|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ A HORA DO "MENSALINHO"
Presidente da Câmara acredita em mobilização dos governistas para mantê-lo no cargo; estratégia é pedir arquivamento do caso
Severino quer que conselho arquive processo
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Diante da iminência de ser submetido a um processo de cassação, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), disse
ontem por meio de assessores que
o Conselho de Ética da Casa deveria declarar inepto e sugerir o arquivamento, por ausência de provas, do possível processo que deve
ser instaurado contra ele a pedido
de partidos políticos.
A deputados aliados, confidenciou que espera dos partidos governistas mobilização para barrar
a tramitação no conselho.
"Qualquer partido tem o direito
de representar [pedir a cassação]
no Conselho de Ética contra qualquer parlamentar. Para que se
instaure o processo, é preciso que
haja provas, do contrário, o processo é inepto. Não tendo prova
material para que se conduza, não
tem por que dar prosseguimento", disse o consultor jurídico da
presidência da Câmara, Marcos
César Vasconcelos.
"Gabinete de crise"
Severino reuniu ontem seu "gabinete de crise", formado por assessores, advogados e aliados, um
dia depois de voltar a negar que
tenha participado do suposto
"mensalinho".
Segundo Sebastião Buani, dono
da rede de restaurantes Fiorella,
Severino recebeu propina em
2002 e 2003 por benefícios no
contrato que sua empresa possuía
com a Câmara.
A oposição reafirmou a intenção de ingressar no conselho com
pedido de cassação do mandato
de Severino, o que pode ser feito
hoje. O conselho emite parecer
em até 90 dias.
A intenção de Severino é cortar
o processo pela raiz. Em recente
decisão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara -baseada em consulta de Severino-,
ficou estabelecido que pedidos de
cassação que sejam considerados
sem fundamento não precisam
passar pelo rito normal -tomada de depoimentos, apresentação
de defesa e elaboração de parecer.
É dado só um parecer pelo arquivamento. Abre-se então prazo
de cinco sessões para recurso no
plenário da Câmara. Se não houver, o pedido de cassação é definitivamente arquivado. Se houver,
o recurso vai a voto no plenário.
Caso seja aprovado, o processo
retorna ao Conselho de Ética para
cumprimento do rito normal.
O arquivamento sumário ocorreu, por exemplo, no caso dos
quatro deputados do PTB acusados pelo PL de uso de caixa dois
nas eleições de 2002. Considerou-se que a acusação baseava-se em
suposições.
Severino, que se encontrou anteontem com o coordenador político do governo, ministro Jaques
Wagner, reuniu ontem vários deputados. Feu Rosa (PP-ES) disse
na saída que "a crise atingindo o
presidente da Câmara decorre da
falta de articulação e de juízo da
base do governo". "Há uma semana não se fala mais no impeachment de Lula."
Os aliados de Severino elaboraram também resposta à divulgação de que foi feito saque de R$ 40
mil por Buani na mesma data do
documento em que Severino teria
concedido uma prorrogação irregular de contrato com o restaurante. Segundo Buani, Severino
cobrou propina de R$ 40 mil para
conceder a prorrogação.
A assessoria de Severino lembrou as declarações em que Buani
afirma que o saque feito na ocasião não teria passado de R$ 30
mil. Foi apresentado ainda um levantamento que aponta dois inquéritos policiais que Buani teria
respondido, por "submeter criança ou adolescente à vexame ou
constrangimento" e por agressão
à mulher. Buani não comentou.
Texto Anterior: Janio de Freitas: O motivo severo Próximo Texto: Provas Índice
|