São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Henrique Meirelles anuncia renúncia da Câmara e desligamento do PSDB

Crescimento é a meta, diz futuro presidente do BC

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Anunciado com tratamento tradicionalmente dispensado a ministros políticos, o futuro presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, 57, ex-presidente mundial do BankBoston e deputado eleito pelo PSDB goiano, prometeu dar o melhor de si para "fazer o Brasil crescer".
"A finalidade principal de qualquer política econômica é o crescimento. O resto são meios para chegar lá", disse, na entrevista concedida na Granja do Torto.
Ainda que se trate de uma quase obviedade, a frase é pouco ouvida de presidentes de bancos centrais, mais dados a enfatizar a prioridade no combate à inflação -que muitas vezes exige sacrificar o crescimento desejado.
Meirelles, que assumirá o cargo cuja definição vinha sendo a principal preocupação do mercado financeiro, mereceu a deferência de ter seu nome anunciado pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, no mesmo dia da confirmação dos dois principais ministros, José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci Filho (Fazenda).
A mesa contava ainda com a mulher de Meirelles, Eva, a mulher de Lula, Marisa, e o senador eleito Aloizio Mercadante (PT-SP). Lula, que iniciou as apresentações, brincou com a ansiedade dos investidores: "Quanto menos falar, mais o dólar cai" -o dólar subiu ontem, influenciado pela reação à indicação para o BC.
"Quero dizer ao povo de Goiás, que o fez o deputado mais votado nessas eleições pelo Estado, que estou reivindicando aos eleitores do Meirelles o direito de convocá-lo para uma função agora mais importante que o nobre exercício do mandato de deputado", afirmou o presidente eleito.

Praxe rompida
Meirelles rompeu uma praxe seguida por seus antecessores, a de evitar declarações antes de ter o nome aprovado pelo Senado. Mas disse que, em respeito aos senadores, não anteciparia opiniões ou medidas a serem adotadas na economia. Ainda assim, ofuscou José Dirceu, o outro anunciado do dia -Palocci já havia sido confirmado por Lula na viagem aos EUA. Das cinco perguntas autorizadas aos jornalistas, apenas uma foi parcialmente dirigida ao futuro chefe da Casa Civil.
Nas respostas genéricas que deu, Meirelles escapou da questão sobre o papel de um tucano ligado ao mercado financeiro no comando do órgão mais importante do Executivo em um governo que prometeu mudanças.
Anunciou que renunciaria ao mandato de deputado, uma exigência constitucional, e se desligaria do PSDB. Disse ter respeito pelo partido e amizade pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, mas também "grande afinidade com o PT".
Meirelles é caso raro no mercado de grande executivo que nunca tratou com alarmismo ou antipatia a candidatura de Lula. Mesmo em 94, quando o PT tinha um discurso bem mais à esquerda que o atual, o então presidente do BankBoston não fazia mais que críticas pontuais às propostas do partido.
Ontem, prestes a ser indicado a um posto para o qual não foi a primeira opção petista, Meirelles disse que recebeu do governo eleito as garantias que considera necessárias para exercer a função. Não ficou claro, porém, se as tais garantias são a autonomia operacional desejada pelo mercado.
O nervosismo dos investidores foi minimizado por Meirelles, que diferenciou "movimentações de superfície de fundamentos" -a alta do dólar, de acordo com esse raciocínio, se enquadraria no primeiro caso.
Meirelles disse que voltava a seu "habitat natural", a área financeira, interrompendo sua curta incursão pela política. Curiosamente, seu futuro chefe, Palocci, é um político profissional recém-iniciado no mundo das finanças.
Se aprovado a tempo pelo Senado, Meirelles assumirá o BC em 2 de janeiro de 2003 sem uma equipe definida. Os atuais diretores, como anunciou o presidente do BC, Armínio Fraga, permanecerão nos seus cargos até que seus substitutos sejam definidos e submetidos aos senadores.
A atuação de Fraga na transição mereceu elogios e agradecimentos de Lula e Palocci. O presidente eleito sempre descartou publicamente a hipótese de mantê-lo no BC, enquanto Palocci, nos bastidores, flertou com a idéia.
A indicação de Meirelles deve ser publicada na segunda-feira no "Diário Oficial" da União.


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