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CAMPO MINADO
Pesquisa do Incra mostra problema em ao menos 40 assentamentos; lote tem casa com ar-condicionado e piscina
Falsos sem-terra recebem lotes no Pará
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Um levantamento realizado pelo Incra do Pará mostra que pelo
menos 40 projetos de assentamentos abrigam falsos trabalhadores rurais no Estado.
É o caso do assentamento Luís
Lopes Sobrinho, considerado à
época da implantação, em 97,
modelo pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária). Localizado em São
Francisco do Pará (100 km de Belém), é hoje, segundo o próprio
órgão, um dos exemplos onde a
reforma agrária não deu certo.
No local podem ser encontradas
casas de até quatro quartos, com
piscina, ar-condicionado e antenas parabólicas. O vereador Manoel Cirilo (PPB) é dono de uma
delas -uma casa com piscina.
Para ser beneficiada pela reforma agrária, uma pessoa tem que
estar desempregada ou exercer
atividade informal com uma renda mensal inferior a três salários
mínimos, morar no campo e nunca ter sido proprietário de terra.
O imóvel em que mora o vereador abrigava a diretoria da antiga
fazenda da multinacional Goodyear, desapropriada em 97 após
seringueiros invadiram o local.
Cirilo é presidente da Câmara
Municipal de São Francisco do
Pará e conseguiu o lote cadastrando o filho, Charles Jones Faria, 24,
como sem-terra. Ele admite não
manter plantação, alegando não
cultivar a terra porque "o Incra
não repassa crédito suficiente".
Além de conseguir a melhor casa do assentamento, o vereador
garantiu a casa vizinha para um
sobrinho. "Nunca vou sair deste
assentamento. Só saio morto",
disse sobre o fato de o órgão considerar sua situação irregular.
O Incra já investiu cerca de R$
3,5 milhões desde 97 no assentamento, sem contar os custos para
a desapropriação, que somam R$
7 milhões. Parte das 223 famílias
assentadas em 4,4 mil hectares
não faz uso da terra para o plantio. Uma associação de agricultores começou a cultivar pimenta-do-reino na área, mas só 23 famílias estão envolvidas no projeto.
A superintendência do Incra no
Pará informou, por meio de sua
assessoria, que "as distorções
apresentadas no assentamento
devem ser combatidas pelas três
associações que coordenam a
área". No ano passado, o Incra investiu R$ 843 mil no assentamento, sendo R$ 235 mil só na infra-estrutura e R$ 547,5 mil para reforma das casas. Cada um recebeu ainda R$ 2,5 mil do crédito
habitação para obras residenciais.
Para 2002 estão previstos recursos de R$ 1,1 milhão para 92 famílias em verbas do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento
da Agricultura Familiar).
Maconha e madeira
O Ministério Público Federal e a
Polícia Federal investigam também o uso de terras da reforma
agrária para o plantio de maconha, principalmente no sul e sudeste do Pará. Em janeiro, a PF
prendeu um casal de agricultores
que plantava cerca de 8.000 pés de
maconha em uma área de assentamento, a 110 km de São João do
Araguaia, no sul do Pará.
O Incra excluiu o casal do plano
de assentamento e a terra será
transferida para outra família.
Na região da Transamazônica, a
quantidade dos "agricultores de
fachada" é tão alta que a Procuradoria do Incra entrou na Justiça
para retomar lotes de 125 famílias.
Outro caso de uso irregular da
terra ocorre no assentamento Cidapar (em Castanhal), um dos
maiores do Pará, com 63,8 mil
hectares. Lá os assentados perceberam que lucrariam mais vendendo lotes para madeireiros do
que plantando. O preço de um lote varia entre R$ 5 mil e R$ 15 mil.
O Incra entrou na Justiça pedindo reintegração de posse das
áreas, que medem separadamente entre 2 mil e 10 mil hectares.
A PF também apura a venda de
56 lotes e casas por trabalhadores
rurais do Assentamento 17 de
Abril, antiga fazenda Macaxeira,
localizada entre Parauapebas e
Curionópolis, no sul do Estado.
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