São Paulo, sexta-feira, 13 de julho de 2007

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Grampo indica elo de fraudes com eleição

Sócios da Angraporto, investigada por fraudes em licitações da Petrobras, falam, em conversa gravada, sobre "dízimo" para campanhas

Denunciados por fazer parte de um esquema que visava a fraudar licitações, sócios da empresa falam vagamente de contribuições a políticos

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Conversas telefônicas entre sócios da Angraporto, interceptadas pela Polícia Federal, indicam que o esquema de fraudes em licitações da Petrobras pode ter envolvido financiamento de campanhas eleitorais.
Diálogo entre dois sócios da Angraporto, transcrito pelo juiz da 4ª Vara Criminal Federal no Rio, Flávio Oliveira Lucas, faz referência a ""pagamento de dízimo de campanha".
O diálogo, entre Fernando Sterea e Wladimir Pereira Gomes, foi gravado em 20 de outubro de 2006, no segundo turno da campanha. A contribuição para campanhas é tratada de forma vaga, sem identificação de políticos nem de partidos.
Sterea diz ""aquela pessoa dele está pedindo algo relativo ao dízimo da campanha e que está veemente com o total". O outro sócio diz que ""tecnicamente não devem nada". Sterea insiste que ""o cara quer o total".
Os dois estão entre os 14 presos na operação da PF que investigou as fraudes nas licitações para reforma de quatro plataformas de exploração de petróleo: P-10, P-14, P-16 e P-22. Os contratos somaram cerca de R$ 200 milhões. A investigação durou 2 anos, e 26 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Federal, sendo cinco funcionários da Petrobras, três dos quais estão presos. O juiz decretou a prisão preventiva de 18 envolvidos, mas quatro estão foragidos.
Entre os denunciados estão representantes da Iesa Óleo & Gás e do estaleiro Mauá Jurong, que, segundo a denúncia, teriam vencido licitações com informações privilegiadas de funcionários da estatal.

Influência política
No despacho, o juiz afirma que Sterea demonstrava ter trânsito no meio político e transcreveu trechos de conversa telefônica em 16 de novembro de 2006 entre o empresário e o à época futuro presidente da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos), Wagner Victer, oriundo da Petrobras.
Sterea sugere o nome de Ruy Castanheira -outro preso na operação- para a diretoria financeira da Cedae e diz que ""o governador gosta muito dele", referindo-se a Sérgio Cabral.
A tentativa é frustrada. Victer manda Sterea ""parar de fazer lobby" e diz que já tinha escolhido o diretor financeiro. Castanheira foi apontado pelo Ministério Público como um dos cabeças do esquema de fraudes. Ele seria o coordenador das empresas fantasmas que forneciam notas fiscais frias para dificultar o rastreamento de recursos usados para os pagamentos de propinas.
O despacho faz várias referências a pagamentos de propinas a funcionários da Petrobras e do órgão de licença ambiental do Rio, a Feema. O coordenador da comissão de licitação, Carlos Alberto Feitosa, segundo o juiz, teria recebido propina de 10% em licitação de 2003.
A denúncia menciona diálogo entre os sócios da Angraporto Mauro Zamprogno e Wladimir Pereira Gomes, em que o primeiro pede ao segundo que providencie R$ 6 mil de adiantamento aos colaboradores, referindo-se, segundo o Ministério Público, a Feitosa, que também teria recebido um Audi.
Outro diálogo citado na acusação do Ministério Público Federal faz referência explícita a pagamento de propina a José Antonio Villanueva, gerente da Petrobras, em Macaé.
"Inclusive, oh Fernando, tá combinado aqui, com o Villa e com o Rômulo, independente do restante, a gente ganhando essa concorrência, tem que ter uma verbinha pro Fernando Sterea, pro Mauro Zamprogno, pro Villa e pro Rômulo ir a Paris por quatro dias, tá?". Um dos interlocutores foi identificado como o próprio Zamprogno. O outro não foi identificado. O Rômulo citado é Rômulo Miguel Moraes, gerente da Petrobras em Macaé. Segundo o Ministério Público, ele viajou aos EUA e França com despesas pagas pela Angraporto.
A denúncia se baseia em uma série de escutas telefônicas realizadas com autorização judicial a partir de 2005. Houve quebra de sigilo fiscal e bancário de empresas e dos acusados.

Tarso
Ontem, no Rio, o ministro da Justiça, Tarso Genro, disse que a operação Águas Profundas não tem relação com doações eleitorais de empresas acuadas de de fraudarem licitações da Petrobras: "A PF não investiga partidos ou contas de campanha. A PF investiga delitos".
A Folha noticiou ontem que uma das empresas investigadas na operação Águas Profundas, a Iesa Óleo & Gás, doou R$ 1,6 milhão para o PT em 2006.
O ministro destacou a colaboração da direção da Petrobras com a investigação: "É necessário deixar bem claro que a Polícia Federal foi demandada pela direção da Petrobras, quando esta teve a informação de que ocorriam irregularidades, e aí o serviço de segurança da Petrobras trabalhou de maneira articulada com a PF".


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