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REGIME MILITAR
Orlando Lovecchio Filho perdeu parte da perna esquerda em um atentado a bomba em São Paulo, em 1968
Vítima de explosão da esquerda tenta indenização
FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS
Atingido involuntariamente pelo confronto entre o regime militar e a guerrilha de esquerda nos
anos 60, Orlando Lovecchio Filho,
54, acusa o atual governo de submetê-lo a "tortura psicológica".
Desempregado, casado, pai de
um filho e alegando depressão, ele
tenta, desde 1995, obter alguma
compensação pelo dano que sofreu na madrugada de 19 de março de 1968, quando passava a pé
em frente ao consulado dos Estados Unidos na rua Padre João
Manoel (Jardins), em São Paulo.
À 1h15 daquele dia, uma bomba
com 12 bananas de dinamite explodiu no local. Lovecchio, então
com 22 anos, perdeu parte da perna esquerda: "Ainda tenho uns 80
estilhaços pelo corpo todo".
As indenizações e aposentadorias especiais concedidas pelo governo até agora às vítimas da repressão política no regime militar
(1964-85) foram destinadas exclusivamente a cerca de 2.600 perseguidos, presos, torturados e familiares de desaparecidos. Para Lovecchio, os que, como ele, não se
enquadram nessas categorias, vivem em um "limbo jurídico".
Embora o ministro da Justiça,
José Gregori, já tenha reconhecido o direito de Lovecchio e de familiares de outras duas vítimas de
atentados a receber indenização,
os projetos que concedem pensão
a eles estão parados há três meses
na Presidência da República.
A assessoria da Secretaria Nacional de Direitos Humanos informou que os três projetos foram
encaminhados em 22 de maio à
Presidência, mas, devido à entrada em vigor da Lei de Responsabilidade Fiscal, dependem de previsão orçamentária antes de serem
enviados ao Congresso.
Em todos os casos, os atingidos
não eram militantes da esquerda
armada nem integrantes do aparato repressivo, mas sofreram
consequências desse embate.
Dos três, Lovecchio é o único
sobrevivente. O sentinela Mário
Kozel Filho morreu no quartel-general do Exército, em São Paulo, em 1978, após a explosão de
um carro-bomba. Lyda Monteiro
da Silva recebeu uma carta-bomba em agosto de 1980 na sede carioca da Ordem dos Advogados
do Brasil, da qual era secretária.
Na época do atentado, Lovecchio estava prestes a concluir o
curso de piloto comercial, carreira que pretendia seguir. Desde então, foi dono, em Santos, de uma
indústria de alto-falantes, que faliu, e vendedor de carros usados.
Hoje, tenta montar e vender um
sistema de câmaras robóticas de
observação pela Internet.
"Eu era uma pessoa comum,
que estava passando pela rua, e levei uma chumbada. Nunca tive
envolvimento nem com grêmio
estudantil. Sou apenas um cidadão que deveria ter recebido a
proteção do Estado", disse Lovecchio, que se diz "apolítico".
Em 1993, o artista plástico Sérgio Ferro, atualmente na França,
assumiu em entrevista ter sido
um dos autores do atentado. Ao
tomar conhecimento, Lovecchio
moveu uma ação de indenização
contra o artista, ex-militante da
Ação Libertadora Nacional.
Ele chegou a obter como garantia a apreensão dos quadros de
uma exposição de Ferro, mas a
ação não teve êxito porque, passados mais de 20 anos, a Justiça considerou o caso prescrito.
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