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QUESTÃO SOCIAL
Projeto analisa participação da sociedade
Governo decepciona ONGs e não ouve demandas sociais, diz estudo
LUCIANA BRAFMAN
DA SUCURSAL DO RIO
O governo do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva é incapaz de
escutar as demandas populares
que ecoam pelo país. Esta é uma
das conclusões do projeto Mapas
(Monitoramento Ativo da Participação da Sociedade), elaborado
por 13 organizações não-governamentais e coordenado pelo Ibase
(Instituto Brasileiro de Análises
Sociais e Econômicas).
O projeto analisou canais de
participação da sociedade na elaboração de políticas públicas e 11
conflitos sociais no país -do desmatamento da Amazônia à segurança no Rio de Janeiro.
O constatado "desinteresse" do
governo petista em dar voz aos
movimentos de base vem acompanhado de um sentimento de
frustração por parte dos organizadores do estudo e participantes
do seminário "Caminhos e Descaminhos da Democracia", que
ocorreu ontem no Rio de Janeiro
para divulgar o Mapas.
Fundador do PT, Plínio de Arruda Sampaio afirmou que o projeto documenta os motivos que o
levaram a deixar o partido em setembro deste ano. "Não há nem a
intenção de promover uma transformação social. O governo deixou de dialogar com o setor popular. Ele seduz, oferece migalhas,
mas não dialoga. Com a classe dominante está dialogando bem, de
modo fraterno", afirmou.
Questionado sobre uma possível escolha entre PT e PSDB na
próxima eleição, Sampaio demonstrou decepção. "Prefiro ir
para as ruas fazer a revolução ou
ir embora para o Paraguai."
O diretor do Ibase, Cândido
Grzybowski, disse que o espaço
que o governo dá é fruto da retórica petista, mas "não vai além, não
resulta em conseqüências práticas". "Acho que o PT vai virar o
PMDB. Uma máquina de ganhar
eleições aqui e ali, mas sem um
projeto para mudar o país."
Grzybowski destacou que a forte expectativa com o governo Lula
não se concretizou. "Este governo
não é o início de uma nova etapa,
mas o fim de uma." Segundo ele,
os conflitos sociais devem aumentar pela falta de resposta às
demandas da sociedade.
Uma das áreas onde o governo
mais teria "decepcionado" foi a
do meio ambiente. O fato de ter
apoiado os transgênicos ilustraria
a falta de comprometimento com
os apelos da sociedade civil, que
se manifestou contra esses produtos durante a Conferência Nacional do Meio Ambiente.
O processo do Plano Plurianual
de Investimentos (PPA) foi também considerado pífio: "O processo de consultas do PPA resultou decepcionante, pois, além de
problemas de desorganização, logística, continuidade e legitimação, entre outros, o PPA foi, no
Congresso Nacional, submetido
pelo governo federal à lógica do
superávit primário, e acabou não
contribuindo para a construção
de um projeto de desenvolvimento nacional", diz o documento.
A deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), que ficou por 17
anos no PT, criticou as alianças
que seu ex-partido fez quando
chegou ao poder.
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