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QUESTÃO INDÍGENA
Segundo ministro da Justiça, a futura reserva Raposa/Serra do Sol, em Roraima, não será revista
Bastos diz que não mudará área demarcada
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RORAIMA
O ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, disse ontem em
Boa Vista (RR) que o governo federal não vai rever a demarcação
da terra indígena Raposa/Serra do
Sol, como pleiteia o governador
de Estado, Flamarion Portela, filiado ao PT em março.
"Não acredito que haja essa
possibilidade [de rever a demarcação]. Isso nem está sendo cogitado", afirmou o ministro à Agência Folha, no fim de uma viagem
de três dias a Roraima, na qual
conversou com políticos, índios e
fazendeiros sobre o assunto.
Em 1998, o então ministro da
Justiça, Renan Calheiros, declarou a Raposa/Serra do Sol, no noroeste de Roraima, posse permanente dos índios macuxi, uapixana, ingaricó e taurepangue.
Pela lei, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva pode assinar a homologação a qualquer momento.
No ano passado, uma liminar que
impedia a homologação, parte de
ação aberta pelo governo de Roraima, foi derrubada no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
A viagem de Bastos a Roraima,
segundo ele, teve como objetivo
preparar um acordo para a homologação, "ouvindo todas as
versões e procurando não fechar
nenhuma opinião", a ser levada à
apreciação de Lula. A principal dificuldade é a presença de não-índios na área da reserva.
Em março, o presidente do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), dom Gianfranco Masserdotti, disse haver "suspeitas" de
que a não-homologação da terra
indígena tenha sido usada como
"moeda de troca" pelo governo
Lula para a filiação de Portela.
No primeiro dia da viagem, na
terça-feira, o governador reafirmou ao ministro sua posição contrária à demarcação da terra no
modo proposto. Portela quer que,
da área prevista de 1,75 milhão de
hectares (7,7% do território de
Roraima, equivalente a quase 12
vezes a área da cidade de São Paulo), sejam excluídos 400 mil hectares, onde ficam três cidades e
plantações de arroz.
Segundo a Funai (Fundação
Nacional do Índio), o total de terras comprometidas com povos
indígenas no Estado equivale a
43% do território.
"O Estado de Roraima precisa
de uma definição para se projetar
e oferecer políticas públicas para
seu povo", afirmou o governador.
Divisão entre índios
O ministro visitou de helicóptero, anteontem e ontem, quatro aldeias e ouviu cerca de 50 lideranças indígenas. Ele dormiu no 6º
Pelotão Especial de Fronteira.
Os índios não aceitam a demarcação parcial da terra, como quer
o governador, mas se dividem
quanto à presença de não-índios
na futura reserva -na maioria,
fazendeiros e garimpeiros que
aguardam para explorar ouro e
diamantes nos rios da reserva.
A saída dos não-índios pode
provocar novas ações na Justiça
contra a demarcação.
O grupo que defende a permanência dos não-índios, liderado
pela Associação de Defesa dos Povos do Norte de Roraima, teme
que o governo do Estado retire escolas e benfeitorias com energia
elétrica e água potável.
"A nossa proposta é pela homologação integrada. Qualquer coisa
que tem desenvolvimento tem
pontos negativos e positivos. Precisamos valorizar os positivos. Se
o governo decidir o contrário,
com certeza vai piorar o nosso
isolamento", disse o índio Dilson
Domente, na maloca Serra do Sol,
berço da etnia ingaricó.
O grupo que pede a saída dos
não-índios da reserva é liderado
pelo CIR (Conselho Indígena de
Roraima), ligado à Igreja Católica.
Eles querem a saída de não-índios
de Pacaraima e Uraimutã. Segundo a Funai, há 104 não-índios em
Pacaraima e 704 em Uraimutã, cidades dentro da área demarcada.
Segundo o CIR, os indígenas cederam uma parte do território para a instalação da sede municipal
de Normandia para abreviar a demarcação e não questionam mais
essa localidade. O conselho também está discutindo a permanência do 6º Pelotão Especial de
Fronteira, onde estão 60 militares.
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