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RELIGIÃO
Secretário-geral afirma que é positivo atrair mais fiéis, mas critica excesso de emocionalismo nas celebrações
CNBB faz "ressalvas" à atuação de padre
PATRICIA ZORZAN
da Reportagem Local
O secretário-geral da CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil), dom Raymundo Damasceno, define como "positivo"
o fato de padre Marcelo Rossi estar
atraindo fiéis à igreja, mas ressalta
a importância de um compromisso social do catolicismo e critica o
excesso de emoção durante as celebrações. "Agora parece que a sociedade, não é só a igreja, está dando importância demasiada aos
sentimentos, à emoção. A TV vive
um pouco disso, de despertar a
emoção, o sentimento das pessoas."
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
²
Folha - Como o sr. avalia a atuação do padre Marcelo Rossi?
Raymundo Damasceno - É importante entender essa atuação do
padre Marcelo dentro do Movimento da Renovação Carismática
Católica. Algumas características
desse movimento são a valorização da oração comunitária, a expressão corporal e a ação missionária dos leigos. Outra característica é esse esforço de utilizar os
meios de comunicação para a ação
da igreja. Creio que também o movimento tem resgatado e recuperado certas devoções tradicionais como a reza do terço e a adoração ao
santíssimo sacramento. Mas é importante que todos exerçam sua
atividade dentro de uma pastoral
de conjunto, inserida na diocese,
na igreja local onde eles atuam.
Em relação à atuação do padre
Marcelo, o que a gente tem visto é
que ele tem conseguido reunir
uma grande massa de gente para
rezar e cantar.
Folha - Mas o fato de ele fazer
uso de elementos como a dança e
o canto, que são semelhantes aos
dos evangélicos...
Damasceno - Isso não é exclusivo
das igrejas evangélicas. O Movimento da Renovação Carismática
Católica tem suas origens no pentecostalismo evangélico. Evidentemente ele assumiu certas atitudes e
certos comportamentos próprios
desses grupos.
Não só o padre Marcelo, mas outros também têm se caracterizado
por essa capacidade de reunir muita gente para rezar, para louvar a
Deus, para cantar. Isso é positivo,
evidentemente. Mas eu diria que
não é o único caminho que a igreja
tem para evangelizar.
Folha - A opção dele conquista
mais adeptos?
Damasceno - Não sei. Vamos ver
no futuro. Você mede o resultado
pela aglomeração de pessoas ou
pelos frutos que perduram e permanecem? A televisão, o rádio e o
jornal não são a única maneira de
evangelizar. A igreja usa? Usa. São
ótimos? São. Mas não são únicos.
Folha - Hoje esses novos métodos têm melhores resultados?
Damasceno - Não se pode dizer.
Cada um tem uma metodologia diferente. Ele (padre Marcelo) está
procurando atingir uma massa.
Esse talvez seja um objetivo. Alcançar pessoas que, por meio de
outros caminhos, talvez não fossem atingidos e que são alcançados
pela TV, pelo rádio e pela imprensa. Talvez não sejam alcançados,
por exemplo, em um ambiente
mais restrito da igreja, da celebração litúrgica em um templo.
Tem de ter isso claro porque senão daqui a pouco parece que o padre Marcelo é que resolveu todo o
problema da igreja. O padre Marcelo tem um talento, mas não é
modelo para todos os padres. Isso
depende de talento, de carisma, de
dom e da realidade do trabalho de
cada um.
Folha - O que o sr. acha do fato
de fiéis atribuírem curas a ele?
Damasceno - Quem faz o milagre
é Deus. Nós não fazemos milagres.
Além do milagre físico há o milagre, muito mais importante, que é
o espiritual, de conversão das pessoas para o evangelho, para Cristo.
Isso é fundamental. É o dom da fé.
Folha - Mas há pessoas que dão
testemunhos de curas físicas.
Damasceno - Não estou negando
também que haja possibilidade de
milagre. Nós acreditamos em milagre. Mas digo que quem faz é
Deus. E tem de verificar se o que
está acontecendo é milagre mesmo, se ele está fazendo milagre ou
não. Não é simplesmente dizer que
aconteceu milagre para todo o lado. Não é que eu negue o milagre.
O milagre pode existir.
Folha - A igreja se preocupa com
a transformação de padre Marcelo
em um homem de espetáculo?
Damasceno - Nas celebrações litúrgicas, é importante distinguir a
celebração eucarística da missa,
que tem normas que orientam a
cerimônia em toda a igreja e em todo o mundo, de encontros de oração em que não há regras para expressar a religiosidade, como são
essas assembléias grandes de massa. Isso é diferente.
Folha - Mas mesmo nas missas
são praticados cantos e danças.
Damasceno - Não sei se ele está
fazendo isso porque não estou
acompanhando. Quem acompanha é o bispo dele. Mas faço essa
distinção. O sacerdote que preside
essas celebrações e que está inserido na igreja está inserido em um
presbitério, sob a direção de um
bispo da igreja local. Isso supõe
que ele tenha critérios e discernimento para saber até onde pode ir
a sua atuação. Também é importante dizer que a nossa fé tem de
ser traduzida em um compromisso social para que não seja uma religião intimista, subjetivista, encerrada dentro de um templo e que
seja apenas a expressão emocional,
sentimental, superficial de um momento. Agora parece que a sociedade, não é só a igreja, está dando
importância demasiada aos sentimentos, à emoção. A TV vive um
pouco disso, de despertar a emoção, o sentimento das pessoas.
Folha - O que padre Marcelo faz
está dentro dos padrões da igreja?
Damasceno - Contanto que você
coloque tudo o que disse anteriormente. Fiz uma série de ressalvas.
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