São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 2002

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HISTÓRIA

Renúncia, morte, deposição ou impeachment levaram "números 2" à Presidência da República

Sete já assumiram a vaga do titular

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A história mostra que a escolha do companheiro de chapa presidencial não deve ser tratada com desdém: na galeria dos presidentes brasileiros, sete eram vices que assumiram devido a renúncia, morte, deposição ou impeachment dos titulares.
"Pelo número de vezes em que foram chamados a assumir, é até uma irresponsabilidade o processo de escolha do candidato a vice, como se ele não passasse de uma figura decorativa", diz a socióloga Aspásia Camargo. "O vice é um carma que nasceu com a República", diz a socióloga.
De fato, Deodoro da Fonseca dissolveu o Parlamento em 1891, e o vice Floriano Peixoto encabeçou um contragolpe que levou à renúncia de Deodoro. Floriano concluiu o governo até 1894.
O "carma" nasceu com a República, mas teve seu momento mais dramático na agonia pública de Tancredo Neves, que morreu em 1985 sem assumir. Para se eleger no Colégio Eleitoral e pôr fim ao regime dos generais, Tancredo fez muitas concessões à direita; para governar, o vice José Sarney precisou fazer concessões à esquerda que redundaram na "Constituição Cidadã".
Tancredo não é um caso único na República. Eleito pela segunda vez para a Presidência em 1918, Rodrigues Alves, que já governara de 1902 a 1906, sucumbiu à epidemia de gripe espanhola que varreu o país. Singularidade: o vice Delfim Moreira sofria de esclerose precoce e governou sob a tutela do ministério, que tinha reuniões de faz-de-conta com o presidente e outra para valer com o ministro Afrânio de Melo Franco.
Delfim Moreira não foi o primeiro a assumir em virtude da morte do titular. Antes, Nilo Peçanha concluiu o mandato de Affonso Penna, morto em 1909.
Na República Velha, três vices assumiram. Depois disso, o vice foi chamado no governo constitucional de Getúlio Vargas, após o suicídio do presidente em 1954. No poder, Café Filho aliou-se aos golpistas que tentavam impedir a posse de Juscelino Kubitschek. Acabou sendo forçado a renunciar antes de JK assumir.
A história recente é bem conhecida: vice de Jânio Quadros, que renunciou em 1961, João Goulart teve de se submeter a um regime parlamentarista para poder assumir, restaurou o presidencialismo e foi deposto pelo golpe militar de 1964. Em 1985, o drama de Tancredo; em 1992, o impeachment de Fernando Collor que abriu caminho para os dois anos de governo de Itamar Augusto Cautiero Franco.
Itamar foi escolhido vice de Collor por um critério da representatividade regional (Collor do Nordeste, Itamar do Sudeste) que determina a montagem de chapas desde o início da República. Antes da eleição, Itamar renunciou três vezes à vice de Collor. Em todas foi contido.
O critério também esteve presente na chapa de Fernando Henrique Cardoso em 1994: Guilherme Palmeira (PFL-AL), abatido pela acusação de que um assessor recebera dinheiro de empreiteira, foi substituído pelo pernambucano Marco Maciel.
Também em 94, a primeira opção de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que é pernambucano, foi pelo gaúcho José Paulo Bisol -forçado a renunciar quando se soube que ele apresentara emenda ao Orçamento para uma estrada que beneficiava a fazenda de um filho.
Hoje, o vice dos sonhos de Lula é a antítese do PT: o empresário e senador do PL mineiro, José Alencar. A reação dos militantes petistas dá conta ao potencial de conflitos da chapa.
Sarney acredita que o único critério para a escolha do vice é "ganhar a eleição". Daí a importância da representatividade regional. Depois disso, o vice "só serve para crises". Na opinião de Sarney, a Argentina talvez tivesse vivido dias menos conturbados se o vice do presidente Fernando de la Rúa não houvesse renunciado antes do titular.
Mas a crise foi justamente o que impediu um único vice de assumir o mandato após o impedimento do titular: o jurista Pedro Aleixo, que era o companheiro de chapa de Costa Silva. No dia 31 de agosto de 1969 os ministros militares declararam o impedimento do presidente.
O Ato Institucional nš 16 declarou vagos os cargos de presidente e vice. Assumiu uma junta militar. Aleixo ficou preso uma semana em casa. Não havia espaço no regime para quem considerara que o AI-5 delegava o arbítrio ao guarda da esquina.



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