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CINEMA
Diretor do documentário "Entreatos", sobre a campanha de Lula, afirma que não pode ser desleal a seu personagem
Filme não foi feito com malícia, diz Salles
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
"O documentarista não tem o
direito de ser desleal com seu personagem. Isso não significa filmar
sempre a favor; significa apenas
não filmar maliciosamente."
A afirmação é de João Moreira
Salles, diretor de "Entreatos", que
retrata os 32 dias que antecederam a vitória de Lula na campanha eleitoral de 2002.
O filme faz dupla com "Peões",
documentário de Eduardo Coutinho, centrado em depoimentos
atuais de companheiros de Lula
nos movimentos sindicais do
ABC, entre 1979 e 1980. "Peões"
tem também imagens de época de
Lula e uma breve passagem de um
comício da campanha de 2002 em
São Bernardo.
A divulgação do conteúdo de
"Entreatos", ontem na Folha,
causou burburinho em Brasília e
entre pessoas ligadas a produção
dos filmes.
Salles havia esboçado, em entrevistas, receio da repercussão negativa para a imagem do presidente. "É claro que, quando o personagem é o presidente da República, as repercussões são infinitamente maiores", disse em entrevista por e-mail, do México, onde
participa de um seminário.
No documentário, Lula conta
que bebia pinga na hora do almoço, quando trabalha numa fábrica, e aparece marcando hora na
manicure para a mulher, Marisa.
Mas são os bastidores da esses, aliás, os momentos
mais reveladores do filme. A câmera acompanha as reuniões estratégicas, conversas informais
durante as viagens pelo país e o
"making of" das gravações dos
programas eleitorais.
Seus principais principais articuladores -José Dirceu, Luiz
Gushiken, Duda Mendonça, Antonio Palocci e Aloizio Mercandante- são os coadjuvantes das
cenas.
O carisma e o bom humor do
presidente rendem saborosas piadas. Ele brinca com o marido da
prefeita Marta Suplicy, Luis Favre,
fingindo telefonar para o presidente argentino na época, Eduardo Duhalde, dizendo em portunhol: "Olá, Duhalde, quieres Favre de vuelta? Yo mandaré".
Na mesma seqüência, ele simula
falar com o presidente dos EUA:
"Companheiro Bush, tudo
bem?".
"Os filmes abertos, como "Entreatos", não ditam o sentido das
suas cenas. Elas ficam abertas a
interpretações de todo tipo: ingênuas, inteligentes, críticas, amargas, piedosas, selvagens. Todas
são legítimas, mas elas não estão
no filme. Pertencem mais a quem
interpreta", disse Salles.
Em seu filme anterior, o diretor
passou dois anos acompanhando
o pianista brasileiro Nelson Freire, conhecido por sua timidez.
"Com Lula eu não dispunha de
dois anos, somente de 30 dias. Por
outro lado, a relação com Lula é
mais fácil. Ele é um homem gregário, que gosta de gente", disse, sobre a diferença entre as personalidades dos dois.
"A presença do Walter Carvalho na equipe foi fundamental.
Ele vem do Nordeste como o presidente, e ambos são da mesma
geração. Acho que houve uma
empatia imediata entre os dois, e
isso tornou tudo mais fácil", completou.
Coutinho
"O filme do João só podia ser assim, é um filme de observação. Ele
abre a câmera e deixa as coisas
acontecerem. E o meu não tem
observação de nada, eu converso
com as pessoas", diferenciou
Coutinho.
"Se eu fizesse o filme dele, talvez
fizesse um filme próximo ao dele,
porque a idéia era observar o Lula
em campanha presidencial."
A obra de Coutinho é baseada
em depoimentos, ele entrevistou
40 pessoas no ABC, principalmente em São Bernardo, e mais
dez em Vargem Alegre, no Ceará.
Coutinho é conhecido por trabalhos como o clássico "Cabra
Marcado pra Morrer", de 1984, e
"Edifício Master", de 2002.
Os dois documentários são um
projeto em comum dos diretores,
e têm estréia marcada para o próximo dia 26. Segundo Coutinho, o
presidente Lula recebeu cópias
dos dois filmes.
Eles serão exibidos em São Paulo na semana que vem, em um seminário no Espaço Unibanco. Na
segunda, está programado
"Peões" e, na terça, "Entreatos",
que será seguido de debate com a
presença dos diretores.
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