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ELIO GASPARI
O grande Natal de 2002
Vem aí um grande Natal, típico do fim de um grande
ano. Grande ano, o de 2002.
-O Brasil ganhou as Copas
de futebol e vôlei masculino.
-Elegeu um presidente da
República com 53 milhões de
votos, sem uma só encrenca.
-A estrela de Lula, vitoriosa,
derramou sobre o país uma inédita onda de esperança. Não se
via coisa igual desde 1984,
quando se esperava a posse de
Tancredo Neves.
-Em janeiro o Brasil viverá
uma das maiores alternâncias
de poder da sua história (a mais
profunda dentro da norma democrática) e não há sinais de
tensão política no ar.
Lula paz e amor poderá rever
muitas das políticas de FFHH e
é até bom que o faça. Numa, deverá copiá-lo com a atenção de
um monge: na distensão política. Esse foi o maior mérito dos
oito anos de FFHH e, de certa
forma, um dos principais ingredientes da plataforma de Lula.
Uma das grandes mudanças
embutidas na vitória do PT foi
precisamente a sua metamorfose em fator de distensão política. (Nada a ver com esquerda
"light". Um político pode ser
"light" e abrasivo, como a prefeita Marta Suplicy, e "heavy" e
suave, como a senadora Marina
Silva.) O presidente eleito não
inspira medo. Vai além. A portaria do seu edifício em São Bernardo do Campo virou uma
tenda dos milagres.
Há algo de irracional na
transformação de um presidente num astro pop. Mesmo assim
deve-se reconhecer que sai mais
barato e é muito mais divertido
achar que Lula vai resolver todos os problemas do mundo do
que pensar que os doutores do
FMI têm a capacidade de resolver qualquer tipo de dificuldade. Por exemplo: quem é mais
tolo, o cidadão que vai para a
porta do edifício de Lula pensando em curar seu reumatismo, ou o sábio dos mercados
que em 1999 pensou em dolarizar a economia brasileira porque assim sugeria o doutor Stanley Fischer? (Vale registrar que
FFHH e Pedro Malan, arquitetos da ruína do populismo cambial, nunca admitiram a dolarização, salvando o Brasil da argentinização.)
Para um país que passou oito
anos acreditando em lorotas
cosmopolitas, custa nada acreditar que uma fitinha de Iansã
pode mudar os rumos da política nacional. É superstição, mas
não faz mal a ninguém. Depois
de dez anos de Consenso de
Washington, que tal dois meses
de Consenso de Amaralina? Sobretudo porque mesmo que Lula venha a fazer tudo errado, isso é coisa para depois do Natal.
Quando o Financial Times reconhece que uma das grandes
surpresas dos últimos tempos
foi a maneira como Wall Street
se acomodou à vitória de Lula,
algo de novo está acontecendo.
Não se deve esquecer que a banca rogou contra Lula todas as
pragas do Egito. Mais: soltaram
patrulha ideológicas dentro do
próprio circuito do debate de
idéias de Nova York. Fizeram
coisas tão feias que ainda não
podem ser contadas.
Os meses que antecedem a
posse de um governo eleito sem
ódios são deliciosos para quem
votou no vitorioso e toleráveis
para quem votou no derrotado.
Um sonha com seus projetos. O
outro, mesmo que queira, ainda
não tem do que se queixar. Para
Lula, como aconteceu com todos os seus antecessores e acontecerá com seus sucessores, são
os melhores dias de sua vida.
Tudo o que um presidente
empossado gostaria de ser é a
metade do que um presidente
eleito pensa que é. Até o dia da
posse, para cada ministério ele
tem dez candidatos competentes. Depois de sentado na cadeira, aos poucos, descobre que nomeou pelo menos dez colaboradores ineptos.
Vem aí o Natal de um grande
ano. Até dezembro, por todos os
motivos, há o que se comemorar. Faz tempo que não apareciam tantos bons pretextos para
se sair por aí cantando:
A sorrir, eu pretendo levar a
vida.
Pois chorando, eu vi a mocidade perdida.
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