São Paulo, quinta-feira, 13 de setembro de 2007

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Sessão de seis horas tem bate-boca e "traição"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A sessão durou seis horas. Nos primeiros 48 minutos, ela foi aberta. O julgamento foi precedido de forte tensão e acabou marcado por uma briga, com direito a troca de socos entre deputados que queriam assistir à sessão e seguranças do Senado. Todos os senadores votaram, inclusive Renan.
Amparados por um mandado de segurança concedido na madrugada pelo STF, um grupo de 13 deputados conseguiu ter acesso à sessão. O primeiro-vice-presidente, Tião Viana (PT-AC), tentou derrubar o recurso, mas o plenário do STF rechaçou o pedido no meio da tarde.
O resultado reflete a simétrica divisão que se estabeleceu na Casa nos dias que antecederam a votação. No entanto, fortalece o peemedebista, que ainda enfrentará outras três acusações de quebra de decoro neste ano. Segundo aliados, Renan avalia tirar 15 dias de férias para esfriar os ânimos. O Planalto trabalha para que ele se licencie do cargo, a que o alagoano resiste.
Apesar do discurso da maioria da oposição de que a crise se perpetuará, a avaliação nos bastidores é que a vitória tira o fôlego dos demais processos. "A decisão de hoje sinaliza o destino dos outros processos, a não ser que surjam fatos novos", disse Álvaro Dias (PSDB-PR).
O placar contraria o que senadores declararam à Folha nos três últimos dias. Em enquete encerrada anteontem, 41 parlamentares se diziam pró-cassação. Ontem, 43 afirmaram ter votado contra Renan -na sessão secreta, porém, o placar do Senado registrou 35 votos pela perda de mandato.
Renan usou de todos os seus artifícios para buscar votos na última hora. Mobilizou sua "tropa de choque" e fez forte ofensiva pelos 12 votos do PT.
Às vésperas de completar 52 anos, Renan optou por um discurso emotivo e agressivo na tribuna. "A injustiça me dilacera a alma, destrói a honra. Sou vítima da sofreguidão por desmoralizar homens públicos."
Repetiu sua cruzada contra a mídia e reafirmou que não foram encontradas provas contra ele. "Se agridem o presidente, querem agredir a instituição. Sou o terceiro presidente do Senado que querem caçar no grito", disse. Com o dedo em riste, encerrou sua fala num bate-boca com a ex-senadora Heloísa Helena (PSOL), uma de sua principais adversárias.
Aliados de Renan e a oposição admitiram que houve "traições" dos dois lados. A oposição culpou o PT pelo desfecho. O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), chorou após o resultado. A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), reagiu: "Nada de jogar no colinho do PT".
Aliados de Renan festejaram. "Fico satisfeito porque se fez justiça", declarou o senador Almeida Lima (PMDB-SE).
Foram 98 dias de um processo de cassação tumultuado por várias manobras de Renan. Até que fosse aprovado, por 11 votos 4, no conselho, caíram dois relatores -Wellington Salgado e Epitácio Cafeteira (PTB-MA)- e o então presidente do órgão, Sibá Machado (PT-AC).
O relatório que pedia a cassação Renan foi elaborado pelos senadores Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS), a partir de uma representação do PSOL.
O processo foi originado a partir da suspeita de que a pensão alimentícia de R$ 12 mil mensais à jornalista Mônica Veloso, com quem Renan tem uma filha, era paga por um lobista da empreiteira Mendes Júnior. Depois, novas denúncias desencadearam mais três acusações, ainda em trâmite. (SILVIO NAVARRO, FERNANDA KRAKOVICS, FÁBIO ZANINI E VERA MAGALHÃES)

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