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Órgão do governo arquivou processo contra Opportunity
Banco é suspeito de fazer remessas ilegais para o exterior; secretário nacional de Justiça vai abrir investigação interna
Paralisação foi feita no DRCI durante a gestão de Antenor Madruga, atualmente sócio de um dos principais advogados de Daniel Dantas
ALAN GRIPP
ANDRÉA MICHAEL
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, determinou a abertura de investigação interna para apurar se o
banco Opportunity, de Daniel
Dantas, foi favorecido em processos paralisados no DRCI
(Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional), órgão do
Ministério da Justiça subordinado à secretaria.
O anúncio foi feito depois
que a Folha procurou o secretário questionando dados sobre um processo engavetado
no DRCI contra a instituição financeira, apesar das suspeitas
de que o banco fizera remessas
ilegais de brasileiros para paraísos fiscais.
A investigação contra o Opportunity foi paralisada na gestão de Antenor Madruga, hoje
sócio de um dos principais advogados de Daniel Dantas,
Francisco Müssnich, que é namorado da irmã do banqueiro,
Verônica Dantas.
Procurado pela Folha, Tuma
Júnior informou que localizou
o processo no arquivo do DRCI
e que, por isso, ordenou a abertura de uma sindicância. "Realmente há um procedimento
antigo, sem solução, arquivado
irregularmente. Vamos instaurar um procedimento para
apurar conseqüências, extensão e profundidade dos fatos."
Alerta da CGU
Em 2003, o ministério recebeu um comunicado da CGU
(Controladoria Geral da União)
alertando sobre a suposta existência de aplicações de brasileiros em um fundo aberto pelo
Opportunity exclusivamente
para não-residentes no Brasil
(isentos de Imposto de Renda).
O Opportunity Fund foi
aberto nas ilhas Cayman, um
paraíso fiscal. O caso foi repassado ao DRCI e, pouco depois,
arquivado após um despacho
de Madruga.
Ele comandou o DRCI desde
a sua fundação, no início de
2004, até março de 2007. Poucos meses depois de deixar o
ministério, tornou-se sócio do
escritório Barbosa, Müssnich &
Aragão Advogados, que tem entre os seus fundadores Francisco Müssnich.
Müssnich defendeu o Opportunity, entre outras causas, em
processo na CVM (Comissão
de Valores Mobiliários) que
tratava exatamente do Opportunity Fund. Em setembro de
2004, a CVM decidiu multar,
por unanimidade, o grupo Opportunity em R$ 480 mil.
As penalidades foram aplicadas a Verônica Dantas, Dório
Ferman (presidente do Opportunity) e a três empresas do
grupo, por operações que teriam desrespeitado normas do
Banco Central e a legislação fiscal. As multas foram canceladas após recurso interposto por
Müssnich no Conselho de Recursos do Sistema Financeiro
Nacional, o Conselhinho.
A sindicância aberta na Secretaria Nacional de Justiça vai
apurar de quem foi a responsabilidade pelo arquivamento da
denúncia encaminhada pela
CGU e se ele foi feito indevidamente. Se a apuração concluir
que houve favorecimento ao
Opportunity dentro do DRCI, o
ministério poderá enviar uma
representação criminal ao Ministério Público.
O DRCI é o órgão do Ministério da Justiça responsável por
firmar acordos de cooperação
internacional e por tentar, entre outras funções, repatriar os
recursos que deixaram o país
ilegalmente.
Operação
A descoberta das supostas
fraudes no Opportunity Fund
está entre as acusações que levaram a Polícia Federal a deflagrar na última terça-feira a
Operação Satiagraha. Daniel
Dantas, Verônica, Ferman e
mais 14 pessoas foram presas
acusadas pelos crimes de corrupção, sonegação fiscal, evasão de divisas e crime contra o
sistema financeiro. Todas as
pessoas ligadas ao Opportunity
foram liberadas menos de 48
horas depois pelo presidente
do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes.
O processo na CVM foi aberto a partir de denúncias feitas
pelo empresário Luiz Roberto
Demarco, ex-sócio do Opportunity e adversário declarado
de Daniel Dantas.
Demarco informou à CVM
que havia investido US$ 500
mil em vários subfundos do
Opportunity Fund, em Cayman, em 1997. Ele também disse que o banco admitia brasileiros em aplicações criadas para
residentes no exterior, desrespeitando a legislação brasileira.
E entregou à CVM cópias de
fac-símiles, e-mails e as planilhas das aplicações.
Em depoimento à comissão,
a então funcionária do Opportunity Rosângela Browne confirmou que preencheu dois documentos de subscrição do
fundo para Demarco "destinados à aplicação nos subfundos
do Opportunity Fund Money
Market e Brazilian Hedge".
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