|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RETRATO DO BRASIL
IBGE mostra que 59,9% dos alunos estão entre os 20% com maior renda; entre os mais pobres, só 3,4%
Mais ricos dominam universidade pública
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Seis em cada dez estudantes de
universidades públicas no Brasil
pertencem à camada mais rica da
população. É o que mostra um
cruzamento feito pela primeira
vez pelo IBGE na Síntese de Indicadores Sociais divulgada ontem.
Segundo a pesquisa, 59,9% dos
estudantes de instituições públicas de ensino superior têm renda
familiar per capita que os coloca
entre os 20% mais ricos da população. No outro extremo, a participação dos mais pobres nas universidades públicas é quase pífia.
Os 20% mais pobres ocupam apenas 3,4% do total das vagas.
Em 2001, uma pessoa em idade
ativa que estava entre os 20%
mais ricos da população recebia,
em média, aproximadamente, R$
1.875/mês. Entre os 20% mais pobres, a renda média era R$ 106,5.
Mesmo em um corte maior,
avaliando a participação dos 60%
mais pobres da população, a pesquisa mostra que os brasileiros de
menor renda continuam sub-representados nas universidades
públicas (17,1% dos estudantes).
A pesquisa não fez a mesma tabulação para as instituições privadas, onde estão 70% dos universitários brasileiros. Pesquisas anteriores, feitas com base na Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra
por Domicílios) de 1999, porém,
indicam que a elitização do ensino superior não é privilégio das
instituições públicas.
Em 1999, segundo uma tabulação feita pelo ex-presidente do IBGE Simon Schwartzman, a participação dos 20% mais ricos no ensino superior, sem distinção entre rede pública e privada, era de
70,7% do total. Os 20% mais pobres ocupavam apenas 0,9%.
"Não há dúvida de que o ensino
superior é elitista. É assim em todo lugar do mundo. O que pode
ser interessante é verificar se é
verdade que o perfil socioeconômico dos estudantes do setor público é semelhante ou diferente do
perfil dos alunos do setor privado", afirma Schwartzman.
A tabulação feita por Schwartzman comparando o perfil de todos os estudantes universitários
mostrou que a expansão desse nível de ensino na década de 90 não
mudou o perfil elitista.
Outros cruzamentos do IBGE
mostram que o processo de elitização começa no ensino médio,
mas é acentuado na passagem para a universidade. Entre 15 e 17
anos, época em se deveria cursar o
ensino médio, quase um terço
(29,2%) dos adolescentes que pertencem aos 20% mais pobres da
população já não estão estudando
mais. Entre os 20% mais ricos, essa porcentagem é de apenas 5,4%.
A análise do perfil socioeconômico dos alunos da rede pública
no ensino médio, porém, deixa
claro que o filtro do vestibular torna o ensino ainda mais elitista.
Os 20% mais pobres da população, que são 3,4% nas universidades públicas, representam 11,5%
das vagas de ensino médio público, contra 16,6% de participação
dos jovens que se estão entre os
20% mais ricos da população brasileira e que, no ensino superior
público, ocupam 59,9% das vagas.
A especialista em educação Dolores Kappel, que tabulou esses
dados, chama atenção para o fato
de no ensino médio público existir uma camada expressiva da população de maior renda: "Eles estão, provavelmente, matriculados
em instituições federais, como escolas técnicas e colégios de aplicação das universidades públicas".
Atraso escolar
A pesquisa mostrou dados novos sobre o atraso escolar. A partir
dos sete anos, a defasagem idade/
série aumenta gradualmente, sendo maior na rede pública. Ela é
maior, no entanto, entre os estudantes entre 18 e 24 anos.
Apenas 26,3% dos 7,8 milhões
de jovens de 18 a 24 anos que estudam frequentam universidades.
Entre eles, 25% ainda estão no ensino fundamental. Para Kappel,
há uma leitura positiva possível:
mostra interesse entre os que já
entraram ou tentam entrar no
mercado em recuperar o tempo
na educação. Entre os mais novos,
uma das explicações para a defasagem é o trabalho infantil.
Texto Anterior: Mercado paga mais a branco que a negro Próximo Texto: Publicação traz dados extraídos da Pnad de 2001 Índice
|