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ENTREVISTA DA 2ª
Para Eugênio Staub, denúncias contra políticos são positivas e fazem parte de "processo de depuração"
Empresário propõe fundo único eleitoral
Flávio Florido/Folha Imagem
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O empresário Eugênio Staub, presidente da Gradiente, que defende novas regras para o financiamento das campanhas eleitorais
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GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O empresário Eugênio Staub,
60, presidente da Gradiente e ex-presidente do Iedi (Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento
Industrial), vê com bons olhos as
recentes denúncias envolvendo
os pré-candidatos à Presidência.
Ele acha que se trata de mais um
passo no processo de depuração
na política que o Brasil tem vivido
desde o impeachment de Fernando Collor de Mello.
Para avançar nesse processo,
Staub acha que deveria haver novas regras para o financiamento
de campanhas eleitorais. "O poder econômico dos candidatos faz
uma grande diferença na campanha e isso distorce a democracia.
(...) Os candidatos devem ser eleitos pelas suas idéias e não pelo poder de fogo de suas campanhas."
Para ele, o ideal é que os empresários contribuam para um fundo
especial de campanha, e o TSE
(Tribunal Superior Eleitoral) distribua esse dinheiro entre os candidatos, a partir de certos critérios. Um critério pode ser a bancada dos partidos no Congresso.
Entre as propostas de que já tomou conhecimento a respeito
desse tema, Staub acha que a melhor é a do pré-candidato do PT,
Luiz Inácio Lula da Silva, que impõe limites às contribuições. "A
proposta de Lula é uma verdadeira revolução nessa área", diz.
Staub não disfarça sua empolgação com a propaganda do petista. Ele acha que o sucesso da
campanha se deve a dois fatores:
ao marqueteiro Duda Mendonça
e ao próprio Lula. Leia a seguir a
entrevista concedida por ele.
Folha - Como o sr. analisa essas
recentes denúncias envolvendo
contribuição de empresários às
campanhas eleitorais?
Eugênio Staub - O que está acontecendo agora na política brasileira é um processo de depuração
dos métodos usados na política.
Eu encaro isso como um aperfeiçoamento do processo democrático. A mídia e os procuradores
têm sido fundamental para isso.
O próprio presidente Fernando
Henrique Cardoso também tem
sido importante ao não procurar
restringir a divulgação dessas denúncias. Esse processo de depuração, é bom que se diga, não vem
de agora. O povo já tirou um presidente [Collor, em 92", um senador foi cassado pela primeira vez
na história do país [Luiz Estevão"
e dois senadores [Antonio Carlos
Magalhães e Jader Barbalho" foram forçados a renunciar. Tudo
isso sem se quebrar uma vidraça.
O que acontece no Brasil é muito animador. Na medida em que
se abrem sigilos bancários, empresas "offshore" estão sob suspeita e sendo investigadas e a Suíça está disposta a abrir conta de
brasileiros sob suspeita, aqueles
que não agiam corretamente vão
passar a agir com mais cuidado.
Até há pouco tempo, ninguém se
preocupava muito com essas
questões. Era mais ou menos como um médico quando pergunta
se o preço do atendimento é com
recibo ou sem recibo. Na política
também era assim.
Folha - O sem recibo seria o caixa
dois das campanhas?
Staub - Eu nunca entendi porque existe esse dinheiro "por fora" nas campanhas, se a contribuição é legal. Talvez para economizar tributo. Essa é uma boa
pergunta.
Folha - Alguém já pediu dinheiro
"por fora" ao senhor?
Staub - Já, mas eu só contribuo
"por dentro". A Gradiente tem
uma resolução do Conselho de
Administração determinando
que a empresa não faça contribuição para campanhas, mesmo por
dentro. Nos Estados Unidos, não
existe essa contribuição "por fora". Lá, todas as contribuições são
registradas no Imposto de Renda.
Folha - Até onde podem chegar
essas denúncias?
Staub - O "denuncismo" é uma
fase passageira, que ocorre naturalmente, independentemente do
fato de as denúncias terem ou não
procedência. Quero deixar claro
que não sou capaz de avaliar se as
denúncias são ou não procedentes. O que eu acho é que elas existem porque há espaço para isso.
Essa denúncia, por exemplo, de
um pedido de dinheiro de R$ 15
milhões, caso tenha mesma ocorrido, só existe porque não há regras para a atuação do poder econômico nas campanhas eleitorais.
Folha - Por que o sr. acha que essa
fase de denúncias é passageira?
Staub - Porque, com o tempo,
não vai haver mais esse tipo de denúncia. Pelo menos denúncias
dessa natureza. Nos Estados Unidos, por exemplo, as denúncias
são de contabilidade fajuta da
Enron e de outras companhias.
Agora mesmo, por exemplo, surgem notícias de a Boeing ter feito
alguma química no seu balanço. É
da vida democrática ter esse tipo
de denúncia, mas, no caso das
campanhas políticas, eu acredito
em mudanças. Eu acho que as
pessoas vão se corrigir.
Folha - O que faz o sr. acreditar
em mudanças?
Staub - De um lado, há o processo de fiscalização da mídia. De outro, há a CPMF [Contribuição
Provisória sobre Movimentação
Financeira", que, além do efeito
arrecadador perverso, provoca
um efeito estatístico que capta toda a movimentação financeira da
sociedade. Por esses dois fatores, e
à medida que a sociedade avança,
eu acredito que as denúncias não
acabem, mas vão ser de outra natureza. Eu vejo esse processo com
bons olhos. Os jornalistas podem
até se divertir com essas denúncias, mas prestam um serviço à
sociedade.
Folha - Como o poder econômico
deve agir nas campanhas?
Staub -Eu acho que a atuação do
poder econômico deve ser limitada nas campanhas eleitorais. O
poder econômico não pode influenciar os resultados das eleições. O país deve discutir novas
regras para o financiamento da
campanha. O assunto está inclusive sendo debatido agora nos Estados Unidos. Eu acho que o Brasil
tem a chance e as condições de fazer uma reforma mais completa e
abrangente do que a dos Estados
Unidos.
Folha - O sr. teria alguma sugestão?
Staub - O que acho que deve ser
feito no Brasil é uma reforma política para aperfeiçoar a legislação
que já existe sobre financiamento
de campanha. Sobre isso, a proposta do Lula a respeito desse tema me parece muito boa. Eu não
conheço as propostas dos outros
candidatos, mas o que o Lula falou sobre isso durante reunião do
Iedi no ano passado me agradou
bastante.
Folha - Como evitar a influência
do poder econômico nas eleições?
Staub - Assim como há o horário gratuito de TV e de rádio para
os candidatos apresentarem suas
propostas, o dinheiro também
deve ser distribuído a partir de
critérios a serem determinados
pelo TSE. O tamanho das bancadas dos partidos no Congresso,
por exemplo, poderia ser um critério para o TSE distribuir o dinheiro.
Folha - Mas como se dariam as
contribuições?
Staub - As contribuições de
campanhas, a meu ver, deveriam
ser depositadas num fundo partidário e caberia ao TSE definir a
distribuição do dinheiro. Isso diminuiria bastante a contribuição
direta dos empresários aos candidatos. O poder econômico dos
candidatos faz uma grande diferença na campanha, e isso distorce a democracia. As grandes empresas que quiserem contribuir
devem repartir o dinheiro para financiamento das campanhas. O
poder econômico não pode influenciar o poder político. Esse
processo de depuração que vive o
Brasil irá dar mais transparência
aos financiamentos de campanha.
Folha - O sr. acha que essas denúncias recentes podem ser decisivas para o resultado das eleições?
Staub - O que as pesquisas mostram é que as prioridades dos eleitores são segurança, emprego e
saúde, mas certamente essas denúncias recentes terão um peso
importante nas eleições.
Folha - Pelo menos já fez uma vítima, a ex-pré-candidata do PFL,
Roseana Sarney.
Staub - O eleitor se assusta com
essas denúncias. E você viu a resposta da Roseana Sarney? Ela disse que todo mundo faz o que ela
fez e citou o exemplo da campanha de Fernando Henrique Cardoso, que foi muito mais cara.
Uma campanha presidencial, se
eu não me engano, deve estar na
faixa dos R$ 50 milhões. Na medida em que a verba seja dividida
entre os candidatos, o custo vai
cair. Nós temos que atacar tanto o
custo como a fonte do financiamento.
Folha - O que o sr. acha das denúncias pela mídia?
Staub - Denúncia é bom e precisa ser apurada. O que a mídia está
fazendo é lubrificando esse desejo
da sociedade. No passado, os
grandes contribuidores às campanhas eram as empreiteiras, que
ganharam muito dinheiro. Agora,
são os bancos. Curiosamente, a
indústria nunca foi um grande
contribuinte. Não tenho nada
contra os bancos, mas o poder
econômico não pode ser tão decisivo para as eleições. Os candidatos devem ser eleitos pelas suas
idéias e não pelo poder de fogo de
suas campanhas.
Folha - E o sr. acha que essas denúncias envolvendo o pré-candidato do PSDB, José Serra, podem prejudicá-lo?
Staub - Nessa matéria financeira, os tucanos sempre foram muito meticulosos. Eu conheço o José
Serra há 20 anos e ele sempre foi
correto.
Folha - O sr. acredita que outros
candidatos, como Lula, também
possam ser vítimas?
Staub - Eu acho difícil encontrarem alguma coisa contra o Lula. Já
é a sua quarta campanha presidencial, e a única coisa que descobriram foi uma filha anterior ao
casamento, o que não é relevante.
Aliás, o programa dele na TV tem
sido da maior competência.
Folha - O sr. acha que o Duda
Mendonça é o grande responsável
pela subida dele nas pesquisas?
Staub - Não existe marqueteiro
capaz de fazer um bom programa
quando o produto é ruim. O produto tem que ser bom para o marqueteiro ter sucesso. O marketing
ajuda, mas não é tudo.
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