UOL

São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo cede e reduz poder do PT

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pressionado pelos partidos que compõem a base de sustentação do Palácio do Planalto no Congresso, a liderança do governo na Câmara dos Deputados fechou ontem um acordo para anular a avaliação de que o PT seria supervalorizado na tramitação da reforma da Previdência.
Agora, qualquer emenda ao texto que contar com a simpatia do governo será assumida e elaborada por todos os dez partidos da base aliada.
A decisão decorre da avaliação de que seria dada ao PT a exclusividade de apresentar as propostas de alteração à reforma que possam contar com o aval do Planalto, ou seja, as com maior chance de êxito. PMDB, PTB e PPS, entre outros, ameaçaram uma revolta.
"O padrinho das modificações tem que ser a base do governo, não o partido A ou o B. Fizemos um acordo para que ninguém seja dono isolado de mudanças que o governo possa encampar", afirmou o deputado Eunício Oliveira (CE), líder da bancada peemedebista na Casa.
O acordo aconteceu numa reunião ontem entre o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), líder do governo na Câmara, e os demais líderes dos partidos da base aliada. Aldo negou a existência de reclamações contra o PT, mas afirmou ter ficado decidido que "a base do governo vai buscar uma posição comum em todos os pontos que sejam discutidos na comissão [que analisa a reforma]".
Apesar da negativa do líder do governo, vários dos demais presentes à reunião, além de Eunício, confirmaram que a insatisfação com o suposto beneficiamento do PT foi o tema central da reunião.
Entre eles, estava o líder da bancada petista, Nelson Pellegrino (BA), que procurou afastar a possibilidade de tratamento diferenciado: "Se houver uma concessão do governo, tem que ser via base. O PT nunca se arrogou ser dono de emenda ou da reforma".
O fato é que líderes dos partidos governistas têm concluído que estão defendendo uma proposta impopular para importantes segmentos da sociedade. Seria tremendamente injusto, na avaliação deles, que na hora de aprovar modificações que, em tese, representariam uma alívio no desgaste, o PT fosse o único a ser agraciado.
O governo vem dando sinais de que pode acatar alterações que não mexam na "espinha dorsal" da proposta. A reforma da Previdência chegou à Câmara no final de abril e foi aprovada na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) no último dia 5. A comissão especial que analisará o mérito da proposta foi instalada anteontem.

Contrários
A Folha apurou que outros três pontos foram discutidos na reunião, todos ligados à avaliação de que setores da base estariam "rendendo" abaixo do esperado.
O primeiro tema resultou na decisão de que os líderes terão que assegurar que todos os aliados votem com o governo na comissão especial. O recado foi dirigido a PTB, PDT e PC do B, que indicaram para a comissão integrantes declaradamente contrários à proposta do governo. O PT não havia indicado os membros da comissão até o final da tarde de ontem.
O segundo ponto foi a necessidade de os governadores -os principais avalistas da proposta- atuarem de forma mais decisiva no convencimento de suas bancadas.
Por fim, os governistas concluíram que os deputados da base que compõem as comissões permanentes da Casa precisam ter mais atenção, já que decisões contrárias ao governo estariam sendo aprovadas mesmo a oposição sendo minoria em todas elas.


Texto Anterior: Planalto mantém jornalistas longe do presidente
Próximo Texto: Mercadante adia debate sobre juros no Senado
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.