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TRANSIÇÃO
Henrique Meirelles anuncia renúncia da Câmara e desligamento do PSDB
Crescimento é a meta, diz futuro presidente do BC
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Anunciado com tratamento tradicionalmente dispensado a ministros políticos, o futuro presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, 57, ex-presidente
mundial do BankBoston e deputado eleito pelo PSDB goiano,
prometeu dar o melhor de si para
"fazer o Brasil crescer".
"A finalidade principal de qualquer política econômica é o crescimento. O resto são meios para chegar lá", disse, na entrevista
concedida na Granja do Torto.
Ainda que se trate de uma quase
obviedade, a frase é pouco ouvida
de presidentes de bancos centrais,
mais dados a enfatizar a prioridade no combate à inflação -que
muitas vezes exige sacrificar o
crescimento desejado.
Meirelles, que assumirá o cargo
cuja definição vinha sendo a principal preocupação do mercado financeiro, mereceu a deferência de
ter seu nome anunciado pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da
Silva, no mesmo dia da confirmação dos dois principais ministros,
José Dirceu (Casa Civil) e Antonio
Palocci Filho (Fazenda).
A mesa contava ainda com a
mulher de Meirelles, Eva, a mulher de Lula, Marisa, e o senador
eleito Aloizio Mercadante (PT-SP). Lula, que iniciou as apresentações, brincou com a ansiedade dos investidores: "Quanto menos
falar, mais o dólar cai" -o dólar
subiu ontem, influenciado pela
reação à indicação para o BC.
"Quero dizer ao povo de Goiás,
que o fez o deputado mais votado
nessas eleições pelo Estado, que
estou reivindicando aos eleitores
do Meirelles o direito de convocá-lo para uma função agora mais
importante que o nobre exercício
do mandato de deputado", afirmou o presidente eleito.
Praxe rompida
Meirelles rompeu uma praxe seguida por seus antecessores, a de
evitar declarações antes de ter o
nome aprovado pelo Senado. Mas
disse que, em respeito aos senadores, não anteciparia opiniões
ou medidas a serem adotadas na
economia. Ainda assim, ofuscou
José Dirceu, o outro anunciado do
dia -Palocci já havia sido confirmado por Lula na viagem aos
EUA. Das cinco perguntas autorizadas aos jornalistas, apenas uma
foi parcialmente dirigida ao futuro chefe da Casa Civil.
Nas respostas genéricas que
deu, Meirelles escapou da questão
sobre o papel de um tucano ligado
ao mercado financeiro no comando do órgão mais importante do
Executivo em um governo que
prometeu mudanças.
Anunciou que renunciaria ao
mandato de deputado, uma exigência constitucional, e se desligaria do PSDB. Disse ter respeito pelo partido e amizade pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, mas também "grande afinidade com o PT".
Meirelles é caso raro no mercado de grande executivo que nunca
tratou com alarmismo ou antipatia a candidatura de Lula. Mesmo
em 94, quando o PT tinha um discurso bem mais à esquerda que o
atual, o então presidente do BankBoston não fazia mais que críticas
pontuais às propostas do partido.
Ontem, prestes a ser indicado a
um posto para o qual não foi a primeira opção petista, Meirelles disse que recebeu do governo eleito
as garantias que considera necessárias para exercer a função. Não
ficou claro, porém, se as tais garantias são a autonomia operacional desejada pelo mercado.
O nervosismo dos investidores
foi minimizado por Meirelles, que
diferenciou "movimentações de
superfície de fundamentos" -a
alta do dólar, de acordo com esse
raciocínio, se enquadraria no primeiro caso.
Meirelles disse que voltava a seu
"habitat natural", a área financeira, interrompendo sua curta incursão pela política. Curiosamente, seu futuro chefe, Palocci, é um
político profissional recém-iniciado no mundo das finanças.
Se aprovado a tempo pelo Senado, Meirelles assumirá o BC em 2
de janeiro de 2003 sem uma equipe definida. Os atuais diretores,
como anunciou o presidente do
BC, Armínio Fraga, permanecerão nos seus cargos até que seus
substitutos sejam definidos e submetidos aos senadores.
A atuação de Fraga na transição
mereceu elogios e agradecimentos de Lula e Palocci. O presidente
eleito sempre descartou publicamente a hipótese de mantê-lo no
BC, enquanto Palocci, nos bastidores, flertou com a idéia.
A indicação de Meirelles deve
ser publicada na segunda-feira no
"Diário Oficial" da União.
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