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CASO MALUF
Argumento é que doleiro para quem Flávio ligou é réu, portanto pai e filho não poderiam ser acusados de coação de testemunha
Defesa desmembra habeas corpus dos Maluf
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
MARCIO PINHEIRO
DA REDAÇÃO
Os advogados do ex-prefeito
Paulo Maluf (PP) e de seu filho
Flávio, presos na carceragem da
Polícia Federal de São Paulo desde a madrugada de sábado, apresentam hoje o pedido de habeas
corpus ao Tribunal Regional Federal para que pai e filho respondam ao processo em liberdade.
José Roberto Leal, advogado de
Maluf, e José Roberto Batochio,
defensor de Flávio, vão apresentar
pedidos diferentes, mas o argumento será o mesmo: irão dizer
que não é possível acusá-los de
tentar coagir uma testemunha, já
que não há testemunha, mas réu.
Ou seja, a defesa vai sustentar
que as ligações telefônicas feitas
por Flávio ao doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, que denunciou movimentações milionárias da família no exterior, não podem ser
consideradas coação de testemunhas. Birigüi também é réu na
ação. A legislação permite que os
réus estabeleçam uma estratégia
comum de defesa.
Apesar de não existir conversa
gravada entre Maluf e o doleiro, o
ex-prefeito acompanhava as conversas. Foi com base nisso que a
juíza da 2ª Vara Federal de São
Paulo, Sílvia Maria Rocha, determinou a prisão preventiva de pai
e filho. Para ela, em liberdade eles
poderiam atrapalhar o período de
instrução penal, quando Birigüi
será ouvido pela juíza.
"Esse perigo não existe. O inquérito já foi concluído. O doleiro
já depôs três vezes para a PF e outras tantas para o Ministério Público", afirmou Batochio.
Outro argumento comum nos
dois pedidos será o fato de Maluf e
de Flávio terem se entregado à polícia. "Isso mostra que eles não
vão fugir, que querem se defender
do processo", afirmou Leal. Maluf
se entregou à 0h20 do sábado, antes de receber voz de prisão. Flávio foi preso oito horas depois.
Os advogados decidiram separar os habeas corpus porque consideram que a situação deles é diferente. No caso de Maluf, a juíza
reconheceu a prescrição de alguns
crimes atribuídos a ele -prescrição é o prazo em que alguém pode
ser processado. Como Maluf tem
mais de 70 anos (tem 74), é favorecido por lei que reduz esse prazo pela metade. Esse diferencial
será explorado por Leal.
Outro motivo que levou à separação dos pedidos é o fato de Flávio ser o único que conversa com
Birigüi -o que juridicamente
torna a defesa dele mais difícil.
Pai e filho são réus em processo
por corrupção, lavagem de dinheiro, evasão e formação de quadrilha. A soma das penas mínimas é de oito anos de prisão.
Para o Ministério Público, as
contas no exterior da família Maluf foram abastecidas com dinheiro desviado de obras públicas durante a gestão dele na Prefeitura
de São Paulo, entre 1993 e 1996.
O ex-prefeito e Flávio estão em
celas separadas, com cerca de 12
metros quadrados. Eles têm um
colchão, um banheiro pequeno e
uma cadeira. A cela não tem grade, mas uma porta de madeira.
Ontem, um dia após ter sido noticiado que Maluf teve regalias no
fim de semana -como visitas e
telefonemas fora do dia previsto-, a PF impediu a entrada de
comida enviada pela família.
Às 13h, Lázaro Gonçalves, funcionário dos Maluf há 36 anos, foi
à PF para levar o almoço, mas foi
barrado. É comum familiares levarem comida aos presos. "Ele [o
agente da PF] disse que é uma
norma, que não pode. Mas é a
quarta vez que venho aqui sem dificuldades", afirmou Gonçalves,
que, pela manhã, havia conseguido entregar lanche para os Maluf.
Ao deixar a PF, Gonçalves foi
abordado pelo morador de rua
Luiz Cleyton Xavier, 25. Ele pediu
a comida, o que foi negado.
A PF informou que os Maluf poderão receber visitar às quintas,
das 14h às 16h, como qualquer outro preso. Cada um deles terá direito a duas visitas. A mulher de
Maluf, Sylvia, e os filhos deverão
visitar o ex-prefeito e Flávio.
Maluf tem repetido que se sente
injustiçado com a prisão.
Colaborou a MARCELO SALINAS, da Reportagem Local
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