|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUESTÃO AGRÁRIA
Presidente e governador trocam acusações sobre a presença de forças federais em fazenda em Buritis
FHC ataca Itamar, mas pode tirar tropas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O presidente Fernando Henrique Cardoso reagiu ao ultimato
do governador Itamar Franco para retirar as tropas federais que
protegem a fazenda de seus filhos
em Buritis (MG) cobrando uma
atuação efetiva da Polícia Militar
mineira para impedir uma eventual tentativa de invasão da propriedade pelos sem-terra.
Após receber a carta de FHC, o
governo mineiro declarou que
qualquer medida de Itamar só seria tomada hoje pela manhã.
A decisão de FHC foi apresentada em uma carta divulgada na
noite de ontem e enviada por fax
ao governador Itamar Franco
(sem partido) às 23h40. O presidente havia discutido o assunto
por três horas e 40 minutos com
ministros e o advogado-geral da
União, Gilmar Mendes.
Antes de redigir o documento,
FHC também conversou como o
presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Carlos
Velloso, que é mineiro.
O governo deve retirar as tropas
do Exército enviadas à fazenda
dos filhos de FHC, mas, para isso,
Itamar teria de enviar soldados da
PM para proteger a propriedade.
Na carta, o presidente afirma
que havia enviado tropas do Exército para a fazenda em Buritis
porque o governo mineiro não tinha respondido aos "insistentes
pedidos de medidas preventivas"
feitas pelo ministro Alberto Cardoso (Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República) e pelo diretor da Polícia
Federal, Agílio Monteiro.
Críticas
O presidente, que, até então, tinha evitado responder ao ultimato feito pelo governador mineiro,
reagiu duramente às últimas críticas feitas por Itamar, que deu prazo de 12 horas para o presidente
retirar as tropas do Exército da fazenda. O prazo venceria às 6h.
No último parágrafo da carta,
FHC declarou: "Tendo tomado
conhecimento, entretanto, de
que, por força das gestões inspiradas nos mais elevados propósitos
do ministro Carlos Velloso, presidente do Supremo Tribunal Federal, Vossa Excelência agora se dispõe a fazer cumprir a Constituição, estou na convicção de que
determinará que a Polícia Militar
cumpra seu dever. Feito isso, tornar-se-á desnecessária a presença
do Batalhão da Guarda Presidencial", disse o presidente.
Uma cópia da carta foi entregue
a Velloso logo após a reunião pelo
ministro Aloysio Nunes Ferreira
(secretário-geral da Presidência).
Velloso, que conversou durante a
noite de ontem com Itamar, recebeu a cópia da carta no STF.
"Quanto às bazófias de dar-me
um ultimato e de dizer que a solução a ser dada por V. Excelência
"pode fugir ao estado de direito",
permita-me compreendê-las como uma súbita recaída autoritária, que nada tem a ver com as
profundas convicções democráticas do povo mineiro e minhas",
afirmou FHC na carta.
FHC também afirmou que a alegação de Itamar de que a invasão
do MST seria "hipotética" foi desmentida porque o movimento
deslocou cerca de dez ônibus para
a fazenda. O presidente afirmou
ainda que a decisão de enviar o
Exército para Buritis está embasada na Constituição federal.
Conflito
Ao fazer o ultimato, Itamar não
havia descartado a possibilidade
de um eventual conflito entre a
Polícia Militar de Minas e as Forças Armadas. "Se acontecer alguma morte, será responsabilidade
do presidente", afirmou o governador em uma entrevista à tarde.
O prazo dado pelo governador
vencia às 6h de hoje e, caso não
houvesse resposta do governo federal, Itamar ameaçava tomar
"medidas cabíveis", que poderiam vir das áreas ""militar e/ou jurídica" do governo estadual.
Não havia policiais militares na
vigilância da fazenda. Eles haviam
deixado o local por ordem de Itamar, sob alegação de que o governo federal não enviara soldados
para defender os prédios públicos
invadidos pelos sem-terra.
Itamar foi informado pelo Gabinete de Segurança Institucional
da Presidência sobre a possibilidade da invasão desde as 13h de
anteontem, mas não tomou qualquer medida policial para evitá-la
porque o serviço de informações
da PM de Minas Gerais apostava
que isso não aconteceria.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Leia a íntegra da carta do presidente Índice
|