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foco
Com buchada de bode, tia Zélia fisga estômago e ganha amizade de Lula
ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL
De tempos em tempos, o
presidente Lula recebe em
sua casa em São Bernardo do
Campo um isopor com porções generosas de buchada
de bode. A iguaria, uma das
suas favoritas, vem sob encomenda do fogão da tia Zélia,
56, dona de um restaurante
na Vila Planalto, em Brasília.
Desde o primeiro mandato, sempre que tem vontade
de comer buchada, Lula recorre a Zélia. Ela já preparou
o prato para festas com autoridades e de família ou para
almoços rápidos -mas de
lenta digestão- no Planalto.
Tudo começou com um
comentário de um assessor
dele, que foi almoçar no Tia
Zélia, o restaurante. Diante
dos elogios à buchada, o presidente começou a pedir
marmitas. Descobriu outras
maravilhas preparadas por
ela: vaca atolada, feijão tropeiro e musse de tamarindo.
Pego pelo estômago, o presidente quis conhecer tia Zélia. Ela foi ao Planalto, tiraram fotos, ficaram amigos. "Lula é maravilhoso, é o presidente internacional do
Brasil", diz a nordestina que
chegou a Brasília há mais de
30 anos, ainda como Maria
de Jesus Oliveira da Costa.
Em outubro, ela estava entre os convidados da festa de
aniversário dele.
Em um dos encontros, Lula
perguntou o que podia fazer
por ela. Tia Zélia, que é da opinião de que "a gente não vai
no presidente para pedir",
tentou desconversar. Acabou
falando. "Só quero que o Arruda me deixe trabalhar em
paz com o puxadinho que eu
fiz aqui, que eles estão me incomodando", disse, em referência às tendas que armou
para a clientela em frente ao
restaurante. Eram ameaçadas pelos fiscais do governo
de José Roberto Arruda (DF).
"Se foi o Lula [que intercedeu] ou não foi, eu não sei. Só
sei que não mexeram mais
comigo", afirma ela.
Ao comentar o escândalo
envolvendo Arruda, gravado
em vídeo recebendo um maço
de notas e, em conversas telefônicas, discutindo suposta
distribuição de dinheiro a
aliados, tia Zélia diz que nunca simpatizou com ele. "Graças a Deus, nunca veio aqui."
A buchada, preparada com
estômago e miúdos de bode
que cozinham por até sete horas, saiu do cardápio do restaurante. Hoje, só por encomenda. Quem almoça no Tia
Zélia pode provar oito pratos
nada leves. Entre eles, javali,
carneiro, feijoada e leitão.
No salão rústico, estão espalhadas fotos do presidente,
abraçado a Zélia ou em pose
oficial, autografada. O restaurante lota de terça a quinta,
quando políticos e funcionários públicos são maioria.
Não é a primeira vez que a
Vila Planalto, bairro dos pioneiros de Brasília, esconde
cozinheiros diletos de presidentes. Próximo do Tia Zélia
fica o Rosental, que foi do cozinheiro de Juscelino Kubitschek. Rosental morreu em
2005, mas o restaurante segue uma tradição na cidade.
Para agradecer o apoio dos
políticos e amigos, tia Zélia
oferece uma vez ao ano o que
chama de "almoço 0800", em
que não cobra nada dos 300
convidados. "Vem gente muito bonita, de todos os ministérios da Esplanada", diz.
O deste ano será na terça-feira. "Vou preparar um carneiro que o prefeito de São
Bernardo, o [Luiz] Marinho,
me mandou", diz ela. "E também uma leitoa que eu ganhei
do pessoal da Infraero." Para
completar, pudim de leite.
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