanha eleitoral (abril a outubro).
Do ponto de vista doméstico e internacional, o presidente crê que poderá perder a marca da capacidade de gerenciar o Brasil, conquistada com o controle da inflação. Para FHC, a crise de energia derrubará o argumento de que a oposição não tem capacidade para dirigir o país. Ele usou com sucesso esse carimbo para ganhar as eleições de 1994 e 1998. O bordão seria repetido pelo candidato governista em 2002.
Agora, a oposição poderá alegar que FHC é que não teve competência administrativa em seus oito anos de mandato. O presidente disse a auxiliares que avalia que isso prejudicará o seu candidato ao Palácio do Planalto.
Ao contrário da CPI da corrupção, que permitiu a FHC fazer o discurso de que se tratava de manobra eleitoral da oposição, não há como debitar a crise energética na conta dos adversários.
Em 1998, no auge da crise do real, o governo dizia que tinha feito as reformas econômicas e colocava a culpa no colapso russo e na especulação dos investidores. Desta vez, não vai poder transferir responsabilidade a ninguém.
Daí o esforço para mostrar que, se errou, não agiu de "má-fé", como disse na quinta-feira ao discursar na inauguração de uma ponte em Mato Grosso do Sul.

Pedro Parente
A nomeação de Pedro Parente (Casa Civil) para o "Ministério do Apagão" teve, além do objetivo técnico (FHC confia na competência do indicado), a meta política de mostrar que o governo não está de braços cruzados.
Apesar disso, nas conversas reservadas, FHC demonstra descrença na eficácia das medidas para tentar minorar o problema no curto prazo: avalia que acordou tarde demais.
Ontem, em entrevista na porta de seu prédio, em São Paulo, disse que não sabe se haverá apagão. "Se puder não ter, melhor. Vamos ver se as águas sobem ou não e se as medidas de economia vão surtir efeito. Ainda é cedo para falar sobre isso [apagões"."
A melhor chance de reversão dos apagões em 2002 será um período de chuvas historicamente inédito nas bacias dos reservatórios das usinas hidrelétricas.
Uma alternativa que poderá diminuir o problema será um ritmo acelerado de construção de termoelétricas. Basicamente tem de haver muita chuva e muita obra.
FHC teme que os efeitos políticos da crise energética sejam amplificados por uma consequente piora do desempenho econômico. Teme que não se concretize o cenário de final de mandato com crescimento econômico, investimento inédito no social e cacife para tentar eleger o sucessor.
Em 2000, por exemplo, os planos do presidente andaram bem. O país cresceu quase 4,5%, e o desemprego caiu para níveis de 1997. Agora, a falta de energia fez os principais bancos e instituições do país reverem para baixo o crescimento econômico de 2001.

Prejuízo
Para a FGV, os apagões significarão um prejuízo de R$ 15 bilhões para a indústria e uma queda de 1,5% nas expectativas de crescimento. O número de desempregados aumentará em cerca de 850 mil, anulando parte da recuperação de 2000 e do primeiro trimestre deste ano.
Na equipe econômica, ouve-se crítica mais aberta à suposta inapetência gerencial de FHC, apesar de o time de Pedro Malan (Fazenda) ser parcialmente responsabilizado pela crise. Na pasta da Fazenda, sempre foram feitos reparos a uma suposta incapacidade de FHC cobrar metas e qualidade dos gastos públicos em outras áreas -especialmente na infra-estrutura, loteada entre PFL (Minas e Energia), PMDB (Transportes) e PSDB (Comunicações).
A Fazenda avalia que, nas Comunicações, o ministro Sérgio Motta (morto em 1998) teve sucesso com a privatização da Telebrás. Nos Transportes e nas Minas e Energia, haveria os chamados gargalos que dificultam o crescimento da economia.
A área de infra-estrutura devolve as críticas à equipe econômica, citando que a obsessão pelo ajuste fiscal impediu os investimentos para ampliar a oferta de energia: só a Eletrobrás, no ano passado, teve de colaborar com R$ 820 milhões para o ajuste com o FMI.



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