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TRANSIÇÃO
Acréscimo na arrecadação veio de aprovação da MP 66 e do aumento da Cide em sessão de mais de 12 horas na Câmara
"Dia da Derrama" dá mais de R$ 5 bi a Lula
LUCIO VAZ
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em sessão que durou mais de 12
horas e entrou pela madrugada de
ontem, a Câmara aprovou um pacote de medidas que prorroga e
aumenta impostos em 2003, gerando arrecadação adicional de
mais de R$ 5 bilhões para o governo Luiz Inácio Lula da Silva. Foi o
"Dia da derrama", segundo o líder do PTB, Roberto Jefferson
(RJ).
Ele se referia à "Noite da Derrama", episódio ocorrido em 1789,
quando Portugal cobrou de uma
só vez do Brasil o pagamento de
impostos atrasados. Vila Rica,
produtora de ouro, pagou uma
tonelada e meia do metal à Coroa.
Além de concluir a votação da
medida provisória 66, que prorroga as alíquotas de 27,5% do
IRPF (Imposto de Renda da Pessoa Física) e de 9% da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), a Câmara ampliou o teto
de cobrança da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio
Econômico) de R$ 0,50 por litro
de gasolina para R$ 0,86.
A aprovação das medidas garantirá receita no Orçamento de
2003 para atender as emendas
propostas pelo PT. O líder do partido na Comissão de Orçamento,
deputado Jorge Bittar (RJ), explicou que isso permitirá a criação
de uma "reserva de risco fiscal" de
R$ 4 bilhões, que, entre outras
despesas, financiará um aumento
real do salário mínimo. "Poderá
eventualmente ser um aumento
para R$ 240. Mas a definição do
valor só acontecerá em abril do
ano que vem."
Outros R$ 4 bilhões serão alocados em gastos sociais como o Fome Zero e programas de habitação. Mas, para aprovar a MP 66, o
PT teve que ceder mais R$ 2 bilhões aos Estados com a prorrogação do fundo de compensação
da Lei Kandir.
"Ectoplasmas"
O aumento da Cide foi feito de
improviso, já na madrugada, sem
que os deputados tivessem cópias
do texto a ser votado. O deputado
José Thomaz Nonô (PFL-AL)
protestou. "Não posso votar ectoplasmas. Não há texto, e não havendo texto, não há o que votar."
O relator Eliseu Resende (PFL-MG) redigiu à mão o dispositivo
que vincula o gasto de 75% da
contribuição a investimentos no
setor de transporte. Em 2003, Lula
poderá usar o dinheiro para pagar
pessoal e juros da dívida relacionada ao setor de transporte.
Dos cerca de R$ 8 bilhões a serem arrecadados com a Cide, ainda sobrará dinheiro para compor
uma reserva de contingência,
contribuindo para o superávit
primário de 3,75% do PIB (Produto Interno Bruto) exigido pelo
FMI (Fundo Monetário Internacional) para 2003. O governo poderá ainda alterar o percentual a
ser investido em transportes na
votação do PPA (Plano Plurianual) em abril do próximo ano.
O deputado Arnaldo Faria de Sá
(PTB-SP) ironizou o novo governo: "Na calada da noite vamos aumentar a Cide, que até outro dia
alguns nem sabiam o que era.
Aprenderam rápido". Ele citava o
debate ocorrido durante a campanha em que Lula, questionado
por Anthony Garotinho (PSB),
demonstrou desconhecer a Cide.
O PFL fracassou ao tentar barrar a prorrogação da alíquota do
IRPF (arrecadação de R$ 950 milhões) e a manutenção da alíquota
da CSLL (R$ 1,1 bilhão).
Jefferson, aliado do governo Lula, citou uma frase do presidente
Washington Luiz, "Governar é
construir estradas". "Pelo que sinto hoje, governar é criar impostos.
Hoje foi o "Dia da Derrama" na
Câmara. A sociedade que nos julgue", disse. A "Noite da Derrama"
encerrou às 2h42 de ontem.
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