|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Saída de ministério freou desmate, diz Marina
Um ano depois de deixar o Meio Ambiente, senadora avalia que afastamento ajudou a conter pressões
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um ano depois de deixar o
cargo de ministra do Meio Ambiente para conter pressões
contra o combate ao desmatamento na Amazônia, a senadora Marina Silva (PT-AC) avalia
que sua saída ajudou a frear o
ritmo das motosserras, mas diz
ver riscos "crescentes" de retrocesso na política ambiental.
FOLHA - Há um ano, a sra. disse que
era melhor ter um filho vivo em outro colo do que vê-lo morrer no seu.
A troca de "colos" salvou a política
ambiental?
MARINA SILVA - Existia uma
pressão grande de diferentes
setores no sentido de um retrocesso. Havia um forte questionamento no sistema de transparência que havia sido criado,
para que os dados do aumento
do desmatamento não fossem
divulgados. Havia um esforço
para revogar medidas de combate ao desmatamento, além de
todo endurecimento por parte
de outros setores no sentido de
não querer mais discutir os
projetos antes de eles serem colocados na rua. A minha saída
ajudou a manter a opinião pública em alerta. E o desmatamento aumentou 3,7%, contra
previsão de 30% e 40%.
FOLHA - A política ambiental sobreviveu no "colo" de Carlos Minc
(Meio Ambiente) e Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos)?
MARINA - Se a gente continuar
o tratamento metafórico como
filho, eu diria que há riscos.
FOLHA - Maiores, menores?
MARINA - Crescentes, crescentes. Há uma profusão de medidas tentando flexibilizar a legislação ambiental. Santa Catarina deu o pontapé inicial para
mudar o Código Florestal e sugerir que cada Estado tenha um
limite de desmatamento. Todo
aquele discurso de que as coisas
estavam emperradas pela questão ambiental foi retomado.
FOLHA - Qual seria o maior sinal de
retrocesso?
MARINA - São várias coisas: mudança no Código Florestal e a
medida provisória da regularização fundiária, por exemplo,
que vai transferir 67 milhões de
hectares de terras públicas na
Amazônia para particulares
com critérios muito elásticos,
que não permitirão separar o
joio do trigo, as posses mansas,
pacíficas e de boa fé, daquelas
que foram ocupadas por meios
ilícitos, sobretudo grilagem,
violência e o uso de laranjas.
FOLHA - A sra. licenciaria o asfaltamento da BR-319 e a hidrelétrica de
Belo Monte, projetos em curso no
Ibama?
MARINA - Uma obra da magnitude de Belo Monte deveria ter
plano de desenvolvimento sustentável para a área de abrangência. Quanto à BR-319, será
altamente danosa do ponto de
vista ambiental. E, do ponto de
vista de oportunidade e conveniência, é desnecessária.
Texto Anterior: Base articula 3º mandato de Lula, diz Jarbas Próximo Texto: Elio Gaspari: A ekipekonômica quer subsidiar o rentista Índice
|