São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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MATO GROSSO DO SUL

Marisa foi lançada candidata após desistência de rival do petista

Tucana ameaça favoritismo de Zeca

FABIANO MAISONNAVE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

Contrariando pesquisas, expectativas e projeções, o governador de Mato Grosso do Sul, José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, 52, antes favorito, terá de disputar o segundo turno com Marisa Serrano (PSDB), 55, uma das maiores surpresas nas eleições.
Com 48,33%, dos votos válidos, Zeca esteve perto de vencer no primeiro turno. Mas Marisa não ficou muito longe: alcançou 42,41%. Ainda não foi divulgada nenhuma pesquisa de opinião, mas a disputa deve ser acirrada.
A candidatura de Marisa já surgiu de uma surpresa: a desistência do prefeito de Campo Grande e arquiinimigo de Zeca, André Puccinelli (PMDB), em março. Líder nas pesquisas, o prefeito desistiu de renunciar para enfrentar Zeca.
Especulou-se muito sobre os motivos da desistência -desde a falta de confiança em seu vice, Oswaldo Possari (PSDB), até um acordo de bastidores com o PT.
Nos últimos seis anos, Zeca e Puccinelli monopolizaram o cenário político do Estado. A briga começou em 96 na disputa por Campo Grande, quando o peemedebista venceu Zeca no segundo turno por apenas 411 votos de diferença. O PT contestou o resultado alegando compra de votos, mas nada ficou comprovado.
O troco veio em 98, quando Zeca venceu no segundo turno Ricardo Bacha (PSDB), que era apoiado por Puccinelli.
Após o segundo candidato natural, o presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB), se recusar a disputar com Zeca, a vaga ficou com Marisa, na época com papel secundário na política local.
"[Puccinelli" teve a oportunidade de disputar comigo, mas correu, não honrou as calças. Tenho de debater e respeitar a mulher que está disputando comigo. Pelo menos ela honrou a saia que veste." A frase de Zeca, dita em uma entrevista coletiva em agosto, revela como foi o primeiro turno: favorito nas pesquisas, o petista respeitou Marisa e só perdia o estilo "Lulinha paz e amor" para atacar seu desafeto.

Perfil
"Durante muito tempo se falava que, para bater o Zeca, tinha de ser uma pessoa que tivesse um perfil parecido com o dele, um rompedor, um brigador. E o André [Puccinelli" encarnava isso. Quando eu surgi como candidata, as pessoas provavelmente pensaram que eu não tinha o estereótipo à altura", diz Marisa.
Sua carreira política começou em 76, quando se elegeu vereadora em Campo Grande pela Arena, partido de sustentação do regime militar (64-85). Na época, o partido abrigava também Zeca do PT.
Marisa disse que teve pouco contato com seu atual adversário. "Ele era mais ligado a Porto Murtinho [terra natal de Zeca" e aqui em Campo Grande ele era da Juventude da Arena, enquanto eu atuava na educação."
Formada em letras e pedagogia, sua maior experiência no Executivo ocorreu durante o governo Pedro Pedrossian (80-83), quando foi secretária da Educação por um ano e dois meses.
Com a extinção da Arena, Marisa continuou no partido substituto, o PDS. Depois se filiou ao PST, ao PMDB e, em 93, ao PSDB, pelo qual se elegeu deputada federal em 94. Em 98, foi reeleita.
Segundo avaliação do caderno "Olho no Voto", da Folha, ela teve atuação considerada mediana.
Quase todos os 14 projetos apresentados -nenhum aprovado até agora- são da área de educação. Para Marisa, seu projeto mais importante é o que prevê recursos próprios para a educação infantil, como ocorre com a educação fundamental. Está em tramitação.
Divorciada e mãe de criação de quatro filhos de uma empregada doméstica de sua família, Marisa tem origem de classe média -seu pai era um pequeno comerciante em Bela Vista, na fronteira com o Paraguai, onde nasceu.
Ela critica a gestão de Zeca, ""que aumentou a dívida de R$ 3 bilhões para R$ 5 bilhões", e os escândalos ocorridos em seu governo, como o do desvio de dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) supostamente para financiar campanhas petistas em 2000. O caso está em apuração no Ministério Público Federal.
Sobre a conhecida proximidade entre o presidente Fernando Henrique Cardoso e Zeca, diz não ter ciúme: "Ele é homem de partido".


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