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ELIO GASPARI
Um bom momento de FFH /B>
A resposta que FFH deu a Ciro
Gomes marca um dos bons momentos de sua Presidência. O pré-candidato a presidente da República viu-se na terrível situação
de ter que explicar duas declarações de Imposto de Renda que
não fazem nexo. Mesmo admitindo que está pronto a pagar por
qualquer erro cometido, Ciro decidiu culpar o governo pela divulgação de suas contas.
FFH respondeu: "Acho que as
pessoas podem errar ou não errar
em seu Imposto de Renda. O que
não podem é ser levianas e, sobretudo, dizer que o presidente é responsável por isso. Temos que cobrar a leviandade. É mais grave
ser irresponsável do que errar no
Imposto de Renda".
Teve toda razão, mais elegância.
Quando Ciro Gomes e seus aliados atacam o governo por conta
de uma declaração de Imposto de
Renda bizarra, reproduzem a
prática de todos os governos,
quando atacam a oposição para
se livrar das acusações que lhe
caem sobre a cabeça.
Ciro Gomes não tem nenhuma
prova para afirmar que o repórter
Roberto Cosso conseguiu suas declarações de Imposto de Renda
numa bodega do governo. Teria
como acusar a Receita Federal
por não ter conseguido preservar
o sigilo de seus documentos, mas,
nesse caso, teria também que provar a origem do vazamento. Pode-se argumentar que só o governo teria interesse em divulgar as
contas pessoais de Ciro Gomes,
mas esse raciocínio, mesmo sendo
simples, não tem o amparo da lógica nem da história. Pela lógica,
os inimigos de Ciro Gomes não estão só no governo. Pela história,
Fernando Collor de Mello estava
no governo quando vazaram as
declarações de Imposto de Renda
de PC Farias.
Seria melhor se as declarações
de Imposto de Renda não vazassem. A maior concentração de
malucos dos tempos modernos gira em torno das teorias a respeito
da morte do presidente norte-americano John Kennedy. Há
gente que pede a divulgação de
todos os documentos secretos que
possam, de uma maneira ou de
outra, estar relacionados com o
crime. Pois ainda não apareceu
um único maluco pedindo que o
governo divulgue as declarações
de Imposto de Renda de Lee Oswald, considerado como o assassino do presidente.
Também seria melhor que as
conversações telefônicas fossem
mantidas sob sigilo. Infelizmente,
quando elas aparecem, o governo
se recusa a ouvi-las, dizendo que
são ilegais. Com isso, lança o
manto da impunidade sobre os
crimes que elas possam conter. Já
a oposição, mesmo sabendo que a
escuta é ilegal, prefere propagar
as conversas que lhe convém. São
maus modos, mas são os modos
vigentes. (Nos Estados Unidos,
onde não se violam sigilos nem telefonemas, um presidente da Câmara esqueceu-se de declarar
rendimentos de um livro e, com
isso, encerrou sua carreira política.)
Por simples curiosidade, vale a
pena pensar o que estaria acontecendo no país se as contas reveladas por Cosso fossem as de FFH,
não as de Ciro. O mínimo que se
estaria pedindo seria a sua renúncia. O máximo, o confisco de
seu apartamento em Higienópolis e do seu capote Dunhill. Quem
seria capaz de dizer que FFH teria apenas errado as declarações
de renda? Ruth Cardoso. Além
dela, talvez aparecessem duas ou
três pessoas, se tanto.
FFH portou-se como um cavalheiro. Agiu como um presidente
que, por temperamento e vocação
democrática, não fabrica crises
personalizadas.
Arruinou a economia do país,
mas jamais arranhou as boas
maneiras. Foi bom que isso tenha
acontecido precisamente numa
época em que sua impopularidade atingiu níveis de irracionalidade. Serve para mostrar que nenhum presidente pode ser tão
ruim quanto FFH parece ser
atualmente. (Descontado o fato
de que seu governo não vale um
centésimo do que ele julga valer.)
Uma coisa é certa, Ciro Gomes
perderá mais tempo explicando
suas declarações de rendimentos
do que o perdeu ganhando o dinheiro que não declarou.
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