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Grampo indica elo de fraudes com eleição
Sócios da Angraporto, investigada por fraudes em licitações da Petrobras, falam, em conversa gravada, sobre "dízimo" para campanhas
Denunciados por fazer parte de um esquema que visava a fraudar licitações, sócios da empresa falam vagamente de contribuições a políticos
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Conversas telefônicas entre
sócios da Angraporto, interceptadas pela Polícia Federal, indicam que o esquema de fraudes
em licitações da Petrobras pode ter envolvido financiamento
de campanhas eleitorais.
Diálogo entre dois sócios da
Angraporto, transcrito pelo
juiz da 4ª Vara Criminal Federal no Rio, Flávio Oliveira Lucas, faz referência a ""pagamento de dízimo de campanha".
O diálogo, entre Fernando
Sterea e Wladimir Pereira Gomes, foi gravado em 20 de outubro de 2006, no segundo turno
da campanha. A contribuição
para campanhas é tratada de
forma vaga, sem identificação
de políticos nem de partidos.
Sterea diz ""aquela pessoa dele está pedindo algo relativo ao
dízimo da campanha e que está
veemente com o total". O outro
sócio diz que ""tecnicamente
não devem nada". Sterea insiste que ""o cara quer o total".
Os dois estão entre os 14 presos na operação da PF que investigou as fraudes nas licitações para reforma de quatro
plataformas de exploração de
petróleo: P-10, P-14, P-16 e P-22. Os contratos somaram cerca de R$ 200 milhões. A investigação durou 2 anos, e 26 pessoas foram denunciadas pelo
Ministério Público Federal,
sendo cinco funcionários da
Petrobras, três dos quais estão
presos. O juiz decretou a prisão
preventiva de 18 envolvidos,
mas quatro estão foragidos.
Entre os denunciados estão
representantes da Iesa Óleo &
Gás e do estaleiro Mauá Jurong, que, segundo a denúncia,
teriam vencido licitações com
informações privilegiadas de
funcionários da estatal.
Influência política
No despacho, o juiz afirma
que Sterea demonstrava ter
trânsito no meio político e
transcreveu trechos de conversa telefônica em 16 de novembro de 2006 entre o empresário
e o à época futuro presidente da
Cedae (Companhia Estadual de
Águas e Esgotos), Wagner Victer, oriundo da Petrobras.
Sterea sugere o nome de Ruy
Castanheira -outro preso na
operação- para a diretoria financeira da Cedae e diz que ""o
governador gosta muito dele",
referindo-se a Sérgio Cabral.
A tentativa é frustrada. Victer manda Sterea ""parar de fazer lobby" e diz que já tinha escolhido o diretor financeiro.
Castanheira foi apontado pelo
Ministério Público como um
dos cabeças do esquema de
fraudes. Ele seria o coordenador das empresas fantasmas
que forneciam notas fiscais
frias para dificultar o rastreamento de recursos usados para
os pagamentos de propinas.
O despacho faz várias referências a pagamentos de propinas a funcionários da Petrobras
e do órgão de licença ambiental
do Rio, a Feema. O coordenador da comissão de licitação,
Carlos Alberto Feitosa, segundo o juiz, teria recebido propina
de 10% em licitação de 2003.
A denúncia menciona diálogo entre os sócios da Angraporto Mauro Zamprogno e Wladimir Pereira Gomes, em que o
primeiro pede ao segundo que
providencie R$ 6 mil de adiantamento aos colaboradores, referindo-se, segundo o Ministério Público, a Feitosa, que também teria recebido um Audi.
Outro diálogo citado na acusação do Ministério Público
Federal faz referência explícita
a pagamento de propina a José
Antonio Villanueva, gerente da
Petrobras, em Macaé.
"Inclusive, oh Fernando, tá
combinado aqui, com o Villa e
com o Rômulo, independente
do restante, a gente ganhando
essa concorrência, tem que ter
uma verbinha pro Fernando
Sterea, pro Mauro Zamprogno,
pro Villa e pro Rômulo ir a Paris
por quatro dias, tá?". Um dos
interlocutores foi identificado
como o próprio Zamprogno. O
outro não foi identificado. O
Rômulo citado é Rômulo Miguel Moraes, gerente da Petrobras em Macaé. Segundo o Ministério Público, ele viajou aos
EUA e França com despesas
pagas pela Angraporto.
A denúncia se baseia em uma
série de escutas telefônicas realizadas com autorização judicial a partir de 2005. Houve
quebra de sigilo fiscal e bancário de empresas e dos acusados.
Tarso
Ontem, no Rio, o ministro da
Justiça, Tarso Genro, disse que
a operação Águas Profundas
não tem relação com doações
eleitorais de empresas acuadas
de de fraudarem licitações da
Petrobras: "A PF não investiga
partidos ou contas de campanha. A PF investiga delitos".
A Folha noticiou ontem que
uma das empresas investigadas
na operação Águas Profundas,
a Iesa Óleo & Gás, doou R$ 1,6
milhão para o PT em 2006.
O ministro destacou a colaboração da direção da Petrobras com a investigação: "É necessário deixar bem claro que a
Polícia Federal foi demandada
pela direção da Petrobras,
quando esta teve a informação
de que ocorriam irregularidades, e aí o serviço de segurança
da Petrobras trabalhou de maneira articulada com a PF".
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