São Paulo, quinta-feira, 13 de outubro de 2005

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CASO SANTO ANDRÉ

Para polícia, o mais provável é morte natural, mas outras hipóteses serão investigadas

Legista do caso Celso Daniel é encontrado morto em SP

LILIAN CHRISTOFOLETTI
ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL

O perito criminal Carlos Delmonte Printes, 55, que constatou sinais de tortura no prefeito petista Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2002, foi encontrado morto, ontem à tarde, em seu escritório na Vila Clementino, zona sul de São Paulo.
Para o delegado Domingos Paulo Neto, diretor do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), o mais provável é que a morte tenha sido natural. "Inicialmente descartamos que tenha sido homicídio, mas tudo será investigado."
Segundo a polícia, ele tinha problemas cardíacos. Análise preliminar do IML (Instituto Médico Legal) não detectou sinais de violência e apontou quadro compatível com broncopneumonia e miocardiopatia.
Uma carta manuscrita por Printes com instruções de como a família deveria proceder em caso de sua morte foi deixada com um filho na segunda-feira. Na carta, ele pediu que seu corpo não fosse submetido a necropsia. Pediu ainda para ser cremado. A Folha apurou que Printes disse a amigos que estava deprimido. A família insistiu para que o corpo não fosse periciado, mas a polícia decidiu examinar o cadáver.
Printes foi alvo de polêmica no final de agosto, quando disse ao Ministério Público ter sido proibido pela cúpula da Polícia Civil de comentar o caso Celso Daniel, pois sua conclusão contrariava investigações que apontavam que o prefeito de Santo André havia sido vítima de crime comum (seqüestro seguido de assassinato), sem tortura.
"É absolutamente excepcional a ocorrência de morte em casos de seqüestro-relâmpago. Com relação ao seqüestro convencional, nunca examinei um caso em que houvesse ritual de tortura, crueldade e desproporcionalidade que verifiquei no exame do corpo do prefeito", disse ele na época.

Coração
O corpo do perito foi encontrado por seu filho, por volta das 13h. Printes estava caído no chão e de cuecas. Segundo a polícia, ele chegou ao prédio às 3h40 para estudar, como costumava fazer. A polícia não encontrou sinais de violência ou de arrombamento no local. As fitas do circuito interno gravaram imagens do perito no prédio.
A cúpula da Polícia Civil foi até o escritório, que fica na rua Botucatu. Além de Neto, estavam presentes o delegado seccional Naief Saad, vários peritos e médicos-legistas.
O delegado Domingos informou que a família de Printes lhe contou que, há cerca de 40 dias, após participar de um curso promovido pela Swat (grupo de elite da polícia norte americana), o perito ficou gripado. A gripe evoluiu para pneumonia e depois para miocardite (inflamação do miocárdio). Ele era tratado pela ex-mulher, que é médica.
Segundo o médico Sergio Timerman, do Incor (Instituto do Coração), a miocardite é uma "doença incomum" que pode ser causada por infecção por vírus, bactérias, fungos ou parasitas.

Polícia
Após Printes declarar que sofreu pressão da polícia para se calar no caso Celso Daniel, o delegado-geral Marco Antônio Desgualdo, chefe da Polícia Civil, convocou uma entrevista coletiva às pressas para desmentir a versão. O perito o acompanhou na entrevista. "Não houve censura, mas segredo de Justiça", afirmou Desgualdo, que diz acreditar na tese de crime comum.
As declarações de Printes aconteceram semanas depois de o secretário de Segurança Pública do Estado, Saulo de Castro Abreu Filho, determinar a reabertura das investigações sobre a morte de Daniel, atendendo a um pedido da família do prefeito.
O caso é agora investigado pela delegada Elisabete Sato, do 78º DP (Jardins), e pelo Ministério Público. Para os promotores de Santo André, o crime foi encomendado pelo empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, que responde em liberdade, como réu, a processo sobre a morte do prefeito Celso Daniel.
Segundo as investigações, o prefeito teria descoberto um esquema de corrupção na prefeitura, liderado por funcionários de sua confiança e empresários.
A quadrilha responsável pelo seqüestro e morte do prefeito de Santo André está presa. Um dos integrantes, em depoimento à nova equipe de investigação, acusou Gomes da Silva de ter sido o mandante do crime. O advogado do empresário, Roberto Podval, afirma que seu cliente é inocente.
"Perdemos uma testemunha importante do caso", disse o promotor Roberto Wider. Com a morte de Printes, sobe para sete o número de pessoas que tiveram algum tipo de ligação com o caso e que morreram.


Colaboraram ALEXSSANDER SOARES, da Reportagem Local, e MARCELO SALINAS, da Redação

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