São Paulo, sexta-feira, 13 de julho de 2007

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Renan retarda processo e amplia crise com oposição

Investigado pelo Conselho de Ética, presidente do Senado adia reunião decisiva

Em protesto contra Renan, senadores da oposição na Casa chegaram a deixar o plenário e a ameaçar partir para a "selvageria política"

Ueslei Marcelino/Folha Imagem
Os senadores Gilvam Borges (PMDB), à esq., José Agripino (DEM) e os tucanos Sérgio Guerra, Marisa Serrano e Tasso Jereissati

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ignorou acordo feito entre líderes partidários e a Mesa Diretora da Casa e adiou em pelo menos cinco dias o processo contra ele, por quebra de decoro, no Conselho de Ética. Em protesto, a oposição se retirou do plenário e ameaça não votar mais nada enquanto ele não se afastar do cargo.
Em mais uma manobra protelatória, o presidente do Senado jogou para terça-feira -véspera do recesso parlamentar- a reunião da Mesa Diretora que decidirá se encaminha à Polícia Federal pedido para retomar perícia em documentos apresentados por sua defesa. A reunião seria ontem. O anúncio foi feito pelo vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), e provocou imediata reação da oposição.
Apesar das cobranças, Renan não apareceu no plenário. "Se isso não for resolvido nos próximos minutos, conclamo os senadores do meu partido a ser retirarem do plenário e não votar mais nada sob a presidência do senador Renan", afirmou o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE).
"O presidente Renan pediu essa perícia há um mês e agora mudou o entendimento. Será que ele deve e está temendo?", questionou o líder do DEM, senador José Agripino (RN). A oposição acusa Renan de interferir nas investigações. Já Renan afirma que a oposição quer tomar a presidência do Senado. Mais tarde, a oposição recuou e disse que fará "vigília" até terça para só então, dependendo dos acontecimentos, radicalizar. "Se a Mesa fizer o que prometeu, não vejo sentido em fazer greve de senadores. O prazo limite é terça, a partir daí entramos no campo da selvageria política", disse o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).
Desde o início da crise, no final de maio, essa é a terceira vez que o plenário se transforma em palco de bate-bocas. O Conselho de Ética investiga se Renan teve despesas pessoais pagas por um lobista da empreiteira Mendes Júnior. "Os senadores precisam ter cautela. Os senhores estão querendo atropelar o processo", afirmou o senador Almeida Lima (PMDB-SE), da tropa de choque de Renan e um dos relatores do processo.

Perícia
O Conselho de Ética encaminhou ontem à tarde ofício à Mesa, com o voto contrário de Almeida Lima, solicitando que seja oficializado o pedido de perícia complementar da PF nos documentos de Renan. Para Almeida Lima, no entanto, a PF não pode fazer a perícia porque não tem autorização do STF (Supremo Tribunal Federal) para investigar Renan, que tem foro privilegiado.
Os líderes da oposição, a direção do conselho, integrantes da Mesa e Tião Viana, que conduziria a reunião, fizeram um acordo anteontem para que a Mesa se reunisse hoje logo após o recebimento do ofício. O entendimento foi feito em plenário enquanto Renan estava no Palácio do Planalto, em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Quem tem 28 votos não marca reunião da Mesa. Quem marca é quem ganhou eleição", disse Renan ontem, referindo-se à eleição para a presidência do Senado, quando derrotou Agripino por 51 votos a 28.
Depois de ser cobrado pela oposição, Renan enviou um comunicado ao plenário, lido por Tião Viana, alegando que recebeu o ofício do conselho somente às 16h30. Ele afirmou que marcou a reunião da Mesa para terça-feira para dar tempo de notificar os advogados das partes -ele e o PSOL, que é o autor da representação.
A perícia da PF é a principal linha de investigação do conselho. O objetivo é verificar se as operações de venda de gado declaradas por Renan realmente ocorreram ou foram simuladas para aumentar seu patrimônio. O ofício tem 30 perguntas para checar a veracidade dessas operações, além da evolução patrimonial de Renan.


Colaborou RANIER BRAGON, da Sucursal de Brasília

NA INTERNET - Leia as 30 questões encaminhadas à Mesa Diretora www.folha.com.br/071932


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