São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 2006

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Telemar corta telefone de gabinete de Rosinha

Suspensão foi motivada por dívida de cerca de R$ 16 mi

RAPHAEL GOMIDE
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DA FOLHA

Em grave crise financeira e sem dinheiro nem para pagar dívidas atrasadas da operadora de telefonia Telemar, o governo do Estado do Rio foi constrangido ontem com o corte de linhas telefônicas no gabinete da governadora Rosinha Matheus (PMDB). As contas são relativas a telefone, internet e transmissão de dados.
A dívida de cerca de R$ 16 milhões deixou os aparelhos mudos ainda boa parte do dia no gabinete do vice-governador Luiz Paulo Conde, no Gabinete Civil, na Secretaria de Justiça, na Proderj e na Faetec. No total, o Estado deve à Telemar pouco menos de R$ 50 milhões. O governo nega ter havido corte no gabinete de Rosinha.
A decisão de cortar as linhas irritou a cúpula do governo, que pediu à Telemar uma reunião de emergência, da qual participaram três secretários de Estado e a direção da empresa. Após o encontro, o governo ganhou novos prazos para poder pagar o que deve. Os telefones foram religados depois de terminada a reunião.
Em nota no fim da tarde, a Secretaria Estadual de Comunicação Social acusou a Telemar de dever ao Estado do Rio R$ 637,5 milhões, em multas de ICMS e em multas aplicadas por entidades como o Procon-RJ (Programa de Orientação e Proteção ao Consumidor), a Serla (Superintendência Estadual de Rios e Lagoas) e a Feema (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente).
A empresa informa que não reconhece as dívidas e que as contesta judicialmente.
O governo disse considerar que a medida "tem caráter nitidamente político-eleitoral". Funcionários do primeiro escalão classificaram a ação da Telemar de "chantagem". Segundo a nota, as contas deste ano estão em dia, e a dívida diz respeito a exercícios passados, que estão "em permanente negociação". O pagamento estaria previsto para agosto.

Crise
A Folha revelou na semana passada que a crise financeira do Estado do Rio deixou secretarias às escuras, recolheu telefones celulares e rádios até de secretários, cortou combustível e implantou racionamento de papel, de cartuchos de tinta e até de grampos policiais.
Rosinha contingenciou R$ 1,4 bilhão e adotou "economia de guerra" para evitar ser enquadrada na Lei de Responsabilidade Fiscal, após autorizar o empenho de 40% do Orçamento no primeiro trimestre.
De acordo com o que a Telemar informou em nota, "as negociações para pagamento da dívida do governo do Estado do Rio de Janeiro foram retomadas" ontem à tarde e "o governo estadual se comprometeu a apresentar até 21 de julho um novo cronograma de pagamento. Com isso, os serviços de telecomunicações suspensos foram religados".
A Secretaria da Justiça, uma das que tiveram os telefones cortados ontem, já tinha linhas bloqueadas -só podiam receber chamadas, além de ter tido celulares recolhidos, como em outras secretarias.
Funcionários estão se dividindo em grupos para receber férias de 15 dias, por falta de condições e material de trabalho. Folhas de papel têm sido usadas dos dois lados, faltam cartuchos de impressora, os aparelhos de ar-condicionado ficam desligados e a instrução é economizar até no uso de canetas e no consumo de água.
Em todas as secretarias, carros alugados foram devolvidos e o combustível foi racionado. Os secretários estão apelando ao emocional dos funcionários do Estado, pedindo que eles "não entreguem a toalha".


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