São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2001

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CASO TRT

Recursos teriam sido retirados de contas descobertas há quase 2 anos

Recuperação de dinheiro do fórum é pouco provável

MALU GASPAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O trabalho da força-tarefa montada pelo governo federal para recuperar o dinheiro desviado da obra do TRT de São Paulo tem chances quase nulas de trazer de volta ao Brasil ao menos um centavo além do que já foi conseguido: o confisco do apartamento do ex-juiz Nicolau dos Santos Neto em Miami e o bloqueio dos US$ 3,8 milhões que restam em suas contas na Suíça.
Enquanto os funcionários do Ministério Público, do Ministério da Justiça, da AGU (Advocacia Geral da União) e de outros órgãos se debruçam sobre as mais de mil páginas de extratos bancários das contas de Nicolau e do ex-senador Luiz Estevão no exterior, os recursos já estão bem protegidos em novas contas ainda desconhecidas.
A revelação é do ex-gerente da área internacional do Banco Noroeste Nelson Sakagushi, responsável pela movimentação das contas do ex-juiz no exterior.
Segundo Sakagushi, o dinheiro já saiu há quase dois anos das contas que estão sendo descobertas agora.
"Logo depois de todo esse escândalo, os advogados foram tomando todas essas providências e foram encerrando (as contas). Os advogados mesmo encerram", afirmou o ex-gerente.
O escândalo do fórum trabalhista ganhou repercussão com a suspensão dos repasses de verbas do governo federal para a obra, em outubro de 98. Dos R$ 232 milhões enviados para as contas da construtora Incal, R$ 169,5 milhões não haviam sido gastos com o prédio.

Rombo
Já Sakagushi saiu do Noroeste em 99, quando o novo controlador do banco, o espanhol Santander, descobriu numa auditoria um rombo de R$ 240 milhões na contabilidade.
Os novos controladores responsabilizaram Sakagushi e mais quatro funcionários de sua área pela fraude.
O ex-gerente cuidou das contas de Nicolau por dois anos, de 97 a 99. Ele diz ter conhecido o juiz por intermédio de um amigo comum, também juiz do trabalho. Enquanto Nicolau esteve foragido, Sakagushi foi uma das pessoas monitoradas pela Polícia Federal para tentar conseguir pistas.
Seu depoimento coincide com o que os membros da força-tarefa têm encontrado nos extratos bancários: muitos rastros de movimentação, mas nenhum dinheiro. Com exceção das contas na Suíça, bloqueadas pelo próprio governo suíço logo no começo do escândalo, todas as outras já haviam sido esvaziadas.
Um exemplo da ação dos advogados que trabalhavam para o Noroeste na montagem de "off shores" (empresas com sede no exterior que em geral servem para mascarar os verdadeiros donos de contas bancárias) é o caso da Ontario Financial Ltd., uma das empresas montadas por Nicolau.
Aberta nas Ilhas Virgens Britânicas em 96, a Ontario manteve uma conta no Sun Trust Bank de Miami até novembro de 1998, um mês depois de os repasses de dinheiro público para a obra do fórum terem sido suspensos.
Dali o dinheiro foi remetido para outras contas bancárias que os membros da força-tarefa ainda tentam rastrear.

Fuga
Os investigadores suspeitam que parte desse dinheiro tenha inclusive servido na fuga do ex-juiz, tendo sido movimentada pela filha mais velha de Nicolau e por seu companheiro.
Na reunião da força-tarefa realizada na quarta-feira passada, o clima era de desânimo com o diagnóstico, feito pelos próprios membros do grupo, de que é quase impossível encontrar dinheiro vivo com o rastreamento.
Há ainda quem acredite que parte desse dinheiro pode ser recuperada. Um funcionário do Ministério da Justiça diz que a estratégia é continuar achando contas e quebrando os sigilos. Até que, acredita, o dinheiro apareça.
No entanto, para um dos procuradores da AGU que trabalham com a força-tarefa, o rastreamento continua sendo útil para conseguir mais provas de crimes cometidos pelos responsáveis pelo desvio e encontrar mais personagens envolvidos com o escândalo.
O cálculo da força-tarefa é que os bens bloqueados de Luiz Estevão e de Nicolau valham, no total, cerca de R$ 300 milhões.
Muitos desses bens, principalmente os do ex-senador, estão alienados ou foram oferecidos em penhora devido a dívidas de suas empresas com o fisco. Mesmo assim, os membros da AGU acreditam que, dessa forma indireta, será possível recuperar o dinheiro desviado.


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