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FBI mandou "isca" ao Brasil para mapear extremistas
Informante esteve com representante de sociedade árabe em Curitiba em 2005
Polícia federal americana não comenta o caso; sírio naturalizado brasileiro diz que houve o encontro, mas contesta teor de conversa
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O FBI, a polícia federal norte-americana, ajudou a bancar
a ida ao Brasil de um radialista e
blogueiro radical de extrema
direita de Nova Jersey como isca para atrair e identificar grupos extremistas brasileiros
contrários aos Estados Unidos,
de acordo com pessoas que tiveram acesso a documentos do
governo norte-americano.
Harold "Hal" Turner, 47, viajou a Curitiba, no Paraná, em
2005, onde se apresentou como líder da National Alliance,
um dos maiores grupos de supremacistas brancos dos EUA.
Ali, se encontrou com um
simpatizante brasileiro, com
quem teria discutido doação de
US$ 1 milhão à causa americana, e com um representante da
Sociedade Árabe Brasileira.
De acordo com tais documentos, Turner e o representante árabe discutiram um plano para mandar US$ 10 milhões em ajuda não militar para membros da resistência iraquiana anti-EUA. Segundo relatou à Folha uma fonte familiarizada com o caso, o representante teria dito a Turner que
ajudaria a "fazer qualquer coisa
que possa sabotar os EUA".
A reportagem apurou que o
representante a que se referem
os documentos é o sírio naturalizado brasileiro Mouthi Ibrahim, presidente da Sociedade
Árabe Brasileira. Procurado
pelo jornal em Curitiba, ele
confirma o encontro, mas contesta veementemente seu teor.
De acordo com Ibrahim,
Turner lhe disse apenas que
queria estabelecer uma filial da
National Alliance no Brasil e
que buscava o apoio da comunidade árabe local. O brasileiro
disse não ter concordado com
ele porque as ideias do norte-americano eram muito racistas.
A ida ao Brasil de um informante do FBI só veio à tona
porque o radialista foi preso
em junho deste ano pela própria polícia, após postar comentários em seu blog pedindo
a morte de três juízes de um
tribunal federal de apelação
baseado em Chicago, Illinois.
Turner se irritou com a decisão dos juízes de manter a restrição ao porte de armas naquela cidade. Atualmente sendo julgado em tribunal de Nova
York, o radialista se defende dizendo que apenas cumpria
acordo feito com o FBI, de incitar radicais a se mostrarem em
público para que a polícia federal pudesse investigá-los.
Seus advogados dizem que,
ao fazer os comentários violentos, ele exercia o direito de se
expressar livremente garantido pela Primeira Emenda da
Constituição norte-americana.
Já a Promotoria recusa ambas
as teses e afirma que se trata de
"terrorista doméstico" que incitava seus fãs à violência.
Seu papel de informante nesse e em outros casos foi revelado no dia 3 em reportagem de
Mike Kelly e Peter J. Sampson
do jornal "The Register", do
norte de Nova Jersey, onde o
radialista vive. Segundo documentos do governo norte-americano a que o jornal teve acesso, o FBI pagou pela renovação
do passaporte e pelo visto brasileiro do radialista.
O jornal não menciona o nome do representante brasileiro
com quem ele se encontrou
nem a cidade do encontro.
Contatados pela Folha, o advogado de defesa de Turner e
os escritórios do FBI em Nova
Jersey e Nova York e a sede da
polícia em Washington não comentaram o caso, que está sob
sigilo judicial. A Promotoria
distrital leste de Nova York não
respondeu ao jornal.
O caso teve nova sessão marcada para março do ano que
vem, depois de dissolução do
júri na semana passada por falta de unanimidade -nove inocentavam Turner, contra três
que o consideravam culpado.
Em agosto, antes que o sigilo
judicial fosse ordenado, indagado sobre o papel de informante de Turner junto à polícia federal norte-americana, o
porta-voz Richard Kolko disse:
"Política do FBI proíbe que seja revelado quem provê ou não
informações" ao órgão.
É sabido que o governo dos
EUA suspeita já há alguns anos
de atividade de grupos extremistas islâmicos no Brasil,
principalmente na zona da tríplice fronteira (Brasil-Argentina-Paraguai), no Sul do país.
Sabe-se também que o FBI
tem a prática de infiltrar pessoas em organizações suspeitas
e as incitar a cometer ilegalidades. A novidade é o envio de informante a países como o Brasil para identificá-las.
Na seção sobre o país no relatório anual de terrorismo, de
maio, o Departamento de Estado afirma que "os EUA continuam preocupados com [a possibilidade de] simpatizantes
dos grupos Hamas e Hizbollah
terem levantado fundos na região ao participar de atividades
ilícitas e ao solicitar doações da
numerosa comunidade proveniente do Oriente Médio".
O governo brasileiro nega
que haja atividades de grupos
extremistas no país.
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