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ECOS DO REGIME
Juiz de Guaratinguetá aceitou pedido do Ministério Público para abertura de arquivos secretos da ditadura
Sigilo protege militares, diz procurador
FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GUARATINGUETÁ
Os arquivos da época da ditadura militar brasileira (1964-1985)
permanecem sob sigilo para proteger interesses particulares de
políticos e militares que participaram do regime ou o apoiaram.
Essa é a opinião do procurador
da República João Gilberto Gonçalves Filho, 26, de Taubaté (interior de São Paulo), que propôs a
ação, aceita pela Justiça Federal de
Guaratinguetá (SP), determinando a abertura de todos os documentos secretos que foram produzidos pelo Exército no período
do regime militar.
A decisão liminar, em primeira
instância, foi proferida anteontem pelo juiz federal Paulo Alberto Jorge. O governo ainda pode
recorrer.
"Eu acho que é isso que acontece. O sigilo permanece para proteger interesses mesquinhos particulares, para proteger alguns políticos e alguns militares, e não o interesse da população, que é o que
o governo deveria fazer", afirmou
o procurador, durante a entrevista coletiva concedida na tarde de
ontem por ele e pelo juiz, na sede
da Justiça Federal em Guaratinguetá.
"Se for evidenciado que o objetivo do sigilo foi garantir que não
se tragam à tona documentos envolvendo políticos de hoje que tiveram uma participação intensa
na ditadura militar, esse ato administrativo é ilegal. A gente sabe
que políticos de hoje participaram ativamente da ditadura militar", disse Gonçalves Filho, que
não citou nomes.
"Se o objetivo for proteger altas
autoridades do comando militar
de hoje que participaram das
atrocidades da ditadura, não há
motivo legal para o sigilo", completou o procurador.
Gonçalves Filho afirmou que o
que o motivou a propor a ação foi
a nota do Exército enviada ao jornal "Correio Braziliense" após a
publicação de fotos que supostamente mostravam o jornalista
Vladimir Herzog antes de ser
morto, em 1975, nas dependências do DOI-Codi (Destacamento
de Operações de Informações/
Centro de Operações de Defesa
Interna) em São Paulo.
"A nota do Exército mostra como a democracia no Brasil é incipiente e frágil. Mostra que o Exército não está arrependido. Aliás,
mostra que o Exército tem orgulho da época da ditadura. Nós
precisamos deixar bem claro se isso aqui é uma democracia ou não
é", disse. "Houve um assassínio
coletivo por questões ideológicas,
pago com dinheiro público. O povo que paga impostos tem o direito de saber o que foi feito desse dinheiro", completou ele.
Gonçalves Filho também criticou o comportamento do governo federal em relação à polêmica.
"Eu acho que [o governo federal] está demorando demais para
abrir certos arquivos", afirmou
ele, que em seguida declarou não
estar agindo de forma partidária
ou com o objetivo de prejudicar o
governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Abertura
O juiz Paulo Alberto Jorge disse
que o objetivo da ação é que a Justiça tenha acesso aos documentos
produzidos durante o regime e
analise se o sigilo de cada um dos
documentos se faz procedente
diante da Constituição Federal.
Na decisão, ele determina que
todos os documentos sejam levados para o quartel do Exército localizado em Lorena, no interior
de São Paulo, onde serão analisados pela Justiça.
"Está sendo determinada a análise de documento. "Abertura" pode dar a conotação de que vai ser
tornado público, mas não vai. Pelo menos por enquanto. O que foi
determinado é que os documentos sejam trazidos a juízo para
análise da adequação desse sigilo
à Constituição Federal", disse.
"Para cada um desses documentos deve haver um Ato Administrativo do Poder Executivo justificando o sigilo. Se o ato não estiver fundamentado, o sigilo é ilegal", afirmou o juiz.
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