São Paulo, domingo, 13 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA

Para Lula, líder do governo no Senado acalmaria PT e manteria a política econômica e a equipe do atual ministro da Fazenda

Caso Palocci saia, Mercadante é opção

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Se for obrigado a substituir Antonio Palocci no Ministério da Fazenda, Luiz Inácio Lula da Silva deverá escolher o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). Lula não deseja a saída de Palocci. Fez apelos na quinta e na sexta-feira para ele parar de pensar em sair do governo. O ministro, porém, ainda avalia a possibilidade de sair do cargo.
Por meio de sua assessoria, Lula divulgou nota ontem que "reafirma que não estuda mudanças na política econômica, que é de sua responsabilidade, nem na pessoa escolhida por ele para conduzi-la, o ministro Antonio Palocci".
A eventual substituição de Palocci é uma operação complicada. Lula está disposto a segurá-lo no cargo mesmo com a continuidade do bombardeio -acusações de corrupção, pressão pelo aumentos de gastos e críticas de membros do governo e aliados à sua política econômica. Palocci, porém, avalia que, a depender da evolução da crise política, continuará a ver seu poder definhar e será levado a deixar o posto "humilhado". O ministro disse a Lula que, nessa hipótese, atrapalharia a economia e seria melhor sair logo. Nesse contexto, Mercadante virou a melhor opção para Lula.
O ministro da Fazenda saiu de Brasília no final de semana. A tendência é que retorne na quarta-feira e fale com Lula, mas pode ficar mais uns dias de folga.
Mercadante se aproximou muito de Palocci nas últimas semanas. Atuou como bombeiro na crise do ministro com Dilma Rousseff (Casa Civil). Sua escolha agradaria ao PT, que resiste a um nome como o secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal.
Mais: Mercadante manteria a equipe e a política de Palocci. Deixaria claro que não suavizaria o rigor fiscal -meta de superávit primário de 4,25% do PIB. Como o Banco Central deu início a processo de redução dos juros, Mercadante não precisaria comprar briga na política monetária. Além disso, a escolha de Henrique Meirelles foi sugestão do senador.
Um dos poucos caciques petistas que têm sido preservados no escândalo do "mensalão" e político que nunca ocupou cargo executivo, Mercadante teria, na visão de Lula, poucos ou nenhum flanco para ser atacado em sua honra. No Senado, conquistou o respeito da oposição e do PMDB -partido que reclama muito de Palocci.
Resumo: Mercadante reúne a condição de petista, o trânsito com o empresariado, bom relacionamento com a oposição e o PMDB e a decisão de manter o rumo econômico de Palocci.

Efeito José Dirceu
Avaliando que cumpriu sua missão como ministro da Fazenda e que dificilmente aprofundará o ajuste fiscal como gostaria, Palocci analisa a possibilidade de deixar a Fazenda enquanto ainda tem cacife na política e perante os empresários. Submergiria por seis meses e veria o que fazer da vida em 2006, ano eleitoral.
Palocci disse a Lula que não deseja repetir a "experiência" de José Dirceu, que deixou a Casa Civil em junho após um ultimato de Roberto Jefferson no Congresso. Ele avalia estar vivendo um processo de desgaste parecido.
Palocci teve uma conversa franca com Lula. Chegou a dizer que há problemas de ordem familiar envolvidos no seu desgaste na crise e que não deseja atrapalhar a vida pessoal de seus parentes. Mais: pensa que perdeu a chance de ser candidato a presidente ou a governador de São Paulo em razão das acusações de corrupção.
Os promotores de Ribeirão Preto (SP), da qual foi prefeito duas vezes, têm avançado na investigação sobre atos de suas administrações. O ex-assessor na prefeitura Rogério Buratti tem municiado o Ministério Público e a imprensa.


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