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CRIME ORGANIZADO
Funcionários de seis bancos teriam movimentado US$ 720 mi
Traficante cita bancários
no esquema de lavagem
PAULO MOTA
LUIZ FRANCISCO
da Agência Folha, em Fortaleza
O traficante colombiano Joaquim
Hernando Castilla
Jimenez, preso desde o último dia 6 de
outubro na Polícia
Federal do Ceará, afirmou que o
esquema de "lavagem" de dinheiro do Cartel de Cali no Brasil envolveria funcionários de pelo menos seis bancos.
Em seu depoimento à polícia, Jimenez cita integrantes das áreas
de câmbio dos bancos Safra, Unibanco, HSBC Bamerindus, Bradesco, Real e Bozzano, Simonsen.
Os bancários que facilitariam a
"legalização" do dinheiro do narcotráfico foram identificados pelo
traficante como Carlos Alberto
Futura (Real), Sandro Valadares
(Unibanco), André Coggi (Bozzano, Simonsen), Ionara Sacerdote
(HSBC Bamerindus) e um funcionário de uma agência do Bradesco em Belém (PA), conhecido
apenas como "Messias" -o nome correto, segundo o banco, é
Messias Matias Mota.
Os bancos Real, Bozzano, Simonsen e Safra negam que os citados tenham sido seus funcionários (leia texto nesta página).
A colaboração dos bancários, de
acordo com o traficante, se dava
por meio do fornecimento da documentação necessária para justificar a origem do dinheiro.
US$ 720 milhões
Do esquema, que teria "lavado"
cerca de US$ 720 milhões da venda de cocaína desde 1993, quando
o traficante chegou ao Brasil, também participariam empresários,
advogados e comerciantes de vários Estados.
No depoimento, Jimenez detalha como as operações de legalização do dinheiro da venda da droga eram feitas no país.
O Brasil foi escolhido pelos líderes do Cartel de Cali como alternativa para fugir da repressão do
governo da Colômbia.
Em um primeiro momento, os
recursos eram enviados do exterior para "laranjas" brasileiros escolhidos pela organização.
Posteriormente, o dinheiro era
usado na compra de imóveis em
pelo menos seis Estados Ceará,
Maranhão, Goiás, Minas Gerais,
Piauí e Paraná.
O dinheiro do narcotráfico, segundo o traficante Jimenez, entrava no Brasil por três caminhos:
barco, depósitos em contas bancárias e aviões.
Pela via fluvial, os dólares saíam
de Letícia (Colômbia), com o colombiano Evaristo Porras Ardilla,
e chegava a Parintins e Manaus
(AM) nas balsas de um empresário identificado apenas como
"Dodô Carvalho".
Pista de pouso
Por avião, o dinheiro seria
transportado para a pista de pouso localizada na Pousada Rio
Quente, em Caldas Novas, no Estado de Goiás.
Jimenez disse que o advogado
Jurandir Inácio Moreira, presidente do Conselho Deliberativo
da pousada, é o principal aliado
do cartel colombiano no Brasil na
"lavagem" de recursos.
Duas filhas do advogado (Alessandra Maia Moreira e Sabrina
Maia Moreira) teriam recebido,
em contas abertas no EUA, depósitos de US$ 50 mil e US$ 100 mil,
respectivamente.
De acordo com o colombiano, o
advogado seria também um dos
principais personagens da transferência de dinheiro por meio de
depósitos em contas de bancos
brasileiros.
Os dólares eram enviados do
exterior para uma conta aberta
em nome de um "laranja". O setor
de câmbio do banco emitia a documentação necessária para o registro da operação. Antes de a
transação se concretizar, Jimenez
pedia o seu estorno.
Posteriormente, um funcionário do banco fornecia esses documentos para que Jimenez pudesse
justificar a legalidade da origem
do dinheiro sujo que entrava no
país e seria depositado na conta
do "laranja". Os "laranjas" recebiam comissão de 3% a 5% do valor depositado em seus nomes.
Imóveis
Na compra de imóveis, última
etapa da "legalização" do dinheiro no Brasil, o traficante disse que
contou com a ajuda dos advogados Jurandir Moreira, Lúcio
Adolfo da Silva (MG), Antonio
Furtado Leite (SE) e Wander José
de Souza (PA).
Em todas as transações, o colombiano não registrava os imóveis em seu nome. Ele ficava apenas com a procuração assinada
pelos proprietários.
Ainda em seu depoimento à polícia, Jimenez declarou que integrantes do Cartel de Cali compraram um prédio de apartamentos
em São Luís (MA).
O imóvel teria custado US$ 2,35
milhões e foi adquirido diretamente do empresário Eduardo de
Carvalho Lago Filho.
Ainda na capital maranhense,
ele teria se associado com Cleber
Ferro Leite Filho para controlar a
empresa Rio Negro Agroflorestal.
O traficante disse que veio ao
Brasil pela primeira vez em 1993 a
convite do ex-diretor da Escola de
Samba Mocidade Independente
de Padre Miguel Paulinho de Andrade e que seu pai (Joaquim
Hernando Castilla Santiz, já morto) era integrante do cartel.
Ontem, a Procuradoria da República no Ceará pediu a quebra
do sigilo de 30 telefones e de oito
contas bancárias de pessoas citadas pelo colombiano.
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