São Paulo, terça-feira, 13 de agosto de 2002

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TRANSIÇÃO

Campanha de José Serra pressionou para evitar os encontros; acordo com FMI e transição estão na pauta

Dólar alto leva FHC a chamar candidatos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO PAINEL EM BRASÍLIA

A nova alta do dólar após o anúncio do acordo com o FMI levou o presidente Fernando Henrique Cardoso a convidar os quatro principais candidatos ao Palácio do Planalto para encontros separados ainda neste mês. FHC quer discutir o acordo de US$ 30 bilhões fechado com o Fundo Monetário Internacional e o processo de transição de governo.
A volta da turbulência econômica na última sexta, um dia depois do anúncio do acordo com o FMI, levou FHC a reconsiderar a hipótese de se reunir com os candidatos. Os contatos começaram a ser feitos no final de semana.
A iniciativa foi confirmada ontem à noite por meio de nota assinada pelo ministro Pedro Parente (Casa Civil). O texto diz que o presidente está "convidando cada um dos principais candidatos à Presidência para conversas sobre a economia brasileira, os entendimentos com o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o conteúdo do acordo com o Fundo Monetário Internacional e o papel do acordo no processo de transição para um novo governo".
O presidente sofreu pressão da campanha presidencial do tucano José Serra para evitar esse tipo de encontro, mas a volta da turbulência econômica e a sensação do mercado financeiro de que o candidato governista tem pouca chance de ir ao segundo turno fizeram com o que emissários do Palácio do Planalto estabelecessem os primeiros contatos.
Parente procurou assessores e aliados dos candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB). Ciro aceitou. Lula também deverá aceitar. E Garotinho disse que vai avaliar e responderá hoje.
Ontem à noite, em São Paulo, o candidato do PPS negou que o contato já tenha sido feito, mas se disse disposto a conversar. "Qualquer cidadão brasileiro, chamado pelo presidente, tem o dever de educação política de atender ao convite", afirmou, para em seguida completar que participaria do encontro "sem reservas".
"O que pega é catapora. Conversa, não", declarou ainda em entrevista à Bandeirantes.
Até a semana passada, a campanha de Serra era contrária ao encontro de FHC com os presidenciáveis. A avaliação era que uma foto de FHC ao lado de Lula e Ciro transmitiria a imagem de que Serra já seria tratado como derrotado pelo Planalto. A cúpula petista também tinha restrições ao encontro por achar que Lula poderia perder a marca de oposição e sua eventual gestão ser vista como continuidade dos anos FHC.
No entanto, Lula sempre deixou claro que, se convidado, não teria como recusar, sob o risco de passar a imagem de intransigente. São boas as relações entre a cúpula do PT e FHC, que já disse a interlocutores que votaria em Lula em um eventual segundo turno contra Ciro.
Já o PT foi o partido de oposição que jogou mais afinado com o governo na negociação com o FMI. O deputado Aloizio Mercadante, um dos principais assessores econômicos de Lula, elogiou a iniciativa. "Acho positivo que o presidente procure os candidatos e que haja uma transição entre esse governo e o próximo."
FHC vem mantendo contato com o PT, em conversas telefônicas com o presidente do partido, José Dirceu. A última ligação ocorreu no final da semana, quando FHC abordou a hipótese do encontro com Lula. Dirceu afirmou que não via nenhum empecilho e discutiu o tema em reunião ontem em São Paulo.
O presidente do PPS, senador Roberto Freire, esteve na semana passada com FHC no Alvorada. Na ocasião, o presidente afirmou que gostaria de conversar com todos os partidos sobre a situação econômica e sobre o acordo. Mas não pediu que o senador fosse intermediário de um convite a Ciro. Àquela altura, FHC preferia não fazer o encontro, na esperança de que o acordo com o FMI derrubasse o dólar para menos de R$ 3.


Com a Reportagem Local



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