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CASO SANTO ANDRÉ
Para polícia, o mais provável é morte natural, mas outras hipóteses serão investigadas
Legista do caso Celso Daniel é encontrado morto em SP
LILIAN CHRISTOFOLETTI
ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL
O perito criminal Carlos Delmonte Printes, 55, que constatou
sinais de tortura no prefeito petista Celso Daniel, assassinado em
janeiro de 2002, foi encontrado
morto, ontem à tarde, em seu escritório na Vila Clementino, zona
sul de São Paulo.
Para o delegado Domingos Paulo Neto, diretor do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), o mais provável é
que a morte tenha sido natural.
"Inicialmente descartamos que
tenha sido homicídio, mas tudo
será investigado."
Segundo a polícia, ele tinha problemas cardíacos. Análise preliminar do IML (Instituto Médico
Legal) não detectou sinais de violência e apontou quadro compatível com broncopneumonia e
miocardiopatia.
Uma carta manuscrita por Printes com instruções de como a família deveria proceder em caso de
sua morte foi deixada com um filho na segunda-feira. Na carta, ele
pediu que seu corpo não fosse
submetido a necropsia. Pediu ainda para ser cremado. A Folha
apurou que Printes disse a amigos
que estava deprimido. A família
insistiu para que o corpo não fosse periciado, mas a polícia decidiu
examinar o cadáver.
Printes foi alvo de polêmica no
final de agosto, quando disse ao
Ministério Público ter sido proibido pela cúpula da Polícia Civil de
comentar o caso Celso Daniel,
pois sua conclusão contrariava investigações que apontavam que o
prefeito de Santo André havia sido vítima de crime comum (seqüestro seguido de assassinato),
sem tortura.
"É absolutamente excepcional a
ocorrência de morte em casos de
seqüestro-relâmpago. Com relação ao seqüestro convencional,
nunca examinei um caso em que
houvesse ritual de tortura, crueldade e desproporcionalidade que
verifiquei no exame do corpo do
prefeito", disse ele na época.
Coração
O corpo do perito foi encontrado por seu filho, por volta das 13h.
Printes estava caído no chão e de
cuecas. Segundo a polícia, ele chegou ao prédio às 3h40 para estudar, como costumava fazer. A polícia não encontrou sinais de violência ou de arrombamento no
local. As fitas do circuito interno
gravaram imagens do perito no
prédio.
A cúpula da Polícia Civil foi até
o escritório, que fica na rua Botucatu. Além de Neto, estavam presentes o delegado seccional Naief
Saad, vários peritos e médicos-legistas.
O delegado Domingos informou que a família de Printes lhe
contou que, há cerca de 40 dias,
após participar de um curso promovido pela Swat (grupo de elite
da polícia norte americana), o perito ficou gripado. A gripe evoluiu
para pneumonia e depois para
miocardite (inflamação do miocárdio). Ele era tratado pela ex-mulher, que é médica.
Segundo o médico Sergio Timerman, do Incor (Instituto do
Coração), a miocardite é uma
"doença incomum" que pode ser
causada por infecção por vírus,
bactérias, fungos ou parasitas.
Polícia
Após Printes declarar que sofreu pressão da polícia para se calar no caso Celso Daniel, o delegado-geral Marco Antônio Desgualdo, chefe da Polícia Civil, convocou uma entrevista coletiva às
pressas para desmentir a versão.
O perito o acompanhou na entrevista. "Não houve censura, mas
segredo de Justiça", afirmou Desgualdo, que diz acreditar na tese
de crime comum.
As declarações de Printes aconteceram semanas depois de o secretário de Segurança Pública do
Estado, Saulo de Castro Abreu Filho, determinar a reabertura das
investigações sobre a morte de
Daniel, atendendo a um pedido
da família do prefeito.
O caso é agora investigado pela
delegada Elisabete Sato, do 78º
DP (Jardins), e pelo Ministério
Público. Para os promotores de
Santo André, o crime foi encomendado pelo empresário Sérgio
Gomes da Silva, o Sombra, que
responde em liberdade, como
réu, a processo sobre a morte do
prefeito Celso Daniel.
Segundo as investigações, o prefeito teria descoberto um esquema de corrupção na prefeitura, liderado por funcionários de sua
confiança e empresários.
A quadrilha responsável pelo
seqüestro e morte do prefeito de
Santo André está presa. Um dos
integrantes, em depoimento à nova equipe de investigação, acusou
Gomes da Silva de ter sido o mandante do crime. O advogado do
empresário, Roberto Podval, afirma que seu cliente é inocente.
"Perdemos uma testemunha
importante do caso", disse o promotor Roberto Wider. Com a
morte de Printes, sobe para sete o
número de pessoas que tiveram
algum tipo de ligação com o caso
e que morreram.
Colaboraram ALEXSSANDER SOARES, da
Reportagem Local, e MARCELO SALINAS,
da Redação
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